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REBECCA MARQUÊS

Georg cantarolava um pouco distante empolgado, quase vivendo dentro da canção alemã antiga. Tom, o acompanhava em alguns trechos marcantes, que poucos não se recordariam ao escutar. O Carro era transportado pelo garoto andrógeno da banda, que não permitiu que em sua presença, inconsequentes como eles, dirigissem o automóvel. Não são palavras minhas, são afirmações de Bill Kaulitz. Acredito que eu os colocaria de maneira pior, mesmo não os vendo dessa forma.


Eu estava ao lado dele, acompanhando as direções necessárias para chegar ao local que desejo. Me conhecendo, saberá que a última coisa que estou desejando neste momento, é trocar diálogos com o vocalista, que tanto me modificou.

As palavras eram poucas, escassas posso dizer. Sua entonação era corriqueira, como se ignorasse seus momentos de desaforo, que um dia captei. Porém, não penso na necessidade de grosserias entre nós. O passado é passado afinal, mesmo que seja doloroso... Ainda. Minha formalidade era provavelmente incomoda, já que meu vocabulário realmente estava sendo composto de frases sem nenhum tipo de emoção perceptível aos nossos ouvidos.

- Talvez seja a próxima esquerda, não tive aqui antes. - Segurava um espécie de mapa local em minhas mãos decoradas,  observando até seus mínimos detalhes. - Algo me acusa que passamos por aqui. - Revirei o mapa pelos quatro possíveis lados, finalizando minhas buscas ao nada simplesmente.

Meu temperamento é intacto como uma peça preservada por algo ou alguém. A raiva me consome bastante, me tornado seu prato predileto. Se é que posso dizer assim. Minha paciência é curta como uma chama breve de um pavio, e tem piorado nesses últimos dias. Amassei o objeto em minhas mãos apressadas, sabendo que não poderia rasgalo, ou atirado pela janela, esquecendo desse assunto. Meus lábios reclamaram de maneira incontrolável, e como sempre, soltei alguns palavrões.

- Pode virar para eu ver? Acho que é por aqui. - Sei que ele percebeu meu alarde silêncio. Bill me conhecia, mesmo sem que eu quisesse isso, eu simplesmente nao podia abrir sua cabeça e retirar seus conhecimentos sobre mim. Justo isso, me castigo em cada dia, modificá-los. - Veja, esse caminho é por essa avenida, e nos leva ao centro da cidade. Por isso, está dando errado. - Seu olhar era o trânsito, mesmo que sua mão alcançasse o papel em minha frente. Estive impressionada pelo fato, ele simplesmente não estava focado no mapa, mas seus dedos sabiam com certeza a direção que deveriam seguir. Franzi meu cenho, tentando repreender o que senti.

- Foda-se também, não sou uma copilota. - Larguei o objeto finalmente, me livrando de um peso físico, e alimentando meu peso mental.

Nunca, simplesmente nunca passou em minha cabeça, fazer alguma inquirição sobre a minha mãe, em especial, da sua morte. Não entendo meus juízos as vezes, não me comformo sobre sua ida, mas também não quero questioná-la. Sinto-me a maior idiota que existe, em não querer isso por simples, medo.

Medo de doer de novo, de chorar todas as noites por sua ida, de alavancar meus piores sentimentos novamente. Sendo que os atuais já são péssimos. Medo de ver novamente, de soluçar tanto que minha caixa torácica chegue a matar-me aos poucos. Tenho medo que ela volte, a Rebecca frágil como uma folha de papel.

- Ei, está tudo bem? Acha mesmo que você est... - Billy tocou em um dos meus ombros descobertos, mas retirou seu movimento antes que eu pudesse retirá-lo. Meus olhos focaram em algo mais relevante, algo que difere sua ação desnecessária.

- Sim, é exatamente esse hospital. - A folhagem esverdeada refletia sobre a luz solar, causando uma bela paisagem no local... Esquisito talvez?

𝐎𝐍𝐋𝐘 𝐄𝐗𝐂𝐄𝐏𝐓𝐈𝐎𝐍 | 𝘉𝘪𝘭𝘭 𝘒𝘢𝘶𝘭𝘪𝘵𝘻.Onde histórias criam vida. Descubra agora