capítulo 60

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                       ELOÁ GOMES

                   SETE DIAS DEPOIS


Hoje faz sete dias que Corrado saiu daqui sem dizer uma só palavra a mim, além do olhar de decepção e acusações infundadas, me deixando magoada.

Estou cansada de ter que correr atrás de Corrado, de sempre ter que esperar pelo tempo dele, de sempre ficar arrasada por ele. Acho que ele deveria entender que não está mais sozinho, que tem alguém que ama e sofre por ele, que luta por nós. E não ficar com quatro ou cinco pedras para me afastar achando que sou igual aos que o feriram.

Depois que me levantei e cuidei da minha higiene, vou para a cozinha. Natália está sentada à mesa, assim como Laura e meus pais. Diferente de todos os outros dias, não falo bom dia, só me sento. Sirvo-me com meu café e tomo com o pensamento distante.

João Pedro aparece pouco tempo depois. Ele está mais recuperado dos ferimentos que sofreu, está ficando de pé sozinho, só não aguenta ficar muito tempo porque sente dor.

— Bom dia a todos. — ele fala e se senta à mesa. Todos continuam calados. Papai está ignorando ele, e bem, eu e Laura nunca falamos com ele mesmo, assim como mamãe, ele pouco falava com ela.

Depois de tomar meu café, peço licença e saio da mesa, e Natália me acompanha. Eu quero andar um pouco, então vou para fora, e Natália me segue.

— Como está se sentindo hoje, amiga?

— Não sei dizer, Natália. Acho que estou decepcionada, não tem outra palavra para definir o que estou sentindo. Decepção e vontade de desistir. — Digo com meus olhos cheios de lágrimas. Natália me abraça, e ficamos andando assim até encontrar um banquinho e nos sentarmos nele.

— Calma, amiga. Não se precipite. Tudo vai se ajeitar. Sei que tem coisas que não têm explicação, mas ele precisa estar bem para falar com você. Ele deve estar cuidando dele mesmo da mente, para não se perder. Se ele chegou ao fundo do poço como você mesmo me disse, qualquer coisa é um gatilho.

— Eu sei, Natália. Mas se esconder de mim? Não me ligar ou nem mesmo uma mensagem. Sem falar nas palavras e olhar de ódio e decepção direcionados a mim.

— Te entendo, amiga. Ele foi duro, mas ele estava sofrendo, Eloá. Ele viu tudo acontecendo nas costas dele e o deixou desestabilizado. Ele está tão acostumado a curar suas feridas sozinho que não sabe ser diferente. Acontece muito. Espere um pouco, conversem primeiro, para depois tomarem alguma decisão juntos. Ele já sofreu demais, amiga, se você o abandonar assim, talvez seja pior.

— Mas será que ele não pensa em mim, poxa? Ele não vê como o amo, como estou lutando por nós? — falo, olhando para o nada, cansada.

— São perguntas que só ele pode responder. E o primo traidor foi embora?
— Sim. Ele disse que sempre ligaria para saber sobre João, mas que trouxe muitos transtornos. Ele se desculpou e foi embora, dizendo que apareceria na cidade vizinha para acompanhar meu pai quando ele levasse João para a clínica.
— Melhor assim. Essa história toda ainda me confunde. Não consigo acreditar que existem pessoas que ainda brincam com os sentimentos dos outros assim.
— Nem me fale, Natália. Se você ouvisse como ele contou, não há como não culpá-los. Corrado tem razão em não confiar em ninguém. Eu nem sei como reagiria com tanta maldade.
— Pois é, amiga. Espere um pouco, pelo menos uma última conversa vocês deveriam ter. — Natalia tem razão. Eu toco meu pingente e faço uma oração para que Deus proteja Corrado e que ele dê notícias logo. Tocar meu pingente quando penso nele virou algo natural para mim.

Assim, passamos um tempo conversando. William já viajou e eles estão falando por mensagem ou ligação, mas muito raramente. Natalia está tentando se acostumar com a falta que William fará para ela.
Já era bem tarde da noite, eu e Natalia estávamos nos arrumando para dormir quando meu telefone tocou. Eu fui ver quem era e meu coração acelerou. Era Corrado. Fiquei paralisada olhando para o celular tocando e não atendi, não quando não sabia o que falar. O toque cessou.
— Por que não atendeu, amiga?
— Não sei, Natália. Estou com medo de atender. Não sei o que ele vai falar. — Eu me sento na cama.
— Se você não atender, nunca vai saber. — Quando ia responder a Natália, o celular toca novamente. Então, tomo coragem e atendo.
— Eloá? — Corrado chama meu nome. Sua voz parece cansada.
— Oi. — Eu escuto ele soltando o ar da respiração, e meu coração se aperta.
— Me desculpe, perdoe-me. Eu, eu sou um idiota. Não mereço você. Eu fui um filho da puta com você. Estava tão confuso, Eloá, tão perdido. Ainda estou, para falar a verdade. O passado sempre me deixa na borda. — Sua voz parece embargada. Sinto um nó se formando em minha garganta e meus olhos ardem em lágrimas.
— Onde você está? — Pergunto, torcendo para que ele me diga, para que ele fale onde está. Que confie em mim pelo menos uma vez. Ele demora, mas responde.
— Estou no meu Hotel Fazenda Refúgio do Sol, numa cidadezinha chamada Piedade do Sul. — Ele diz, e isso me dá esperança de que talvez possamos nos acertar.
— Hum, entendi. E por que não me ligou antes?
— Precisava reorganizar meus pensamentos, não queria feri-la com palavras que talvez eu pudesse dizer na força do momento. Não quando eu vi você sorrindo com Walter, aquilo foi como um soco.
— Eu falei com ele apenas duas vezes. E aquela era a segunda vez. — Digo para evitar futuras brigas.
— Não sou Manuela, Corrado. Se estou com você é porque te quero, não deveria duvidar de mim.
— Eu sei, Eloá, mas depois de levar tanta porrada da vida, ficamos meio incrédulos nas pessoas. Me desculpa, eu perdi a cabeça. — Eu fico em silêncio. Ele tem que dar o primeiro passo por nós dois também, não só eu.
— Eloá?
— Sim?
— Você pode vir onde estou? — Ele pergunta depois de alguns segundos em silêncio. Me surpreende porque não achei que ele fosse me chamar.
— Posso.
— Paolo vai passar aí para te buscar amanhã cedo. Tudo bem?
— Sim.
— Então... até amanhã, meu amor. — Lágrimas escorrem dos meus olhos. Eu as limpo com minha mão e respondo:
— Até. — Ficamos ouvindo a respiração um do outro até que desligamos depois de alguns minutos.
— E aí amiga?
— Paolo vai me buscar para irmos até o hotel fazenda de Corrado.
— Nossa, seu namorado é uma caixinha de surpresas, hein? Primeiro CEO, depois sócio de um clube de sexo e agora dono de um hotel fazenda.
— Nem me lembre do clube de sexo, por favor. — falo, jogando-me na cama e cobrindo minha cabeça com o travesseiro.
— Sabe que o William também é sócio do Ângelo, né?
— Já desconfiava.
— Pois é, estamos no mesmo barco. — Ficamos conversando mais um pouco até adormecer.


                   DIA SEGUINTE


Acordei cedo e ansiosa para ver Corrado. Enquanto tomava café, Paolo apareceu na cozinha.
— Bom dia a todos. — disse ele chegando na porta da cozinha.
— Bom dia Paolo. Entre, sente-se e tome café conosco. — disse minha mãe.
— Muito obrigado Dona Helen, mas só vim buscar Eloá. Corrado me pediu que a levasse até ele. — disse Paolo. Ainda bem que meu pai não estava aqui. Minha mãe olhou para mim e perguntou:
— Você vai, filha?
— Sim, mamãe. Preciso conversar com ele. —  respondi.
— Tudo bem, filha. Mas se cuida, tudo bem? — disse minha mãe.
Saí da cozinha para pegar uma mochila com algumas roupas, por precaução. Ouvi minha mãe interrogar Paolo sobre onde ele iria me levar. Depois de tudo arrumado, acordei Natália.
— Amiga, estou indo encontrar Corrado, tudo bem? — perguntei.
— Sim, amiga. Vá com Deus. E que vocês se acertem agora para sempre. Estou torcendo por vocês. — respondeu Natália.
— Obrigada, amiga. Te amo. — disse eu.
— Também te amo, amiga. Agora ande e vá até seu homem. — disse ela, voltando a dormir. Eu saí do meu quarto e encontrei Paolo me esperando no hall.
— Está pronta para irmos? — perguntou Paolo.
— Sim. — respondi, virando-me para minha mãe.
— Mãe, te amo. Já vou indo, viu. Mas quero sua bênção. — disse, abraçando-a.
— Também te amo, filha. Que Deus te abençoe. Vá atrás do que te faz feliz, filha. Mas puxe a orelha dele, viu. — disse minha mãe.
— Pode deixar, mamãe. — respondi. E assim, eu e Paolo saímos para encontrar Corrado.
Em certo momento da viagem, eu me viro para Paolo e pergunto:
— Você sabia desse hotel fazenda?
— Não, há muitas coisas sobre Corrado que ele nunca me contou. Como o clube, que eu descobri sozinho, onde ele era sócio de todos em Minas. Depois do que aconteceu com ele, ele se fechou para si mesmo. Mesmo sendo o irmão mais próximo, eu não sabia quase nada. — ele fala, parecendo chateado.
— Eu tenho medo que ele sempre fique assim, fechado sobre tudo. Não sei se quero isso para mim, Paolo, viver com alguém que se fecha dentro de si mesmo. — digo, olhando pela janela onde estamos passando por uma estrada de terra, com várias fazendas bonitas.
— Depois que Corrado te conheceu, ele se abriu mais, Eloá. Acredito que ele vá se abrir cada vez mais para você. E se você o ama e quer ficar com ele, deve ter um pouco de paciência e falar com ele sobre o que te incomoda. Acredito que, aos poucos, ele mudará. Ele já deu um passo enorme, deixando você entrar na bolha dele.
— Como assim?
— Ele nunca levou ninguém nesse hotel. E quando ele vai para lá, nunca liga o celular ou até mesmo desliga a localização. Ele te ama de verdade e está disposto a se entregar verdadeiramente. Conheço meu irmão e sei que ele não fez por mal. — Fico quieta, olhando pela janela, perdida em meus pensamentos. Será?

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