capítulo 55

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ELOÁ GOMES

Eu estou no quarto e tenho vontade de gritar. Olho para as minhas coisas que Jana está arrumando na mala e sinto vontade de desistir da decisão de deixar este lugar que foi meu lar por quase 30 dias. Vou até a janela e olho para fora, a cidade não para, carros e pessoas em movimento incessante. Sinto vontade de bater em algo, encosto minha cabeça na janela e choro. A dor é tão forte.
- Por que você não esfria a cabeça, menina? Estou vendo o quanto está sofrendo por ter que deixar o Corrado. - Jana diz e eu a abraço, soltando soluços e lágrimas.
- Estou tão confusa, Jana. Meus dias aqui foram maravilhosos, mas tão incertos. Não sei se é realmente o meu lugar. Márcia foi tão cruel comigo, Jana. - desabafo.
- Oh, minha menina! Você não deveria dar ouvidos a pessoas que vivem para infernizar a vida dos outros. Ela queria desestabilizar você e está conseguindo. Corrado nunca foi tão feliz, Eloá. - ela me fala e eu sei disso. Dormi ao lado dele incontáveis noites e em todas senti seu amor, carinho e proteção.
- Ela disse, Jana, que uma noite antes dele viajar para a fazenda ele esteve no Club. Ela me contou que ele pegou uma moça e ficou com ela na frente de todos no nível 5... - Saio do abraço de Jana e olho para a janela, lembrando-me de cada palavra de Márcia. Ela disse que Corrado mandou a mulher se ajoelhar e abrir sua calça para que ele pudesse receber sexo oral dela. E enquanto isso, Ângelo apareceu e Corrado permitiu que ele transasse com ela, os dois fizeram isso, para todos verem. Ele estava bêbado, beijou outras mulheres e foi para o quarto com uma loira. Que ele nunca pegava morenas.
Tudo isso me desestabilizou, me trouxe insegurança.
E se eu não for suficiente?
Eu nunca fiz sexo oral nele. Eu nem sou loira.
Qual é a fixação dele por loiras? Vou ficar louca.
Nós dois somos bons na cama, mas até quando?
E se ele se cansar?
E se nossa relação esfriar?
Ele terá livre acesso para transar com várias mulheres, e eu nem sonharia em descobrir. Ouvir tudo o que Márcia falava sobre a vida de Corrado no Club me chocou de tal forma que me fez duvidar se estava agindo corretamente, se não estava sendo precipitada em achar que poderia haver um futuro para nós dois.
- Olha querida, eu não vou me intrometer na história de vocês, mas acredito que você está tomando uma decisão equivocada. Conheço Corrado há anos e ele nunca trairia ou machucaria você. Ele foi muito ferido para ter coragem de ferir alguém. - diz ela, enquanto volta a colocar minhas coisas em várias malas. Realmente ganhei muitas coisas de Corrado, toco em meu colar e o aperto forte.
- O que faço, meu Deus? - pergunto, olhando para o céu. Quando tudo está arrumado, saio do quarto tentando conter minhas lágrimas e procurando ver Corrado mais uma vez. O encontro na academia, está tão envolvido em dar socos e chutes no saco de pancada que não nota minha presença. Deixo várias lágrimas caírem ao observá-lo ali. Ele me mostrou uma vida que eu jamais sonharia em viver, me fez a mulher mais feliz do mundo, e eu estou jogando tudo fora porque não consigo lidar com seu passado. Estou para entrar na academia e dizer que quero confiar nele, contar meus medos e inseguranças, quando o senhor Carlos aparece.
- Está tudo pronto, senhorita Eloá. Suas coisas já estão no porta-malas e o piloto nos espera.
- Ok, senhor Carlos, já estou indo. - falo, e ele me deixa sozinha. Olho mais uma vez para a porta de vidro fechada da academia, meu Corrado lá dentro batendo incansavelmente no saco de pancadas.
- Que você possa me perdoar, amor. Que esse não seja nosso fim. Eu te amo. - peço em um sussurro e deixo o lugar, ou me atiraria nos braços dele. Talvez nós dois precisemos desse tempo para pensar. Tento me convencer disso.
Vou até a cozinha para me despedir de Jana.
- Muito obrigada, Jana. Eu amei passar meu tempo aqui com você. - a abraço tentando conter minhas lágrimas. Ela me abraça forte.
- Cuide-se, menina. Seja feliz e espero que você tenha certeza da decisão que está tomando. - eu balanço a cabeça confirmando, eu também esperava. Estou seguindo Carlos para o elevador, Quando volto para trás.
- Não deixe ele se afundar só no trabalho, Jana. E faça ele se alimentar direito. E que ele durma bem também. Tenho medo dele não se cuidar. - lágrimas correm por meu rosto. Ela diz algo que não ouço mais. Eu olho para a enorme cobertura que foi meu lar, e um filme passa na minha cabeça, as noites de filmes, as risadas e confidências trocadas.
Carlos me puxa da minha névoa de dor, e seguimos para o heliponto da empresa Martinelli. Eu segui o voo todo calada.
Cheguei no Haras era bem tardezinha. Natália estava lá me esperando. Minha mãe e meu pai me abraçaram e falaram como sentiram minha falta. Perguntaram se eu gostei de lá. Eu falava com minha mãe todos os dias, até fazíamos chamadas de vídeo.

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