capítulo 57

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                 ELOÁ GOMES

              20 DIAS DEPOIS


Estou trabalhando muito nestes dias. Meu pai teve uma incrível ideia de fazer um torneio de hipismo aqui em nosso Haras, o qual tem feito sucesso e é uma ótima oportunidade para quem está iniciando por aqui. A pista demorou, mas finalmente ficou pronta e o torneio acontecerá em um mês. Estamos a todo vapor para a organização e os preparativos desse evento têm me distraído. Natália também com suas loucuras, e nós nos ajudamos uma a outra. Quanto a Laura, bem, acho que ela está escondendo algum segredo, pois está distante e muito calada.

Corrado e eu estamos bem na medida do possível. Ele pelo menos deixou que me aproximasse novamente, mas ainda não veio aqui e não tocamos no assunto de eu viajar para lá. No entanto, falamos todos os dias por mensagens e às vezes ele liga, outras eu ligo e assim seguimos. Ele está em uma viagem internacional a negócios e disse que ficaria lá por alguns dias. Quando voltasse, ele passaria aqui e ficaria por uma semana. Estou ansiosa para vê-lo. Ele partiu ontem, e como o horário é muito diferente, é provável que não falaremos com frequência. Então é melhor trabalhar.
Estou praticando alguns exercícios com um cavalo quando vejo um carro em alta velocidade se aproximando. Fico olhando porque não estamos esperando por ninguém. Quando o carro para, vejo sair dele um homem muito bonito, loiro, de olhos azuis, alto e muito bem vestido. O carro por si só demonstra que é de alguém que tem muito dinheiro. Então, a outra porta se abre e João Pedro sai de lá, parecendo abatido e ferido. O homem que estava dirigindo tem que ajudar João Pedro, o apoiando para que ele possa andar. João Pedro olha para mim, e não é com a mesma arrogância habitual de sempre.
— Nosso pai está em casa?
— Sim. Ele deve estar nas Baias.
— Pode chamá-lo, por favor? — esse não é o João Pedro que conheço. Ele nunca diz por favor e nem fala comigo.
— Tudo bem, vou chamá-lo. — deixo os dois parados perto do redondel e vou para os estábulos procurar por papai.
— Pai, João Pedro chegou com um homem, e ele não parece nada bem.
— Eu já sabia que ele viria, filha. Cortei todo dinheiro que eu fornecia a ele, então não restaria outra coisa senão ele aparecer. Preciso resolver esse problema da escritura que estava nas mãos dele antes que ele faça com que percamos nosso rancho. — Ah, tá explicado. Foi isso. Sem dinheiro, ele não teve alternativa que não fosse aparecer. Papai foi inteligente.
— Entendi. E qual será seu próximo passo, pai? — perguntei.

— Vou pressioná-lo. Ele terá que confessar quem é o ajudante dele e por que estava tentando roubar a própria família. Eu tinha muito orgulho de João Pedro. Hoje em dia, ele é minha maior decepção — disse meu pai, saindo da baia em direção ao filho.
Ele não demonstrava a mesma alegria que costumava ter quando João Pedro voltava. Ele estava triste e cansado. Meu pai andava diferente, calado. Eu achava que ele tinha participado do torneio mais por reconhecimento do Haras do que por vontade própria. Vi quando meu pai falou com João Pedro e o homem que o estava firmando. E os chamou para dentro.
Meu pai ficou muitas horas no escritório. Eu estava ajudando Sebastião no redondel quando o homem se aproximou.
— Bom dia, Sebastião — disse o homem que veio com João Pedro. Sebastião saiu do redondel para cumprimentá-lo com um aperto de mão e um abraço.
— Bom dia, Walter. Quanto tempo que você não vem por essas bandas.
— Verdade, Sebastião. Tem muitos anos que não venho por aqui. Estou surpreso com as mudanças que aconteceram. Está tudo muito diferente do que quando deixei este lugar.
— Está sim. Osvaldo implementou algumas melhorias no rancho para ficar um pouco mais atualizado.
— Percebi. Quando eu frequentava aqui, não havia estábulos ou pistas — disse ele, olhando ao redor. — As mudanças realmente fizeram bem ao Haras. Está lindo.
— Sim. Osvaldo lutou por seu pedacinho de chão. Esta aqui é a filha mais velha de Osvaldo, Eloá.
— Ah, esta é a Amazonas do Osvaldo — disse ele, olhando para mim com um sorriso simpático.
— Opa, moça bonita, eu sou Walter. Você não deve se lembrar de mim, mas frequentava muito o Haras — estendeu a mão para mim. Sem jeito, eu aceitei. Ele tinha um aperto de mão suave.
— Olá, Walter. Não me lembro mesmo não — disse eu, em um meio sorriso. Se ele é amigo de João Pedro, não deve prestar como ele.
Saí dali, deixando Sebastião e Walter conversando. Mas peguei um pedaço da conversa sobre ele ir visitar sua tia Ana. Será que ele é parente de Corrado? Deve ser coisa da minha cabeça.

Entrei em casa e encontrei Laura sentada na cozinha.
— Você viu o bonitão que veio com João?
— Sim, Laura. Ele é muito bonito, mas prefiro meu Corrado — disse, indo preparar meu café.
— Bom, que sobra para as solteiras — disse Laura. Não a estava reconhecendo. Mas, quando reparei em Ramon entrando pela porta da cozinha, vi o olhar mortal dele para Laura. Percebi que ela o estava provocando. O que esses dois têm? Meu dia se resumiu em trabalho e cama. Não vejo mais João Pedro.
Passava das 23 horas da noite quando recebi uma mensagem de boa noite de Corrado:

MEU AMOR: Boa noite, Eloá. Sei que está tarde, mas não poderia deixar de te mandar uma mensagem dizendo que estou com saudades e contando os dias para te ver.

Eu sorri, pois Corrado aos poucos estava se mostrando como antes da nossa briga.

EU: Oi, meu amor. Boa noite. Estou morrendo de saudades também. Não vejo a hora de te ver. Vou passar a semana toda no chalé ao seu lado.

Respondi mandando vários emojis de corações.

MEU AMOR: Também é tudo o que mais quero. Espero que seu dia tenha sido bom. O meu foi cansativo.

EU: Meu dia foi trabalhoso, mas gosto assim.

Resolvi não falar sobre a chegada de João Pedro. Meu pai disse que falaria com ele. Depois de mais algumas mensagens, nos despedimos.


               DOIS DIAS DEPOIS


Acordo mais cedo do que o costume e, depois de cuidar da minha higiene pessoal, desço as escadas indo para a cozinha onde minha mãe, Laura e Branca se encontravam.
— O que aconteceu, gente? — pergunto, vendo que todas estavam com olhar preocupado. Me sento à mesa e olho para elas, esperando respostas. Minha mãe foi direta com o assunto.
— João Pedro, filha, infelizmente se viciou em drogas e bebidas, e por causa do vício, perdeu o carro e o apartamento que o pai de vocês tinha comprado para vocês usarem. E para não ser morto, com a ajuda do contador do Haras, ele roubou as escrituras de seu pai. Não todas, parece que ele teve acesso a duas.
— Nossa, mãe, mas isso é muito grave. — falo preocupada.
— Demais, e para piorar, como seu pai cortou todo o dinheiro que ele mandava para João Pedro, os agiotas estavam para matá-lo, mas Walter pagou toda a dívida para livrar João Pedro. Walter contou ao seu pai que quando encontrou João Pedro, ele estava muito machucado, quase morto, e se ele tivesse chegado um minuto atrasado, não teria chance de encontrá-lo com vida.
— Nossa, mamãe, eu vi que ele está mal mesmo.
— Sim, está. Parece que quebrou algumas costelas, o ombro está deslocado, o nariz quebrado e alguns dentes estão faltando, fora os hematomas que ele tem pelo corpo. Osvaldo está muito chateado e triste, não quer nem conversa.
— Posso imaginar, Osvaldo tinha um orgulho tão grande de João Pedro. — fala Branca.
— Osvaldo está muito agradecido a Walter. — disse mamãe.
— E o que isso tudo tem a ver com o Haras? — pergunto porque estava curiosa.
— Walter disse que não estava tendo sucesso em convencer João Pedro a não entregar as escrituras para os agiotas e como ele nos conhecia e sabia que João estava fazendo uma coisa errada movido pelo vício, ele disse que compraria, ficando em cima para ele não entregar as escrituras aos agiotas, que era melhor ele ter as terras do que deixar os agiotas as pegarem e até nos matar por causa disso.
— Nossa, papai conseguiu pegar as escrituras? — pergunto.
— Sim, como Walter pagou a dívida de João Pedro, ele pegou as escrituras como dele, mas já as entregou ao seu pai, que vai devolver todo o dinheiro que Walter deu aos agiotas.
— Nossa, esse rapaz foi um verdadeiro herói para todos nós. — disse Laura e Branca quase ao mesmo tempo. Não podia negar que ele fez um bem danado para nossa família e imagino que papai terá uma dívida eterna com ele. Mesmo decepcionado com João, papai o ama e quer seu bem.
— E o que aconteceu com Jorge? Foi ele, não foi? — Jorge é muito ambicioso. Sabia que uma hora ele iria dar prejuízo ao papai.
— Sim, é ele. Seu pai já entregou todas as provas, assim como a confissão de João Pedro, e Jorge será preso.
— E o que vai acontecer com João? — Laura faz a pergunta que todos querem fazer.
— O pai de vocês, com muita dificuldade e tristeza, decidiu que vai interná-lo em uma clínica de reabilitação e, quando ele sair, se quiser ter algum dinheiro, terá que trabalhar no Haras como peão. Ele terá que começar de baixo e não terá a confiança nem a admiração do pai, não enquanto não provar que as mereça. Seu pai foi muito duro com ele, e João chegou a chorar. — Fiquei sem palavras porque imagino como está sendo duro para papai, que descobriu que o filho não era nada do que ele pensava, e para João, que teve que contar sobre o vício e realmente perceber que precisa de ajuda. Espero que no fim tudo se ajeite.


             DOIS DIAS DEPOIS



Estou morrendo de saudades de Corrado. Estamos trocando poucas mensagens nos últimos dias porque o fuso horário é complicado e isso dificulta nossas conversas. Às vezes, respondo suas mensagens de manhã e ele só as vê tarde da noite. Tenho conversado com Jana, que me disse que Corrado ainda não chegou. Eu disse a ela que, quando ele chegasse, iria comunicar aos meus pais que me mudaria para BH com Corrado em definitivo. Não adianta eu ficar aqui se meu coração está com Corrado em BH. Jana falou que vai marcar uma entrevista para mim em uma das hípicas que tem por lá. Estou animada. Será uma nova vida, mas com Corrado do meu lado. Sei que será incrível, e também posso vir visitar meus pais sempre que eu quiser.

Perdida em meus pensamentos, não percebo Walter se aproximar. Ele tem vindo aqui para visitar meu irmão, e meu pai está esperando que ele se recupere para, então, levá-lo a uma clínica de reabilitação.

— Oi, Eloá. Eu vi você domando um cavalo. Você é muito boa no que faz. — Ele diz, apoiando-se no cercado do redondel, bem próximo de onde também estou apoiada.

— Sim, cavalos sempre foram minha paixão. Não sei fazer outra coisa. — Digo, sorrindo.

— Seu pai me disse que você parou de participar dos campeonatos. — Ele comenta, olhando para meu rosto. Seus olhos são tão azuis que me lembram os olhos do meu Corrado.

— Eu percebi que não tinha mais a mesma paixão para competir de antes. Acho que esse esporte deve ser feito com paixão e determinação. Então, resolvi que deveria ficar aqui, nos bastidores. — Confesso, olhando em volta. O haras é lindo, tem árvores verdes, um laguinho e é espaçoso e bem cuidado. Tem vários funcionários, mas não parece ser mais minha casa, não depois de Corrado.

— Você está certa. Devemos perseguir nossos sonhos e fazer o que amamos. Nossa vida é muito curta, e às vezes esquecemos disso e vivemos odiando uns aos outros. — Ele fala e acaba ficando pensativo. Instintivamente, seguro meu colar, pensando em Corrado. Não sei por que meu coração se apertou, parecendo um mau presságio. Walter olha para onde minha mão estava.

— Verdade. Não devemos perder tempo com coisas sem importância.

— Concordo. Vejo que você ama esse colar. Vivi segurando-o ou o tocando. É em homenagem à sua égua? — Ele perguntou, olhando mais próximo a mim. Ele parece interessado no pingente. Eu me aproximo mais, até que ele consiga vê-lo, e ele toca.

— Sim, e minha égua Estrela. Ele é importante porque foi meu namorado que me deu. — Eu sempre toco ou seguro o colar. É uma forma de sentir Corrado comigo.
— É bom quando ganhamos algo de quem amamos. Fica sendo uma espécie de amuleto, não é mesmo? — ele fala, parecendo distante, enquanto toca algo em sua mão.
— Sim, de alguma forma parece que estamos ligados a outra pessoa, mesmo ela estando distante de nós. — falo, pensando em Corrado, tão longe e sem me dar notícias.
— Eu sei como é. Eu guardo algo parecido de alguém especial. — ele fala, perdido em pensamentos. Um carro em alta velocidade se aproxima e é Corrado quem está dirigindo. Walter fecha a cara e acho que fala algum palavrão.
— Não me diga que o seu namorado é o Corrado? — ele pergunta, parecendo nervoso, passando a mão no cabelo e depois batendo na madeira em que estamos encostados.
— Sim, por quê? — pergunto, vendo Corrado descer do carro com um olhar tão frio e mortal dirigido a Walter. Fico me perguntando o que perdi. Ele bate a porta do carro com tanta força que não sei como não quebra o vidro. Ele está com a roupa de trabalho, deve que nem passou no chalé. Eu iria até ele, mas com o olhar de decepção que dirige a mim, sei que algo não está certo.
— Acho que você vai presenciar algo muito desagradável. — Corrado se aproxima de nós e, quando para bem próximo, cuspiu no chão. Corrado está com uma postura que nunca vi antes e esse lado dele me deixou muito, muito assustada.

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