capitulo 44

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             CORRADO MARTINELLI

                 3 DIAS DEPOIS

Eu estou atolado até o pescoço de trabalho. Deixei acumular tanto os da empresa como os do Hotel, e algumas responsabilidades que tenho com os negócios da parceria com Ângelo. Estou trabalhando muito e dormindo pouco. É cansativo, mas me mantém focado no que interessa, que são meus negócios, a única coisa que realmente tenho controle em minha vida de merda. Meu telefone, toca.
— bom dia, Corrado.
— Bom dia, Paolo. Já estão a caminho?
— decidimos que vamos de carro. É o melhor para nossa filha. Vai demorar um pouco. Mas penso que amanhã estaremos aí.
— Está certo. Também planejo ir de carro para BH.
— pensa em vir quando?
— Domingo à noite ou segunda de madrugada. — informo, tentando não pensar em tudo que vou deixar pra trás e na saudade que vou sentir da minha pequena traiçoeira. Não nos falamos desde a nossa discussão na segunda-feira. E não tem sido fácil ficar longe de Eloá em que seria nossa última semana juntos, mas às vezes penso que não mereço Eloá, que talvez ela fique melhor sem mim.
— ... Tem seu consentimento? — Não estava ouvindo nada que Paolo estava falando.
— Pode repetir? Não estava prestando atenção.
— porque não foi atrás da Eloá, Corrado?
— talvez ela fique melhor sem mim, Paolo. E não quero entrar nesse assunto.
— Você ainda vai se arrepender de ser assim. Mas como dizia antes, se quiser pode vir conosco no nosso carro, é bom que podemos revezar a direção para não ficar cansativo.
— Certo, eu concordo. É bom que meu carro fique na fazenda.
— tem uma coleção te esperando aqui, não vai nem sentir falta.
— Não mesmo.
— já entregou o Dossiê a Osvaldo?
— Ainda não, planejo ir lá hoje à tarde entregá-lo e conversar com ele.
— Certo, depois me informe como ocorreu a reunião.
— Claro.
— Nos vemos amanhã, irmão, e juízo. — desligamos, e comecei a colocar alguns documentos que teria que levar em pastas e fiquei nessa até baterem em minha porta.
— Entre.
— venha almoçar, Corrado, ou vou trazer a comida para você aqui no escritório. Eu vi que você não tem jantado.
— já estou descendo, Conceição. Obrigado pela preocupação, mas estou bem.
— Por que você e a menina Eloá brigaram? — Paro o que estou fazendo e coloco as mãos no rosto.
— Ela achou ruim o jeito que tratei minha mãe. — Digo cansado.
— Você não contou nada a ela ainda?
— não, você sabe como me dói reviver aquela noite, Conceição, a dor da humilhação, a desolação, a traição, parte de mim morreu naquele dia. — Conceição me abraça.
— Você tem que se libertar dessa dor, dessa revolta, meu menino. Esquecer do passado, só assim poderá seguir em frente com a menina Eloá. Enquanto seu coração estiver cheio de ódio e desejo de vingança, não verá o amor que você tem das pessoas que estão à sua volta. Liberte-se, Corrado. — Ela fala ainda abraçada a mim.
— É muito difícil, Conceição.
— Você já tentou perdoar sua mãe?
— Nunca nem pensei nessa hipótese.
— Às vezes para esquecer,  devemos perdoar, filho. Dar o perdão costuma aliviar dores.  — Ela diz beijando minha cabeça e saindo. Me deixando mergulhado em minha escuridão e dúvida. Será que conseguiria dar perdão a quem tanto me fez mal?

               HORAS DEPOIS

Estou me dirigindo ao Haras com o dossiê. Assim que estaciono na frente da casa de Osvaldo, vejo Helen à minha espera.
— Boa tarde, Helen. Eu tenho uma reunião com Osvaldo.
— Boa tarde, Corrado. Ele está à sua espera no escritório. Vou te acompanhar até lá.
— Obrigado, Helen. — Eu a sigo para dentro da casa deles, que é muito bonita, é a cara do Haras, vários quadros de cavalos e alguns certificados espalhados pelas paredes, tudo muito lindo e rústico. Parando na porta da sala de Osvaldo, Helen bate na porta e, depois de dizer que eu estava ali, ele pede que eu entre.
— Boa tarde, senhor Osvaldo.
— Boa tarde, Corrado. Está tudo bem?
— Sim, tudo ótimo. E o senhor?
— Bem também. Depois da reunião, quero ter uma palavra com você.
— Claro, senhor Osvaldo.
— Então, do que se trata a reunião? — Agora entro no modo trabalho. Vou até sua mesa e entrego a ele o dossiê.
— Antes do senhor abrir o dossiê, gostaria de explicar o que me levou a investigar seu filho.
— Como assim investigar João Pedro?
— eu ter vindo parar aqui no Haras ou na fazenda não foi coincidência. Eu saí de BH porque tive acesso a informações sobre a venda do seu Haras para Walter. Não sei se sabe, mas Walter e eu temos alguns problemas, e bem, jamais deixaria ele comprar terras perto da minha.
— mas como posso estar vendendo essas terras para Walter sendo que nunca nem o vi? E o que João Pedro tem a ver com tudo isso?
— É nesse ponto que seu filho entra. Ele é quem estava vendendo as terras para Walter. E só tive essa confirmação quando conversei com você, que se negou veementemente a vender o Haras. Como não tinha provas, eu paguei um investigador para que me trouxesse provas concretas para mostrá-las ao senhor. — explico e vejo Osvaldo se levantando da sua mesa e indo até o minibar, servindo dois copos de bebida e me entregando um.
— Prossiga.
— Veja bem, eu demorei muito para ter acesso a tudo que João Pedro está envolvido, e não é boa coisa, Osvaldo. Acredito que você deveria ler o dossiê e parar João Pedro antes que seja tarde demais. — Espero ele digerir um pouco do que falei e vejo ele se sentando e folheando os arquivos.
— Antes, eu estava pensando só na vingança. Mas depois que conheci melhor o senhor e bem, Eloá, me preocupei também com vocês de modo geral, porque se João Pedro estiver mesmo envolvido com essas pessoas, é perigoso para ambos, tanto para ele quanto para todos vocês.
— Aqui está dizendo que ele está devendo Agiotas, consumido drogas, já perdeu o carro e até o apartamento que valeu uma fortuna. O apartamento que comprei para ele cuidar de Laura enquanto ela se formasse. — Osvaldo parecia desolado em meio a tantas provas, e quando chegamos aos documentos aos quais tive acesso com muito custo, vejo que ele fica abalado no primeiro momento, depois em choque, e por último, com ódio.
— Eu sinto, muito Osvaldo, mas tive que investigar a fundo. Não podia deixar Walter comprar suas terras, nem alguma agiota as tomar de vocês.
— Fez certo, filho. Eu agradeço muito a você, Corrado. Sempre confiei em João Pedro e dei tudo o que você possa imaginar para que ele crescesse profissionalmente. Culpo-me por ele ter ido embora com a tia. Fiquei pensando que havia pecado como pai, que não era para ter arrumado uma esposa depois de apenas um ano de ter ficado viúvo. E por esse peso na consciência, fui fazendo seus caprichos. Se eu tivesse sido firme com ele desde o início, não teria chegado a tanto. — ele desabafa colocando as mãos no rosto, desolado. — Pior de tudo, ou alguém da fazenda o manipulou, ou ele manipulou alguém, porque os documentos que estão em sua posse são autênticos.
— Aconselho o senhor agir com muita cautela e frieza neste momento. Espere ele vir aqui para colher sua assinatura de algum modo e só então o senhor tenha uma conversa firme com ele. Acredito que o senhor tenha uma ideia de quem é o ajudante dele. Não é mesmo?
— Sim, tenho quase certeza que sim. Só duas pessoas do Haras sabem a senha do meu cofre.
— Então não deixe ele descobrir até a chegada de João.
— Tem razão e obrigado mais uma vez, Corrado. Você é um bom homem, filho. — ele diz vindo até mim e batendo em meu ombro. — Você só veio a Fazenda para comprar o Haras e ficou até entregar o dossiê. Isso quer dizer que está indo embora? — ele me olha esperando minha resposta
— Sim, Osvaldo. Meu trabalho aqui acabou. — digo, engolindo em seco.
— E como vai ficar o seu relacionamento com minha filha? Nesses últimos dias, ela estava muito triste e Helen a pegou chorando duas vezes. É porque ela sabe que você vai embora?
— Não, senhor. Eu ainda não contei sobre minha partida. Nós dois tivemos uma discussão. E quanto ao nosso relacionamento, eu sou um homem de palavra, Osvaldo. Se Eloá quiser manter nosso relacionamento, prometo que serei fiel a ela enquanto estivermos juntos.
— Penso que você deveria falar com ela, sobre filho, esclarecer as coisas. Eu apoio vocês e o que decidirem concordarei.
— Obrigado, Osvaldo.
— Por nada, filho. Agora vá ver a minha menina.
— Sim, senhor. Com licença. — então saio de sua sala e encontro com minha pequena quando estava saindo da sala de seu pai. Ela está muito abatida, e quando me vê, se assusta, e vejo quando seus olhos se enchem de lágrimas. Também senti sua falta, pequena traiçoeira.
— Acredito que precisamos conversar, Eloá.

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