capítulo 63

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              CORRADO MARTINELLI


              ALGUNS MESES DEPOIS


Estes meses passaram voando. Estou viajando para a fazenda sede, precisando resolver algumas coisas por lá. Eloá está indo comigo. Ainda estamos morando na cobertura. Ela pensa que, como não tem tantas aulas por dia, seria besteira nos mudarmos por causa da distância para chegar ao meu trabalho. Eu não me importaria, são 30 minutos da cobertura até a Hípica, não seria nenhum incômodo. Fiquei alguns meses sem uma secretária que se adequasse ao trabalho, até que Joana apareceu. Ela é uma ótima secretária, muito pontual, e reorganizou toda minha agenda, me dando bastante tempo livre para ajudar Eloá com as coisas do nosso casamento. Resolvemos que vamos nos casar no haras dos pais dela, daqui a duas semanas. Ela está nos preparativos a todo vapor.
Conversamos muito, e ela achou errado não ter convidado minha mãe Ana para o nosso noivado, e disse que se quiséssemos ter uma família, eu teria que aprender a perdoar. Ela até mesmo fez com que eu e Dario nos acertássemos, disse que irmãos não podem ficar guardando ódio um do outro, e que passado é passado. E que Ana seria a avó dos nossos filhos, e que não é legal os netos não terem avós por perto, seria cruel afastá-los dela. E como Eloá sempre faz, de mansinho plantou a semente. Agora estou indo para a fazenda ter uma conversa com Ana.

Chegamos de helicóptero já passava das 10 da manhã, e Eloá foi direto para o Haras. Disse que eu tinha que falar com minha mãe a sós, e que estaria me esperando lá. Joaquim me deixou na fazenda e levou Eloá na casa dos pais. Eu entrei no casarão e fui direto para a cozinha procurar Conceição.
— Bom dia, Conceição. — Cumprimento ela quando a vejo deixando o pano de prato que segurava e vindo correndo em minha direção para me abraçar.
— Oi, meu filho. Tem tempo que não te vejo. Como você está? — Ela pergunta chorosa.
— Estou bem, Conceição. E a senhora?
— Estou bem também, meu filho. E como estão indo os preparativos para o casamento?
— Está sendo bem cansativo, Conceição, mas acho que está saindo do jeitinho que a Eloá quer. — Falamos mais um pouco sobre o casamento e eu a convido, juntamente com sua família, para participar da cerimônia. Já havia mandado os convites, mas reforço novamente.
Assim que acabo de tomar meu café, pergunto:
— Onde está minha mãe, Conceição? — Ela fica paralisada, parecendo surpresa com minha pergunta.
— Ela está nos jardins atrás do casarão. Você vai falar com ela, Corrado? — Confirmo com a cabeça.
— Ah, meu filho, você vai convidá-la para seu casamento? — Confirmo novamente.
— Sua mãe ficará muito feliz, ela chorou tanto porque não participou do seu noivado. — Diz Conceição.
— Eloá me convenceu, você sabe como essa menina é o meu mundo, Conceição. Não tem nada que ela me peça que eu não faça.
— Faz bem, meu menino. — Diz Conceição, um tempo depois Ana aparece.
— Com quem está conversando, Conceição? — Pergunta minha mãe. Ela me vê na cozinha, perto da ilha, fica surpresa e confusa.
— Oi, meu filho. Está com algum problema? — Pergunta minha mãe, parecendo perdida.
— Não, Ana, eu só vim aqui para falar com você.
— Comigo? — Ela pergunta confusa.
— Sim, podemos?
— Claro, filho. Venha, vamos à biblioteca. Quer tomar alguma coisa?
— Não, estou bem assim. — E então a sigo até sua biblioteca. Lá, ela abre as cortinas e se senta em uma poltrona.
Eu fico de pé e vou até as janelas, com as mãos nos bolsos da calça, ficando de costas para ela. Observo a movimentação dos trabalhadores.
— Eloá pediu para falar com você. Ela acha que não é justo que você fique sem participar da festa do nosso casamento e disse que eu deveria convidá-la pessoalmente. Então, Ana... Bem, você está convidada para o dia do nosso casamento. Acredito que os convites já devem ter chegado. — digo com um nó na garganta. Não é fácil falar com minha mãe de forma pacífica, sem acusações, nem mesmo falar palavras com rancor. Estou realmente tentando ser melhor por minha família.

— Eu agradeço muito, filho, e vou amar ir ao casamento de vocês. Muito obrigada. — responde minha mãe.

— Por nada, Ana... Enfim, era só isso que eu queria falar. Vou indo, tenho que passar no Haras para pegar Eloá. — digo enquanto me viro para sair. Minha mãe, no entanto, me chama:

— Filho, espere. — e eu paro, esperando para ouvir o que ela tem a dizer.

— Eu sei que não mereço seu perdão, filho. Eu me culpo todos os dias da minha vida pelo que aconteceu naquela noite. Me culpo por não ter falado nada com você. —  ela diz, soluçando.

— Mas eu sabia como você amava os dois, filho, sabia como seria duro para você. E que por telefone não seria adequado dar uma notícia dessas. Mas eu te disse que deveríamos chegar mais cedo, que você deveria falar com Walter antes da festa. Eu não poderia, filho, ser fofoqueira e chegar e te contar algo que não é um segredo meu. Não quando Manu me procurou falando o quanto te amava, e que estava arrependida. Que ela foi fraca, mas que estava sozinha, confusa, e claro que isso não anula sua culpa. Mas que precisava conversar com você e expressar em palavras o quanto você era importante para ela. Mas a situação fugiu do controle, filho. Se ela não tivesse me pedido para falar com você antes, eu teria contado. Mas já estava tudo um caos. Eu tinha esperanças de que vocês se resolvessem, porque Walter tinha se afastado dela. — disse minha mãe, chorando.

— Você acha mesmo, Ana, que perdoaria uma traição? Jamais, Ana. Nunca traí ninguém e também jamais aceitaria ser traído. Se Walter tivesse me falado naquele dia que eu tinha ido buscar a senhora, eu não teria as mesmas reações, não teria desencadeado tantos traumas, ódio, dor. Porque não teria sido na frente de todos, e não teria descoberto que a senhora também sabia. Foi o todo que me fez pirar e odiar a todos, foi o não saber em quem confiar, a deslealdade. Enfim, mãe, não quero mais relembrar do passado. Já não me dói como antes, me libertei daquele ódio todo, e a dor foi junto. Hoje só tenho meras lembranças ruins. Não quando estou tão feliz com meu presente, confiando de novo, amando, sendo feliz e vivendo. Eloá me trouxe a paz que tanto procurava. — falo, já indo embora, mas paro. Engulo em seco e olho para ela. Há anos que não olhava para minha mãe, e hoje faço isso. Ela está mais velha, com cabelos loiros bem cuidados e olhos azuis idênticos aos meus.
— E eu te perdoo, mãe. Algumas pessoas queridas da minha vida me fizeram entender que, para seguir em frente e ser feliz, deveria liberar o perdão. Só assim posso amar alguém de verdade. E eu amo demais Eloá, e a família que estamos construindo. Não quero levar mágoas, ressentimentos ou ódio para a minha nova fase.
— Ah, meu filho. Você me chamou de mãe. — ela chora sem parar. — Como esperei para ouvir você me perdoando e me chamando de mãe de novo. Chegou uma época em que nem acreditava mais que fosse possível. Muito obrigada. Que Deus abençoe vocês, meu filho. Que seu casamento seja feliz e abençoado.
— Amém, mãe. — E assim saio da biblioteca mais leve. Perdoar não é esquecer, mas é seguir em frente, e é isso que estou fazendo.

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