capítulo 25

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                    ELOÁ GOMES  

                  DIA SEGUINTE

Hoje acordei mais tarde, eu custei pegar no sono ontem a noite com muita coisa para pensar. Levanto-me e arrumo o meu quarto com calma. Sabe quando você sente que o seu dia não será um dos melhores? Então eu estou com esse sentimento ruim hoje. Espero que seja coisa da minha cabeça.
Após ter organizado meu o quarto, faço a minha higiene matinal, visto uma roupa mais confortável para ajudar a treinar os cavalos e passo na cozinha para tomar o meu café. Logo em seguida vou para os estábulos e vejo Ramon, o que é estranho porque hoje é o seu dia de folga.
— Bom dia Ramon, hoje é domingo, porque não está em casa descansando? — indago, me aproximando de onde ele estava.
— Bom dia Eloá, você tem razão, era para eu estar em casa, mas gosto de vir aqui para pensar. — Senhor Sebastião mora aqui mesmo no Haras com a sua família.
A Alzira é a esposa de Sebastião e trabalha com Dona Branca. A minha mãe só tem duas funcionárias para ajudá-la e mesmo assim porque ela pensa que toda mulher tem que ter o seu dinheiro, ser independente e como Alzira ficaria em casa sozinha ofereceu-lhe um  trabalho e deu certo.
Ramon é o filho mais velho do Senhor Sebastião e Alzira e eles têm uma filha mais nova, Isabella, com 18 anos e está se dedicando aos estudos, por isso quase não a vemos. Ela é o orgulho dos pais e do irmão.
— Entendo, aqui é mesmo um bom lugar para refletir, e confesso que faço às vezes o mesmo. — exprimo a olhar para longe. Vejo que Ramon está na Baia pegando um cavalo. — vai Domá-lo hoje, Ramon?
— Sim, acredito que preciso de um pouco de Adrenalina.
— Vou com você, quero ver como Café irá se sair.
— Nesse caso vamos lá senhorita. Hoje você planeja o pegar o Cascudo para treiná-lo?
— pretendo sim, mais tarde. Acredito que ele tem um grande potencial, pelo menos será um ótimo cavalo para obedecer comandos.
— Que ótimo Eloá. — Assim sendo seguimos para o Redondel.
Café está no início da Doma.  Mas Ramon é um ótimo Domador e igualmente bom no treinamento dos cavalos como também dos cavaleiros. Ramon é um dos melhores treinadores de Minas, conseguindo domar ate os cavalos Xucros — são cavalos que não foram domados —. O nome que se dar pra quem Doma, cria ou treina cavalos é Ginete.
— não sei como você ainda não abriu um centro hípico para você Ramon. — É uma curiosidade que tenho, pois Ramon é muito disputado por ser um ótimo treinador.
— eu gosto do Haras Ferradura de Ouro e aqui tenho uma sociedade com seu pai que é até favorável para mim e por enquanto estou bem aqui.
— você está certo. Papai é muito grato a você por você ter me treinado, assim como Estrela para sermos campeãs. — lembro-me que desde que me entendo por gente, monto em cavalos. Comecei com Sebastião me ensinando com papai aos 3 anos. 
— Você tem vocação para ser uma amazona Eloá, sempre teve, só precisou de treinamento para ser a melhor.
— É, eu era mesmo.
— Você já não tem mais certeza?
— Não mais Ramon. É muito confuso, eu sei.
— te entendo Eloá, e jamais vou julgar você. Todos nós temos direito de mudar de ideia. — ele fala e tenho vontade de chorar porque queria que os meus pais me apoiassem assim também.
— quero tanto que os meus pais entendam a minha decisão, Ramon. Sei que está chegando a hora de conversar com eles sobre ter desistido e tenho certeza que será difícil.
— só faça o que seu coração pedir, Eloá sabe que tenho um carinho muito grande por você. Eu a vi crescer menina e sei que os seus pais vão aceitar sua decisão.
— Que Deus te ouça Ramon. Agora vamos parar de papo furado, quero ver você Domar o café.
— é pra já. — e assim passamos a maior parte da manhã.
Fui almoçar um pouco tarde e depois tirei um tempinho para mim.
Eu estou tentando me encontrar. Mas como fazer isso enquanto a inscrição da competição fica pairando sobre mim? Também não estou preparada para enfrentar meus pais. Fico no quarto assistindo filmes no notebook. Se pelo menos Natália estivesse aqui, nós ligaríamos a TV e assistiríamos juntas. Mas a realidade é outra, a nossa briga foi feia o bastante para não procurarmos uma, a outra.
Já era mais de 18 horas quando Laura vem no meu quarto.
— Eloá, papai e mamãe chamaram você para jantar. — ela me olha apreensiva. Laura é bem diferente de mim. Ela nunca quis Montar cavalos quando criança. Às  vezes ela monta, mas é só por Hobby.
— É hoje, não é Laura? — Fico de pé olhando para minha irmã que confirma com a cabeça.
— Sim, as inscrições vão até terça-feira porque o campeonato se iniciará dia 28 até o dia 30.— os meus olhos se enche de lágrimas.
— Não quero decepcionar os nossos pais, Laura. — minha irmã me abraça.
— eu sei que não quer, Eloá. Mais seus desejos devem ser considerados. Tem certeza que não deseja mais participar dos campeonatos e torneios de hipismo?
— Eu não sei Laura. Mas não tenho mais a mesma paixão de antes.
— então fale com nossos pais, Eloá. Eles terão que entender. Agora enxugue as suas lágrimas e vamos lá. Eu vou está sempre ao seu lado. — enxuguei as minhas lágrimas e então fomos juntas para a sala de jantar.
— Olá Eloá. Não a vejo desde ontem a tarde minha filha, está tudo bem? — Minha mãe me pergunta preocupada.
— Sim, mamãe está sim. Estive conversando com Ramon hoje e ajudando ele a Domar e treinar Café no Redondel.
— Que ótimo minha filha. — minha mãe fala sorrindo.
— A Imperatriz está perfeita para um campeonato. —começa papai
— mas minha aposta para um vencedor é o Fergus. Ramon como sempre fez um ótimo trabalho domando-o ele obedece comandos como ninguém. E se você iniciar o treinamento com ele amanha, em pouco tempo estarão em sincronia com o adestramento, você é a melhor nessa modalidade.
— papai... — tento interrompê-lo. Mais não tenho sucesso, pois ele continua a falar e falar e mamãe entra falando também. 
— Para mim,  imperatriz é a melhor, já que Eloá é mais familiarizada com uma égua que com um cavalo. — mamãe expressa sua opinião sem se importar com o que estou tentando dizer.
— Sim, pode ser também. Acredito que a Imperatriz possa está a altura de um campeonato. Mas para uma Olimpíada será Fergus. Eu que o escolhi especialmente para Eloá. — eles continuam e continuam em suas discussões entre si. Como se eu não estivesse presente ou como se a minha opinião não importasse. E isso me deixa na borda. Eu olho para Laura que mexendo com os lábios e diz sentir muito.
— CHEGAA... — vocifero. Sei que não posso falar assim com os meus pais, mas cheguei no meu limite.— Eu estou aqui, não estão vendo?
— claro que sim filha. Por isso estamos aqui falando com você.— diz mamãe
— vocês não estão falando comigo, estão dialogando entre si.
— mas já está tudo resolvido minha filha.
— como assim papai?
— simples, eu sempre quitei os registros todos os anos, mesmo quando você estava parada se recuperando. —  papai me notifica.
— Mas estou parada a mais de 2 anos, pai.
— Mas sei que vai voltar querida. Já até cuidei das inscrições para as disputas oficiais e se Deus quiser na próxima olimpíada você estará participando.
— Não vou papai.
— como assim não vai menina? — percebo quando ele fica confuso com minha afirmação.
— não é mais meu sonho papai, eu não tenho mais vontade de continuar profissionalmente com o hipismo, não como atleta. Eu amei participar das competições e olimpíadas a alguns anos atrás. Mas depois da minha desclassificação eu mudei de ideia e mudei de planos e não quero ser mais uma Amazona.
— Você não pode, está falando sério Eloá. — meu pai grita e bate com os punhos na mesa.
— você tem ideia do quanto gastamos para manter a inscrição aberta? Ou enquanto você estava curtindo seus caprichos de esperar Estrela se recuperar? Eu fui paciente porque sua mãe pediu. Não vou admitir que você abandone sua carreira.
— já está decidido, papai, eu não quero mais participar do esporte como carreira. Não é mais minha paixão.
— isso é inadmissível, menina, você não sabe o que está falando, está tudo preparado para você Eloá. Não pode nos decepcionar, já que trabalhamos duro para manter você no mundo do esporte hípico. Você ganhou medalha de prata na Olimpíadas, foi a melhor em adestramento na equipe.
— eu tinha 17 anos, papai, isso é passado. Sonhos mudam e eu não quero mais participar. Não é algo que eu desejo seguir como carreira, não mais e vocês deveriam respeitar minha decisão.— falei um pouco alto e já estava chorando porque eles não me entendiam.
— tenha mais respeito por seu pai Eloá, ele só quer o seu bem. Como pode falar assim conosco que fizemos sempre de tudo para você?. Como pode abandonar a sua carreira assim?
— Estrela se machucou e eu me senti extremamente culpada pensando que foi por algum descuido meu. E eu também me machuquei. Eu não quero e não acho justo seguir um desejo de vocês porque é o que querem. Sabe o que dói? e que eu nunca tive escolhas contra vocês, só tenho que seguir o que propõem porque não me dão alternativas.
— Estrela se recuperou bem Eloá, e você deve seguir enfrente, continuar sua carreira de onde parou.
— me desculpe, mas não vou pai. Eu amo os cavalos, amo montar e passear, gosto do esporte hípico sim, mais como Hobby, não quero mais seguir como carreira.
— você não pode jogar fora sua carreira no mundo do atletismo por uma besteira dessa de que não é seu sonho. Claro que é sempre foi,  você nasceu para isso. Essa palhaçada já perpetuou por muito tempo, agora basta. — Papai gritou comigo e eu chorei, minha irmã veio me abraçar e minha mãe ficou do lado do meu pai e a gota d’água foi minha mãe falando.
— Pode para com essa sua birra Eloá e esteja preparada para o campeonato no dia 28... — eu saio de lá correndo sem dar ouvidos a eles.
Eu corro para longe nesse momento, nada que eu diga os farão mudar de ideia, e só servirá para eu falar coisas que eu vou me arrepender mais tarde. Por isso o melhor que faço é sair de perto deles. Choro inconformada. Eu não sou mais uma criança. Poxa,  eu tenho 22 anos e posso tomar as minhas próprias decisões e não vou fazer o que não quero.
Eu vivi a minha vida toda no haras e nos campeonatos para agradá-los para ser o que eles sempre sonharam. Mais chega. Eu fui para meus pais, a ponte para realizar os sonhos deles, mas quem vai realizar meus sonhos se não for eu? Só paro de correr quando minhas pernas cansam e o ar me falta. E então paro e percebo que estou longe de casa e a escuridão da noite e a minha única companhia. Mesmo assim não me importo. Não me importo com nada, só não quero voltar para casa, não agora. Está aqui na estrada me traz um alívio temporário, me acalma essa sensação de paz, esse silêncio. Eu começo a andar devagar, continuo caminhando, não sabendo para aonde ir, nem trazendo nada comigo.
E aí que vejo um carro saindo da fazenda de Corrado. Eu nem notei que passei a fazenda dele. Só quando o carro para perto de mim e abaixa o vidro que o vejo. E nessa altura que mais lágrimas saem dos meus olhos e solto um soluço: Corrado percebe que estou chorando e desce do seu carro e vem andando apressadamente  ao meu encontro e eu me jogo nos seus braços.
— O que aconteceu com você meu anjo? Porque está chorando assim? — Eu não digo nada, só continuo apoiada em seus braços e chorando toda a decepção que estava sentindo. Ele passa as mãos em meus cabelos e por minhas costas.
— vai ficar tudo bem, está tudo bem agora. Shhh... Eu estou aqui para você, meu Anjo. — e ele me abraça com seu corpo forte e me sinto segura. A sensação de proteção em seus braços vai me acalmando e fazendo com que meus prantos cesse gradualmente. Ele é paciente comigo, me deixando ficar agarrada a ele, molhando sua camisa com minhas lágrimas e respirando seu perfume maravilhoso.
Olhando agora para sua camisa ensopada, vejo que ele estava arrumado para ir a algum lugar. Percebendo que posso estar atrasando ele para algum compromisso, me solto dele, limpando meu rosto, tentando parecer no meu melhor nesse momento.
— muito obrigada por me consolar, Corrado. Não queria ter incomodado você.
— Você não me incomoda nunca, Eloá. O que aconteceu? Alguém te machucou? — ele passa a mão por meu rosto, olhando meu corpo procurando por algum ferimento.
— Porque não está em casa? Você está bem?— Quando me lembro de casa, só tenho vontade de chorar.
— eu não estou bem, mas não quero te aborrecer com meus problemas e vejo que você estava saindo. Então acho melhor eu ir. — começo a seguir e ele me para, segurando cuidadosamente meu braço.
— E para onde você pretende ir nesse estado, Eloá?
— Não sei Corrado. Eu só não quero ir pra casa. Não agora. — sei que estou sendo infantil, mas não suportaria ver meus pais agora.
— Venha vou te levar para o meu chalé.
— Você estava saindo Corrado. Não posso te importunar com minhas lamúrias.
— Venha, vamos lá, não vou ter paz deixando você sozinha nessa estrada a essa hora da noite. — ele pega em minha mão com cuidado e me leva até o seu carro.
O farol do carro ficou o tempo todo aceso. Ele abre a porta para mim e me sento no banco do passageiro. Ele fecha a porta, dá a volta e senta no banco do motorista. Afivela o seu cinto e o meu. eu estou tão aérea com tudo que aconteceu. Só encosto a minha cabeça no vidro do carro e fico olhando para fora. Ele manobra o carro e começa a dirigir de volta para o seu chalé. Não tenho como agradecê-lo pelo que está fazendo por mim. Eu não tinha a quem correr.

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