bleed out.

698 100 52
                                    

Pov Luísa.

- Você já tomou seus remédios? - Minha mãe pergunta sentada na minha frente - Comeu alguma coisa?

- Os remédios não estão fazendo efeito - Falo tirando a sua mão - Todo mundo sabe que não adianta de nada.

- Não começa, Lu - Marília sussura do meu lado - Por favor, não começa.

- Mas não adianta de nada, Lila - Dou de ombros - É como se eu tivesse correndo uma corrida sem a linha de chegada.

- Você não desmaiou mais - Minha mãe tenta chamar a minha atenção - Não perdeu mais cabelo.

- Mas me sinto fraca e estou emagrecendo - Fingo animação - Estou super feliz.

- Vamos começar o tratamento essa semana...

- Não vou fazer - Me levanto irritada - Eu perdi um ano da minha vida, naquele hospital, esse pode ser o último, não vou conseguir ficar lá parada olhando para vocês.

- Não é o último - Marília briga comigo - Para de falar assim, não é o último.

- Lila... você ouviu o médico.

Os olhos da minha irmã se enchem de lágrimas e ela sai de perto de mim, batendo a porta com força. Talvez a única pessoa que vai sentir a minha partida é ela. Respiro fundo e deixo a minha mãe para trás, entrando no meu quarto e deito na minha cama.

Antes de dormir, decido fazer a única coisa que eu gosto de fazer, a única coisa que me mantém viva, pelo menos por agora.

" Sei que estou distante, mas ainda quero te compensar...

Por mais que a viagem não foi uma das melhores, eu pude ver várias paisagens maravilhosas e me lembraram você. Eu tirei algumas polaroids que se você quiser, pode guardar de recordação, são lindas assim como o seu sorriso e pode ter certeza que eu amo muito ele, talvez mais do que eu ame muitos familiares ao meu redor.

Pode parecer besteira, mas Romeu é Julieta são fichinha comparado ao que eu sinto por você.

Me desculpa por estar tão distante, mas meu coração sempre vai te acompanhar."

É, Maiara... você é a única coisa boa na minha vida.

Foi tão bom nosso momento juntas hoje, ver seu jeito irritadinho por mim simplesmente não concordar com seus gostos, o jeito que seus olhos procuram os meus quando você faz uma pergunta e o seu jeito curioso quando eu te entreguei o livro, pelo menos você vai voltar, nem que seja para me devolver o livro.

Fecho a carta e coloco em cima da minha cômoda e arrumo a minha cama para dormir. Minha vida está tão ruim, que só de ouvir a voz da morena, eu acabo dormindo com mais facilidade do que os outros dias.

///

- Você está com frio? - Marília pergunta beijando a minha testa - Quer alguma coisa?

- Eu tô bem - Sorrio fraco - Só... estou com muito frio.

- Eu vou buscar seu café - Ela fala alisando meu rosto - E trazer seus remédios.

- Eu posso ir lá, Lila...

- Eu pego para você, tenta... tenta ficar quentinha.

Concordo com a cabeça e me encolho na cama, tentando me esquentar. Odeio esses sintomas da quimioterapia, me deixam fraca, como se eu nunca fosse melhorar. Fecho meus olhos por longos minutos, tentando esquecer esse pesadelo, até alguém abrir a porta com força.

Love lettersOnde histórias criam vida. Descubra agora