happier.

656 101 39
                                    

Pov Luísa.

- Você não quer ir no médico? - Minha mãe me pergunta - Acho que é melhor.

- Não... só me deixa aqui quietinha - Sorrio fraco - Não quero sair.

- Amanhã você tem quimio - Ela fala me olhando e beija a minha cabeça - Tenta descansar um pouco.

- Não quero que você tenha dó de mim, mamãe...

Pior do que ter câncer é ver como ficam, as pessoas que te amam.

- Eu não tenho dó de você - Ela fala beijando a minha cabeça - Você é a minha filha e eu só quero o seu melhor.

Concordo com a cabeça e tento não vomitar o remédio, mas não está trazendo muito resultado, essa fase ruim não está passando e eu não sei o que fazer. Ela saí do quarto e me deixa sozinha, apenas com a TV ligada.

- Posso dormir com você? - Marília aparece na porta.

- Não.

- Que bom - Ela fala se aproximando e deita comigo - Sua cama é mais gostosa.

- Mais que a da Maraisa? - Pergunto maliciosa.

Marília fica em silêncio e dá as costas para mim, ignorando as minhas provocações.

- Nenhuma cama é melhor do que a dela.

- Eca.

- Você está virando amiga da Maiara? - Ela pergunta sem me olhar.

- Algo assim...

- Maiara é sensível, Luísa... - Marília me avisa - Ela se apega muito fácil nas pessoas e cria muita expectativa muito rápido.

- Eu nunca iria magoar ela, Lila...

- Propositadamente não mas...

Mas por causa da minha doença eu posso morrer e ela nunca vai me perdoar por entrar na sua vida.

- Eu sei, Lila... eu sei.

Marília se vira e me abraça, beijando meu ombro e apertando com força meu corpo, eu sinto dor com isso, mas essa dor é boa, porque eu sinto o amor da minha irmã.

- Eu te amo, tá bom?

- Agora você vai sair do meu quarto?

- Alguém já disse que você é muito chata?

- Já... você, aliás.

Marília sorri com isso e fecha os olhos para dormir. Abraço a minha irmã de volta e beijo a sua cabeça, me esquentando no seu abraço.

- Eu também te amo, chata.

- Eu sei, todo mundo sabe.

- Boa noite, Marília - Falo rindo - Vai dormir.

///

Mesmo com a música alta no ouvido, as melodias não conseguem me distrair, ainda me sinto fraca, incapaz, sem perspectiva alguma de vida, nem sei porque ainda tento. O câncer destrói aos poucos, sem que nos apercebamos de sua insidiosa presença ele vai se alastrando, até que por fim o diagnóstico final é pronunciado: "Doente, à morte."

Toda vez é assim...

Com o câncer você perde tudo, perde o autodomínio, perde a força, o brilho da sua pele, perde tudo e principalmente a sua fé. Não consigo chorar mais, não dá para chorar mais, as pessoas ao seu redor já tem perspectiva baixa, todos, inclusive você.

- Que música ruim - Marília fala pegando meu celular.

- É melhor que a sua voz.

- Se você começar a reclamar eu vou cantar para você - Minha irmã senta do meu lado - Já está acabando a sessão tá bom?

Love lettersOnde histórias criam vida. Descubra agora