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REBECCA MARQUÊS

Talvez se essa fosse uma aula de uma disciplina mais interessante, eu estaria mínimamente concentrada. Aquela voz aguda era extremamente enjoativa. Sem sombra de dúvida, estava me matando aos poucos.

Minha noite foi péssima, uma das piores dessa semana. Confesso que nunca fui a pessoa mais tranquila do mundo, meu sono sempre foi superficial. Sou facilmente acordada. E bom, eu desprezo isso, bastante. No fundo, eu tenho medo de dormir, fico extremamente vulnerável, então prefiro estar acordada. Tudo bem, eu mesma posso admitir que sou paranóica, ou só prevenida.

Minhas pálpebras queriam se juntar uma a outra, obviamente estava a um fio de descansar minha mente ali mesmo, ignorando o redor. Mas, relutei insistidamente contra essa vontade reprimida. Nada hoje parecia fluir realmente. Como disse, minha noite foi um show de horrores. Me atrasei para escola, demorei uma eternidade para encontrar a merda da sala. Odeio com todas as minhas forças me sentir deslocada, e principalmente quando o assunto é uma escola nova.

Vim do Brasil para a Alemanha a alguns anos. A mudança de hábitos e estilo de vida quase me enlouqueceram no começo, e um pouco até hoje. Eles tem costumes... Vamos defini-los como diferentes. Os mesmos não me aceitaram bem. Antes, parecia mais fácil enganá-los. Bom, eu era uma criança, eles não implicariam com uma criança. Mas, depois que fiquei mais velha, ou eles me tratam de maneira deplorável, por estar fora dos padrões descritos pela sociedade alemã, ou me tratam como um objeto sexual por ser latina. Eles creem com todas as forças, que essa é a utilidade das latinas.

Fui completamente desconectada a minha duvidosa mente quando minha mesa cambaleava, sem um mínimo intervalo. Ótimo universo! Quer me levar neste momento? Seria perfeito. Está me ouvindo?

Em um rápido movimento, ficou claro quem estava querendo chamar minha atenção dessa maneira irritante. Tom Kaulitz, um ser humano que cree na ideia em que vida é dependente de prazeres carnais o tempo inteiro. Eu nunca tive conversas prolongadas com ele, mesmo diante suas diversas tentativas.

- Pare com isso idiota. Está me atrapalhando não está vendo? - Fitando seus olhos, ele já havia notado que eu transpassava ódio a cada movimento. Enquanto ele, com um sorriso cínico, parecia gostar do sentimento.

- Não fica irritadinha não, só queria avisar que o meu irmã... - Depois que eu parei de olhar em seus globos e focar em algo que me interessava muito mais, Tom foi forçado a acabar com sua fala ali mesmo. Eu não pararia para ouvir suas baboseiras. Mesmo que estivesse intediada.

- Mas, historicamente, está mais que claro que homens terminam sendo superiores às mulheres. - E há pessoas que duvidam quando eu falo que homens são os seres mais pobres de espírito que existem no mundo. E esse, além de fraco, é um tolo.

- Quem te passou essa informação? Seu pai? Seu avô? - Um manifestante, resolveu expor seus questionamentos em sala. E diferente de antes, em que eu estava a um pequeno passo de visitar meu subconsciente, me acordei em questão de segundos. Deixo claro para todos que opiniões como essa, eu nunca deixo passar. Já chega disso tudo.

- Porque? Isso não influencia em nada. Até biologicamente somos mais fortes e desenvolvidos. - Me olhava com superioridade, era tão nojento. Era claro seu incômodo diante a minha fala. Sinto-me péssima, mas até que gostei disso. Farei novamente.

- Não somos desenvolvidas? Querido, seu cérebro que não é desenvolvido. Não me impressiona que você use argumentos volúveis. Fiquei sabendo que é de Berlim. Já cresceu como os moradores de lá, ricos; capitalistas, e ingênuos. Você é um sem experiência, e ainda por cima um homem. O que te torna eternamente um equivocado. - Dando de ombros, a sala toda emitia silêncio. Esperavam sua resposta, que não demorou muito para que viesse.

- Por favor, sabemos que você é a garota mais problemática dessa sala.  Foi expulsa cinco vezes de seu antigo colégio. Sempre faz questão de deixar claro que não suporta o gênero masculino. Não impressiona ninguém com seus argumentos. - Olhando para seus lados, o garoto convencia o grupo que participava, para apoiar a sua tese sem sentido.

- Pense no que fala. Não sou nem um pouco problemática. Acha que eu ficaria com vergonha ao ressaltar que  fui expulsa? Fui, realmente fui expulsa por exigir meus direitos. Faria novamente se fosse preciso. Sei o que está pensando, "Meu próximo argumento fútil vai ser o motivo da expulsão dela, a revolução das garotas". É Jonathan, eu te conheço. No entanto, jogue um, dois, dez argumentos sobre mim. Irei respondê-los com prazer. - Sua respiração agoniada era facilmente percebida. Enquanto eu, estava mais tranquila que as nuvens que erradiavam o céu. Debater era algo que terminei gostando de fazer. Eu sabia sobre sua artimanha, o que me ajudava bastante.

- Parabéns, adivinhou. E deixou claro que mulheres não conseguem fazer nada corretamente. Por isso está aqui, em outro colégio. O outro continua o mesmo. Você mudou, eles não. - Com um sorriso ladino, ele me encarava debochado. Eu incontrolávelmente, revirei meus olhos. Aquilo me cansou.

- Está correto Jonathan, mas, parcialmente. Nem todas as mulheres fazem coisas corretas, a sua mãe por exemplo, deu a luz a você. Grande erro, não é? - Aquela frase causou tantos gritos, sermões e sons que eu não consigo descrever, que nossa doscente necessitou exigir silêncio. Ninguém parecia calar a boca, estavam possessos.

- Pessoal, por favor, parem com essa baderna. - Se movimentando, ela suplicava uma dose de tranquilidade nos alunos. Até eu, uma possível inconsequente, estava comovida com seu pedido desesperado. - Quer saber? Estão liberados. - Rapidamente, aquela discussão virou uma saída apressada, e eu faria o mesmo. Não queria ser chamada a atenção novamente, não hoje.

A quantidade massante de alunos era agoniante. Me pergunto como cabem todos eles naquela sala. Eu costumo ir sozinha, não sou a mais amigável e extrovertida pessoa desse lugar. Na verdade, prefiro a companhia da única pessoa que parece me compreender, Henry Evans, meu melhor amigo. Atualmente, morador de outra cidade. Está vendo? A sorte não está sobre mim.

Senti um leve toque em meus ombros, o que me fez assustada. Mas, não que fosse perceptível.

- Gostei do que falou lá. Esses garotos são uns idiotas. - Olhei curiosa, terminou que a ação me incomodou um pouco. Mas, quem havia me chamado me deixou bem mais surpreendida.

Era Bill Kaulitz, eu sempre estive bem consciente que os gêmeos da banda Tokio Hotel estudavam aqui. Mas nunca dei a mínima. Para mim, eles eram alunos normais, que mesmo famosos, passavam pela minha cabeça como um alguém qualquer. Nunca fui interessada no estilo, ou músicas da banda.

- Cala a boca, você é um homem também. - Eu sei, não era a resposta mais adequada a situação. Ele não foi grosso comigo, ou tirou brincadeiras ruins, mas era um dever desconfiar de todos aqueles que eram do gênero masculino.

- Eu sei que sou, mas não sou um homem como eles. Eu estou consciente que aquilo era um absur... - O garoto de cabelos retos, parecia se justificar sem o meu pedido. O que estava me deixando confusa é levemente raivosa.

- Por favor, me deixa em paz garoto. - O sorriso explicativo do garoto, sumiu quando soltei minhas amargas palavras. Eu não estava bem, nada naquele dia estava sendo relaxante para mim. E não era um emo homem que iria me atrapalhar ainda mais.

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𝐎𝐍𝐋𝐘 𝐄𝐗𝐂𝐄𝐏𝐓𝐈𝐎𝐍 | 𝘉𝘪𝘭𝘭 𝘒𝘢𝘶𝘭𝘪𝘵𝘻.Onde histórias criam vida. Descubra agora