capítulo 28

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                   ELOÁ GOMES

Logo que eu e Natália entramos no quarto, ela olhou-me e disse:
— Você me perdoa, amiga? Precisou de você fazer uma travessura para eu perder meu orgulho e vir atrás de você. Você é muito importante para mim, amiga, mais que qualquer briga que tivemos.
— claro que perdoou, amiga. E você também me desculpa?
— Não tenho nada para desculpar, Eloá. Eu conheço você quase que minha vida toda. Eu deixei o ciúme de algo que nem é meu falar mais alto.
— Mas te entendo amiga, quando gostamos de uma pessoa é difícil distinguir as coisas.
— Vamos jurar nunca mais brigar, amiga, por favor?
— juradinho, Natália. Esse tempo longe uma da outra. Eu vivi tantas coisas e não tinha para quem contar.
— Do que você está falando, Eloá? Só ficamos uma semana sem nos fala doida.
— E nessa uma semana eu vivi grandes emoções.— Falo e quando olho para sua cara de espanto, morro de rir.
— vai abrindo o bico aí agora Eloá pode começar.
— Nada disso. Vou tomar um banho que daqui a pouco meus pais virá para saber onde eu estava.
— Falando nisso, onde você estava, amiga?
— eu estava no chalé de Corrado. — e se antes ela estava com cara de espantada, agora deve estar passada.
— como assim? Eu ouvi direito? Você passou a noite no chalé do Corrado?
— Sim. — digo já indo para o banheiro tirando minhas roupas.
Na ocasião em que usei o banheiro enorme de Corrado, vi uma banheira grande, me deu uma vontade de entrar nela. Mas não tive coragem. Seria abusar de sua hospitalidade. Será que ele está supondo que eu tenho algo com Dario? Porque só pensamos no que fazer depois que já passou e não tem mais volta. Porque se fosse agora eu não aceitaria ir embora com Dario. Teria pedido que Corrado me levasse para casa. Ele mesmo disse que falaria com meus pais. Ele é tão responsável. Até na hora de hum... só de pensar nas sensações que senti ontem nos braços de Corrado me sinto arder. Quando termino meu banho, opto por vesti um vestido confortável e Natália já me esperava na porta do banheiro. Quando ela estava para voltar com seu interrogatório batem na porta.
— Filha, estamos entrando. — Mamãe, papai e Laura entram no quarto e se sentam na minha cama e sofá.
— estamos esperando para saber onde você estava, filha. — diz minha mãe agora mais calma.
— Todos nós queremos saber, Eloá. Você nunca foi de dormi fora de casa, a não ser na casa de Natália ou quando estávamos viajando, mas sempre alguém a acompanhava. Então esclareça. — meu pai já estava impaciente.
— depois bem, que nós discutimos, eu saí para caminhar e fui andando sem destino e quando dei por mim, estava bem longe de casa e muito cansada. E bem, Corrado estava saindo de sua fazenda e viu que eu não estava bem e ele me ajudou e hum! Eu posso ter pedido para que ele me levasse para seu chalé.
— Por que ele não trouxe você para casa depois que se acalmou?— perguntou meu pai indignado.
— eu pedi para ficar papai. Eu estava confusa e magoada. Eu não queria voltar para casa. Não sabendo que era uma decepção para vocês que acabei com suas expectativas.
— Oh! minha filha, nós escolhemos você. Sempre será você, não pode fugir assim. Família discutem mesmo, mas sempre vamos nos resolver.
— Eu sei, mamãe, mas vocês não me ouviram, só falaram e isso me machucou.
— nos arrependemos, filha. Nos perdoe. É que acreditávamos que você também queria seguir essa carreira, já que amou sempre os campeonatos.
— sua mãe tem razão. Eu confesso que fui muito duro com você e me arrependo. Só supus que você precisava de um puxão de orelha para enxergar com clareza as coisas.
— eu já gostei muito de fazer as provas, de competir. Mas no meio tempo em que fiquei no Haras eu percebi que não me encaixo nos holofotes, críticas ou tudo que envolve estar no centro das atenções. Eu gosto e prefiro o anonimato. Ser uma mera telespectadora para ver as vitórias de pessoas que realmente se esforçam para estar em primeiro lugar. Porque se caso eu continuasse, não seria com a paixão e dedicação que o esporte precisa, seria para agradar vocês. — Digo olhando para eles e vendo que estão começando a me entender.
— por que não falou conosco sobre a sua decisão? — perguntou meu pai.
— porque eu vivi minha vida toda praticando hipismo. Não sabia e nem sei ainda viver de outra forma. Mas no haras, fora dos campeonatos, pude encontrar outro desejo, o de treinar cavalos. E esse desejo foi crescendo. Não sei se perceberam, mas fazia sempre cursos e aprendendo mais e mais com Ramon e Sebastião.
— Entendo. Em que momento você percebeu que não era mais o que desejava para sua vida? — Papai interroga.
— quando tinha algum torneio e não sentia nenhuma pequena vontade de praticar.
— desculpe filha por não termos percebido que você não desejava mais ser uma Amazonas. Temos tanto orgulho de você e sabemos o quanto foi perfeita enquanto praticava o esporte nos saltos e adestramento. Mas entendemos você e vamos apoiá-la em suas decisões. Só não fuja mais. Quase morri de preocupação filha. — diz mamãe com os olhos cheios de lágrimas e corro para abraçá-la pois tudo que eu queria era o apoio dos meus pais.
— como disse sua mãe Eloá, não sabíamos que você não queria mais seguir carreira. Vou ficar um pouco triste. Mas entendo e respeito sua decisão. E desculpe-me por ter me excedido com você eu só não esperava por isso. Devo confessar que sua decisão me deixou abalado. Mas não saber onde você estava me deixou ainda mais arrasado.
— eu amo vocês papai e mamãe. E obrigado por me apoiar e ficarem do meu lado o apoio de vocês é muito importante para mim. Não imaginam o quanto estou feliz. — Abracei papai e mamãe juntos.
— Só não volte a dormi na casa de um homem sozinho, Eloá. — diz mamãe.
— nem me lembre desse episódio, Helen, minha pressão pode alterar e terei um infarto.
— Não seja tão dramático, papai. Eu dormi no andar de cima e Corrado no de baixo. E ele é um homem muito respeitador.
— se ele quiser permanecer vivo, tem que ser mesmo.
— ah! não começa com suas divagações, Osvaldo. Vamos embora e deixar as meninas conversarem. Nós Te amamos, meninas. Agora vamos, Osvaldo.
— não pense que me esqueci do que você fez, viu Eloá? vou te colocar de castigo.
— deixa de ser besta, homem. Onde já se viu colocar uma mulher de 22 anos de castigo... — nós três morremos de rir da discussão de papai e mamãe enquanto saíam do quarto. São um amor, juntos eles se completam. Eu sempre sonhei em ter um amor como o dos meus pais. Tão puro e lindo. Eles podem brigar agora e na mesma hora se resolvem. Na hora em que penso em um relacionamento assim, logo me vem Corrado tomando todos meus pensamentos. Ele é tão diferente, mais me atrai tanto e quanto mais ele se afasta. Mas eu tenho vontade de descobrir seus segredos. Sei que ele foi machucado. Será que ele pensa em mim também?
— Terra chamando Eloá. — fala Natália estalando os dedos na frente dos meus olhos.
— O que foi doida?
— nós estamos aqui falando com você e você com essa cara de paisagem. — fala Laura.
— O que aconteceu com minha amiga nesse tempo que fiquei longe?
— não sei, Natália. De uns dias para cá Eloá está muito estranha. E olha que eu só vi Corrado duas vezes. Já Eloá até dormiu na casa dele. Até eu me perdi nessa história.
— verdade Eloá, que rolê foi esse aí que não acompanhamos. Conte-nos tudo e não nos esconda nada. Anda, pode começar. — Natália e suas gracinhas, acabo rindo da cara dela.
— vamos lá, o que vocês querem saber? — perguntei me sentando ao lado delas na cama.
— do começo. O que eu perdi? Quando vocês se tornaram tão íntimos?
— bem, A mãe de Corrado me pediu para levar comida para ele em seu chalé.
— ele não tem uma casa na fazenda? Por que está no chalé?
— não sei amiga, não tive coragem de perguntar.
— prossiga. O que aconteceu quando você foi ao chalé? — Laura pergunta.
Eu narro de uma forma resumida todos os eventos que aconteceu nesses últimos dias entre mim e Corrado. Elas ficaram bem surpresas com minha ousadia e coragem. Quando eu paro para pensar, me pergunto de onde saiu a coragem.
Eu também contei sobre nosso primeiro beijo e as meninas ficaram  encantadas. Laura chegou suspirar. E até eu suspirei me lembrando do momento, senti frio na barriga e tudo. também contei dos meus medos e elas acharam que estava sendo precipitada em pensar que somos de mundos tão diferentes, já que nossos pais mora no interior e antes de viver na cidade ele já morou no campo.
— no entanto, não é sobre o dinheiro, amiga. Eu sou do interior, ele é da cidade.
— porém, antes dele ser um homem da cidade, ele viveu no campo. Então acho essa paranoia sua sem fundamento.
— concordo com Natália Eloá, não faz sentido. Sem falar que você está buscando se encontrar, quem sabe em um lugar diferente você não se encontre.
— super de acordo com você, Laura. E então o que aconteceu no chalé?
— eu bem, tomei um banho e hum!... vesti uma camiseta dele para dormi.
— Amiga, isso está saído melhor que novela. Conta, tudo anda.
— a camiseta era tão macia e cheirosa. — lembro sonhadora.
— eu meio que pedi ele para deitar comigo na cama e uma coisa levou a outra.
— Você teve sua primeira vez com ele? Curiosa Lara expõe.
— não mais tive algumas preliminares e hum!... — falo tampando meu rosto com um travesseiro.
— nossa minha irmã, e foi bom?
— Foi maravilhoso, me senti nas nuvens que até adormeci. Mas acordei sozinha na cama. Ele disse que iria dormir comigo, mas não dormiu.
— que estranho. — explana Laura.
— Creio que tem muitas coisas para vocês conversarem Eloá. Se conhecerem melhor. Não se pode entrar em um relacionamento ou algo do tipo sem conhecer a pessoa, não tem como acabar bem. — exprime Natália.
— Nós estávamos bem, na manhã seguinte eu contei sobre a discussão com meus pais. Nós nos beijamos novamente. Eu fiz almoço pra gente. Ele disse que eu poderia falar com meus pais que estava em seu chalé. Até ficou de me levar para casa se esperasse sua reunião acabar. Mas aí apareceu Dario. Com seu jeito que antes não me irritava porque acreditava que era seu jeito protetor de amigo. Mais que me irritou de uma maneira muito grande.
— porque o que ele fez, Eloá? —perguntou Laura. Natália só ficou me olhando. Sei que é delicado, mas não vou esconder nada delas.
— Ele me abraçou, depois ficou falando que era pra ter procurado ele e não gostei de suas atitudes e não soube como reagir com Corrado. E acabei vindo embora com Dario que parecia está marcando território. Discutimos na volta para o haras. Quando ele disse que Corrado não era homem para mim. E eu estou com raiva dele.
— Nossa, você não acha que essa reação de Dario pode ter queimado você com Corrado?. Homens como Corrado não necessita de ficar no meio de disputas bobas Eloá, até porque o que não deve faltar e mulher para ele.
— nem me fale isso, Laura. Minha cabeça já está cheia por tudo isso. Nem quero imaginar no que Corrado pode estar pensando que existe entre mim e Dario.
— eu nem vou dizer que avisei Eloá. Você já sabe minha posição quanto a você e Dario. Só penso que você deveria esclarecer com Dario as coisas de uma vez por todas.
— Natália  tem razão, Eloá. Todos já percebemos o quanto Dario gosta de você. Até nossos pais sabem e até acreditam que vocês vão namorar.
— como eu nunca soube de nada, Laura?
— não sei. Um dia desse eu ouvi nossa mãe falando que Dario conversou com papai sobre vocês dois. — expõe Laura me deixando perplexa.
— nunca imaginei que tinha chegado nesse ponto. — Exponho meus pensamentos. Julgo que me doei demais na amizade com Dario e acabei deixando ele confundir as coisas.
— eu não tenho nada a ver com isso. Mas acredito que você deveria sentar e esclarecer as coisas com Dario. Que já passou da hora amiga de você colocar os pingos nos “is”.
— Natália tem razão  Eloá. Porque se você deixar vai sair muitas pessoas feridas dessa história.—Laura fala olhando para Natália que está com os olhos brilhando por lágrimas. Eu sinto tanto.
— Natália, eu nunca fiz nada para que Dario se apaixonasse por mim. Nem, nunca dei esperança de qualquer coisa.
— julgo que está passando da hora de você resolver isso. Nós quase perdemos nossa amizade por você não prestar atenção ao que está acontecendo ao seu redor.
— Está decidido. Eu vou falar com Dario.
— Só espero que não seja tarde demais.
— porque pensa assim, Laura?
— um homem reconhece quando o outro está afim de uma mulher e bem, se Corrado estava com uma carranca, isso é um mau sinal.
— nem fale isso, Laura.
— Laura falou o certo.
— chega meninas, não estão me ajudando jogando essas coisas na minha cara. — já estou com lágrimas nos olhos de tanta pressão. Mais sei que elas estão certas.
— então resolva isso, Eloá. — diz Natália. Seria.
— eu vou falar com Dario. Vou passar tudo a limpo.
— isso aí, minha irmã.
— Porém, antes preciso me explicar para Corrado. Vou até o chalé amanhã. — Nem sei se conseguirei dormir essa noite com tanta ansiedade.
Depois de todo o interrogatório. Foi a vez de Natália, conta as novidades e colocamos os assuntos em dia. O dia passou assim, mas meus pensamentos nunca abandonaram Corrado e seu olhar decepcionado ou a frieza em suas palavras. Espero que ele me escute e que consigamos nos resolver. Julgo que já gosto além da conta de Corrado.

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