capítulo 58

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        CORRADO MARTINELLI


Eu estava em uma viagem internacional e fui pessoalmente, pois Paolo e eu decidimos expandir nossos negócios para vários países. As negociações demoraram mais do que o esperado e fiquei quatro dias negociando para chegar a um acordo que favorecesse a ambos. Eu estava a caminho da fazenda quando cheguei em Belo Horizonte, mas Pablo me ligou falando sobre as provas e fui direto para a empresa. Chegando lá, Vilma me esperava.
— Bom dia, Sr. Corrado. Chegou antes do esperado. — disse ela.
— Sim, Vilma. Consegui o acordo antes do tempo determinado. — falei, caminhando para minha sala e ela me seguindo.
— Quer que eu atualize sua agenda, Corrado?
— Por enquanto não, estou esperando algumas pessoas.
— Mas não há nada na sua agenda.
— Não está na agenda, Vilma. Pode se retirar e, quando as pessoas chegarem, pode mandá-las entrar.
— Sim, Sr. Corrado. — ela disse, saindo e batendo a porta atrás de si. Só então tirei a parte de cima do meu terno, ficando só com a camisa e a gravata que afrouxei.

Estou com saudades da minha menina. Eu sofri muito com o tempo que lhe dei para que pudesse pensar no que queria para sua vida. Eu não poderia impor minha presença a ela ou fazê-la ficar comigo sem a intenção. Tinha medo de que acontecesse o mesmo que aconteceu com Manuela. Amo tanto Eloá que seria capaz de abrir mão da minha felicidade em tê-la em minha vida para que ela fosse feliz da forma que se sentisse bem. Ela me proporcionou momentos incríveis e me ensinou lições valiosas. Só tenho admiração e amor por ela.

Confesso que, com nossa briga, quis desistir dela. Afundar-me no trabalho e voltar a viver como antes, de forma prática e descomplicada. Mas como fazer isso quando tudo que eu olhava em minha cobertura me lembrava dela: sua personalidade forte, seus sorrisos de menina travessa? Tudo o que quero é que, dessa vez, dê certo e consigamos ser felizes juntos sem o fantasma do passado.

Fiquei longe dela por mais de 30 dias e já estou ficando louco de saudades. Mas os negócios estavam me engolindo, e Ângelo custou a resolver os problemas que afetavam minhas empresas. Agora, com tudo resolvido, só precisamos exterminar o último rato, ou melhor, rata. Depois, poderei ser feliz com minha menina. Comprei a Hípica Boaventura e darei de presente a Eloá. Sei que ela ficará feliz, poderá trabalhar no que ama, e eu ficarei perto dela sem vê-la infeliz. Não suportaria vê-la se anulando por mim. Ela é livre e merece continuar assim. Tem uma casa muito bonita lá, e eu já pedi para começar a reforma. Se ela quiser, poderemos morar lá. Quero fazer essa surpresa para Eloá e pedi-la em casamento. Sim, eu quero novamente arriscar e, dessa vez, espero conseguir que ela aceite ser minha esposa.
Bateram na porta e eu pedi que entrassem.
— Não passou na cobertura, Corrado? — perguntou Paolo.
— Não, preferi vir direto porque daqui vou pegar o helicóptero e ir para a fazenda. Quero ver minha menina.
— Certo, 35 dias é muito tempo longe. Ela pode ter perdido o interesse. — disse Paolo, em tom de brincadeira.
— Você está muito piadista, Paolo. Não acho que deveria continuar, se quiser preservar essa cara feia sua intacta.
— Vocês dois podem parar com as implicâncias um pouco. Temos coisas sérias para resolver aqui. — falou a voz da razão, Pablo.
— Então vamos lá, o que temos, Pablo? — perguntei, me sentando em minha cadeira e recebendo um arquivo entregue por Pablo.
— Tudo, todas as provas. Com a ajuda de Ângelo, foi bem mais fácil. Devo dizer que o cara tem facilidades incríveis de conseguir informações que desconhecemos. — contou Pablo, intrigado.
— Ângelo sempre faz certo mistério com suas fontes. — confessei. Ele esconde coisas até de mim, que sou uma das pessoas mais próximas a ele. Já até desisti de tentar entendê-lo.
— Vejo que a Vilma fez um ótimo trabalho de pião nas mãos dos russos Smirnov.
— Sim, Corrado. A própria entregou toda sua agenda. Se não fosse pelo pensamento rápido de Ângelo, Deus sabe onde você estaria agora. — fala Pablo com uma expressão séria, é Vilma foi muito habilidosa e detalhista.
— Deveríamos entregá-la às autoridades. Você poderia ter sido morto, Corrado.
— Concordo com Paolo, Corrado. Vilma tem que ser presa. — falam Pablo e Paolo.
Eu tenho plena certeza que deveria ser esse o fim dela, mas Ângelo me pediu que não envolvesse a polícia porque ele tinha que pegá-los. E a justiça do Brasil não faria nada com eles. E talvez ele teria que fazer justiça com as próprias mãos. Não gostei de saber desse lado sombrio de Ângelo. Não o apoio, mas não posso negar um pedido do meu amigo que tanto me ajuda.

— Por um pedido pessoal de Ângelo, não farei. Mas acabarei com qualquer chance de que ela consiga algum emprego. Peça que ela venha até minha sala, por favor. Chegou a hora de desmascará-la. — chamou Pablo e ela veio. Pediu que se sentasse e os três começamos com o interrogatório.
— A troco de que você entregou as localizações de Corrado aos russos, Vilma? — perguntou Paolo, irritado por ela não ser presa.
— Eles ameaçaram minha irmã, disseram que a matariam. Vocês sabem que minha irmã anda de cadeira de rodas. Se caso eles quisessem, poderiam matá-la. Eles me enviaram diversas fotos dela e até deles falando com ela. Eu não tive escolha, só fiz isso pela minha irmã — disse ela chorando. Apesar de não comover ninguém, vimos que ela foi realmente ameaçada.
— Vilma, você só não será presa porque tenho pena da sua irmã, que precisa de alguém para ajudá-la. Mas, se depender de mim, você nunca mais trabalhará como secretária de alguém novamente. Não enquanto eu tiver influência, que chega a muitos lugares. Espero que esses tropeços a tornem uma pessoa melhor, pelo menos por sua irmã. Agora, saia da minha empresa e não apareça na minha frente nunca mais. E mais uma coisa: se vir Eloá, mude de rua, calçada ou o que for. Afaste-se dela. Se eu souber que pelo menos olhou para a minha mulher, farei com que conheça o quão mal posso ser com quem toca em um dos meus.
— Por favor, Corrado, não faça isso. Eu te imploro, Paolo, gente, minha irmã depende do meu trabalho. Por tudo o que é mais sagrado, não façam isso.
— Você deveria ter pensado nisso antes de me ferrar, Vilma. Estou sendo generoso. Seu lugar era para ser apodrecendo na cadeia. Agora, saia da minha empresa. Os papéis de sua demissão já estão em sua mesa. Passe no RH. — E assim, com minhas últimas palavras, ela saiu da minha sala. Eu fiquei falando dos próximos passos para meu irmão e Pablo.
— Agora, só pretendo voltar quando tiver minha Eloá comigo. Não consigo ficar mais nenhum momento longe dela. Tive que esperar 34 dias para arrumar toda essa bagunça e não colocá-la em perigo. Sabe o inferno que passei? Não podendo ir até ela, com medo de que aqueles russos malditos a perseguissem. Vocês não têm ideia de como sofri por esse tempo longe e o medo que senti. — Sim, medo de que ela desistisse de mim, pensando que não valho a pena em um relacionamento. Quando tudo o que estava fazendo era protegê-la para que nada a alcançasse.
— Foi o certo a se fazer, meu irmão.
— Eu sei. Se me dão licença, vou ver minha mulher. — Saí da sala sendo seguido por Paolo, que estava falando com o piloto que me aguardava. Depois de resolver um dos últimos problemas, vou ver minha menina. Estava ansioso. Meu pai me deu plenos poderes, mas ele não pôde vir. Disse que teve muitos contratempos na fazenda, mas soube que Pablo esteve na fazenda semana passada, atualizando-o de tudo. E acho que meu pai está ponderando me passar a presidência da empresa.
Antes de entrar no helicóptero, meu telefone toca. Era Ângelo.
— Oi Ângelo.
— Você está onde? — ele pergunta, parecendo aflito.
— Indo para a fazenda. Por quê? — Pergunto, estranhando seu jeito.
— Não tenho notícias boas para te fornecer.
— Fala logo, Ângelo. Sabe que odeio enrolação. — Digo e vejo Paolo parando ao meu lado, preocupado em ser mais algum problema para resolvermos.
— Walter está na fazenda. Bem, ele está no Haras. — Perco meu controle com essa notícia. Como ninguém me avisou uma porra dessas?
— Você está falando sério, Ângelo? Aquele filho de uma puta está no Haras? — Vejo Paolo coçando a cabeça e fazendo uma ligação. Imagino que seja para nosso pai.
— Sim. Pelos fatos que apurei, ele foi levar João Pedro para Osvaldo há 5 dias e está por lá até hoje. Não sei se está dormindo na fazenda ou no Haras.
— É hoje que mato aquele desgraçado.
— Não faça nada, Corrado. Sabe que ele não vale a pena. Não vá destruir sua vida por um bastardo daquele. Não compensa. Pense no seu futuro, cara. — Minha vontade de socar algo é tão grande que acho que fico aéreo. Nem ouço nada que Paolo e Ângelo dizem. — Eu estarei na fazenda daqui a 4 horas. Estou chegando, então não faça nada. Está me ouvindo?
— Ok. — Desligo o celular e, quando ia entrar no helicóptero, Paolo me impede.
— Nosso pai disse que ele passou por lá, mas não está dormindo na fazenda e sim na cidade. Ele não disse porque não queria gerar mais atrito entre você e nossa mãe.
— Todos são um bando de traidores, até nosso pai. E sem falar em Eloá ou Osvaldo. — Por que eles fizeram isso comigo? Como podem me trair assim? Eloá, eu pensei que ela me amasse, que ela fosse diferente. Solto uma risada amarga.
— Eu vou com você, Corrado. No seu estado, não vou deixar que faça uma loucura.
— Não vá me amarrar, Paolo. Eu vou expulsar Walter de lá.
— Aquelas não são suas terras, Corrado. Pertencem a Osvaldo. Então se controle, porra.
Nós dois subimos no helicóptero e voamos para a fazenda. Quando chegamos lá, Joaquim nos esperava. Eu não colocaria mais meus pés na fazenda dos meus pais.
— Quero que vá direto para meu chalé, Joaquim.
— Sim, senhor Corrado.
Em silêncio, entramos no carro e seguimos para meu chalé, onde peguei meu carro com Paolo seguindo atrás, e seguimos para o Haras. Eu estava tão cheio de ódio que mal me reconhecia, e nada me acalmava, especialmente depois que aquele desgraçado me afrontou, vindo até aqui. Pego a estrada com alta velocidade, e quando chego no portão do Haras, vejo que o filho da puta está falando com Eloá. Meu sangue ferve na hora. Paolo segura meu braço.
— Não faça nada que vá se arrepender, porra. E lembre-se que estamos nas terras de Osvaldo.
— Ok.
— Vou te esperar aqui, mas se você extrapolar, vou ter que intervir. Não vou deixar você ser preso por causa dessa escória.
— Ok. — digo entre dentes e saio do carro, batendo a porta com mais força do que devia. Eu aperto minha mão em punho e olho com ódio para o desgraçado do Walter. Me viro para Eloá, a olhando com decepção. Vejo o momento em que ela aperta o colar forte nas mãos. Todo o sentimento que tinha por ela está sendo dissolvido pelo ódio. Não consigo ver nada além dele. Chego perto deles.
— E eu apostando com Paolo que esse maldito verme não teria a audácia de colocar os pés aqui novamente. Eu realmente não achei que você fosse tão corajoso, Walter. — Falo o nome dele com tanto ódio e repulsa que aperto minhas mãos em punho para não socar sua cara.
— Posso concluir que você deseja morrer pelas minhas mãos. — vocifero, cuspindo no chão. — Não tem amor à vida, não é mesmo, desgraçado? Ou você gostou do que eu fiz com você há oito anos atrás? Talvez eu não tenha sido claro o suficiente, e terei que ser mais explícito. — brado, um pouco alto demais, e percebo quando Paolo sai do carro.
— O que o traz de volta aqui, hum? Veio para roubar outra mulher que eu pensei ser minha? — falo, dirigindo meu olhar de decepção a Eloá, que se encolhe.
— Isso é algum tipo de fetiche doentio seu? Porque puta que pariu, depois de oito anos, ressurgir das cinzas e pisar novamente no lugar onde você fodeu tudo é muita cara de pau. — exclamo, sem coragem de encarar esse imprestável. Os anos passaram, mas o ódio por ele não.
— Estou aqui porque João Pedro precisava de mim. Você sabe que somos amigos há anos. Eu não podia deixá-lo se perder sozinho. — ele disse, com as mãos nos bolsos da calça, de forma pacífica. Quem o visse assim, compraria a história.
— Ah, sim! Claro! Esqueci como você é um bom amigo. Espere aí... Lembrei! Você valoriza muito mesmo as amizades, ainda mais se os amigos... Ou melhor, você me chamava de irmão, não é? Então, quando os irmãos têm mulheres para você, fode-las, enquanto os seus “amigos” estão se matando para trabalhar. Ah! E não podemos esquecer de como você falava “estou cuidando dela por você”, sem que eu soubesse que esses cuidados se estenderiam para a cama. — Digo, olhando para longe, ou seria capaz de partir para a porrada com esse maldito.
— Você sabe que não foi bem assim, Corrado. Você nunca quis me ouvir. Eu e Manu tínhamos uma história. — Ele fala, tentando soar convincente. Tragam um Oscar!
— Claro que você e a puta da Manuela tinham uma história, entendo porra. Só não entendo por que os dois pombinhos decidiram continuar essa "história" sem me contar. O que vocês estavam pensando? Queriam mais emoção? Foi algum tipo de desejo? "Vamos viver nossa linda história de amor", enquanto o meu primo corno, trouxa e idiota trabalha 20 horas por dia, contando que tinha pessoas que se importavam com ele. Eu tenho que agradecer a vocês. Especialmente a você, Walter, por fazer com que eu perdesse a confiança nas pessoas. Obrigado por isso. — Começo a aplaudir porque ele merece.
— Não foi assim, Corrado...— ele passa as mãos no rosto. — Eu nunca quis te machucar ou perder nossa amizade. Eu só fui fraco e perdi a cabeça...
— Não quero ouvir suas desculpas, Walter. Não quero ouvir nada vindo de você, seu desgraçado. Só quero você fora daqui.
— Eu tenho que...
— Você. Não. Tem. Porra nenhuma! — eu falo pausadamente e dou socos no rosto dele e outros em seu estômago, cego de ódio com desejo de sangue e vingança. Mas o covarde não revida.
— Você é um maldito fracote, nem para revidar um soco serve, seu filho da puta. Vem pra cima de mim, quero acabar com você, porra! — Paolo coloca a mão em meu peito.
— Corrado, se acalme! — diz Paolo. Eu saio do agarre de Paolo e vou em direção a Walter, empurrando-o com o ombro, desesperado para que ele revidasse para termos uma luta justa onde eu pudesse quebrá-lo. Ele tenta se firmar de pé.
Eloá se enfia no meio e eu direciono meu olhar de ódio para ela.

— Ficou louca, porra! Cansou de mim foi? Não gosta do que vê? — Abro os braços e solto um sorriso de escárnio. — Desculpe informar, mas esse sou eu! Talvez você esteja do lado do vagabundo do Walter também. Vocês devem ter trep... — Eu brado em um tom de voz irado, mas ela não permite que eu termine de falar. Ela me dá um tapa no rosto que arde, mas não passo a mão, deixo que queime. Vejo lágrimas descendo pelo seu rosto e imagino que meu olhar para ela seja mortal.

— Veja como fala comigo, Corrado. Eu acredito que provei o quão fiel posso ser a você. Eu só não acredito que espancar seu primo até a morte vá trazer algum benefício a você que não seja a prisão. Então, estou tentando evitar que você seja preso por essa vingança inútil — eu solto uma gargalhada amarga.

— Inútil? Está se ouvindo? Você fiel a mim? — Solto um sorriso irônico. — Está de brincadeira, né? Nem você nem sua família tiveram a decência de me comunicar que esse maldito estava aqui. — Abro meus braços novamente.
— E aqui estou eu, descobrindo que todos são iguais. — Olho para ela com decepção.
— Vocês não passam de um bando de traidores, que já escolheram o lado em que estão. — Direciono meu olhar para Osvaldo e Helen, que estão olhando para onde estamos.
— Traidores de merda. — Eu olho para Walter.
— Quero você fora daqui, seu maldito. Ou vou fazer o que estou desejando há anos. Acabar com essa sua vida inútil. — Brado irado, destruído, desolado, mas não deixo que eles percebam o quanto essa traição de todos me desestabilizou.
Eu saí de lá com meu carro em alta velocidade ou mataria o desgraçado. Deixei Paolo para trás, só precisava de um tempo longe. O desgraçado ainda tinha as escrituras do Haras. Paolo descobriu com nosso pai e Osvaldo e minha família estavam fazendo praça para ele. Toda a porra do meu esforço não serviu para nada. Estou cansado dessa droga toda! Dessa dor da traição e o ódio que me perseguiu por anos. Porra, eu confiava minha vida a ele e à minha mãe. Sabe como dói ser o último a saber? Porra, é um inferno. Como você pode reagir bem a tudo isso? Me diz, porra!
Ver Eloá perto dele, ver que todos sabiam, ela falou comigo por mensagem em todos esses dias, mas não me disse nada. Ninguém me disse nada, todos debocham da minha dor. Todos acham que sou instável, que não é para tanto assim. Mas ninguém entende como tudo isso fodeu comigo, como me quebrou, como me deixou perdido e sem saber para onde ir ou em quem confiar. Por que traiu minha confiança, Eloá? Porque... Bato a mão no volante com ainda mais força e escuto meu celular tocando. Desligo-o e sigo para meu refúgio.



NOTA DA AUTORA:

Eu quero saber, o que vocês meus leitores estão achando do meu livro. E em especial desse capitulo, Ele foi um dos mais difíceis que escrevi até agora, porque tive que trazer de volta o passado de Corrado e expressar sua dor, mágoa e ódio.
Além disso, tive que incluir Eloá na história e os sentimentos conflitantes de Corrado ao se sentir traído.

E agora, como vocês acham que essa história será resolvida?

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