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REBECCA MARQUÊS

Aquele corset parecia extrair boa parte da minha respiração maleável, me contraindo a cada curva. No entanto, não era possível se negar a sua maestria, e sua dolorosa é encantadora beleza. Havia uma camada fina de tecido que não me importei em saber de onde formou-se, mas aparentemente conversava de maneira crucial com as pedras de brilhante, prateadas.

Esqueci-me de citar a peça complementar que continha na garganta, que me sufocava periodicamente. As mechas mais claras sobressaiam em um penteado solto, que digo ter adorado. Nos pés, não havia nada, por enquanto é claro, não sustentaria passar todo o tempo que falta com ele. Prontamente, a mulher passava e repassava a maquiagem sobre o meu rosto, assim, finalizando com pudor, toda a produção demorada.

- Ansiosa, querida? - Perguntava a mulher, que do outro lado da sala, não tirava seus olhos e atenção de mim. - Suas pernas que não param quietas, me dão a noção de que estou certa.

Minha relação esporádica com a profissional havia despencado em grande parcela, é fato de que nossas opiniões seguiam diferentes caminhos, mas, no fim, não havia motivo para questionar, ela não poderia fazer isso. Aos poucos, era possível perceber a intenção de melhorá-la.

- Céus, eu estou pirando. - Levei as mãos a minha cabeça, a pairando com delicadeza por lá. Meu estômago debrulhava em sua estrutura, minha falta de credibilidade em ser sociável, batia em minha porta interna, que segurava uma placa de insegurança. - Não sei se estou muito bem com isso. A quem eu quero enganar, não estou nada bem. Estou tremendo, minha mente está cogitando centenas de coisas ridículas que podem acontecer. E sinceramente, talvez eu esteja infartando. - Com a liberação da ruiva que preparava a maquiagem, levantei depressa, nada disso parecia ser fazer sentido em minha cabeça.

Os últimos dias foram tudo aquilo que eu simplesmente nunca planejei, e na verdade, temia fazer.

Eu pensei sobre a minha vida.

Talvez exagerado? Oh, sim! Minha infância foi massante, a base do meu sofrimento, minha adolescência, a continuação de meus traumas, e minha maioridade? O que essa porra seria? Daqui alguns poucos meses, os dezoito anos surgiriam em meus documentos, e realmente não é desperdício chamá-los de temidos. A questão é que minha mente estava sendo revirada por opiniões implicântes e triviais.

Estávamos em um hotel colossal, em cada um dos quartos estavam a sustentação do mercado artístico nacional e internacional, o que me assombrava, era saber que isso simplesmente, me assustava. Me retirei do ambiente que se encontrava as mais velhas, minha alma gritava se resolver, ainda mais meu coração aflito.

Não sei se me coloquei em andares de cima ou de baixo, meus dedos procuraram os botões e selecionaram aqueles que o convenceram. Na primeira sacada ventosa que encontrei, me encaixei por lá. Levei meu olhar até o maço de cigarro que carreguei nas mãos, estudei seu tamanho, detalhes, como não tinham remorso em evidenciar seu resultado, e por fim, os coloquei em meio meus dedos, mesmo que a ventania o atrapalhasse seguir sua função, ainda sim o acendi. .

Uma tragada.

Recordei um dos poucos momentos que presenciei minha mãe, a fumaça, me fazia lembrar que fumava quando estava nervosa. Com seus longos cabelos, a mulher discutia com meu pai, pelo que entendi na época, o outro havia estourado seu dinheiro em bebidas e esquecido do meu presente de aniversário. As horas passavam vagarosamente, e os dois não se cansavam de discutir, até que aquilo foi levado a outro, e outro assunto. Foi a primeira vez que a espancou em minha frente. Seus gritos, gemidos, sangue, tudo aquilo rodeava a minha mente, ainda mais, era a minha culpa, eu era o problema, minha nascença era uma desgraça na vida dela.

𝐎𝐍𝐋𝐘 𝐄𝐗𝐂𝐄𝐏𝐓𝐈𝐎𝐍 | 𝘉𝘪𝘭𝘭 𝘒𝘢𝘶𝘭𝘪𝘵𝘻.Onde histórias criam vida. Descubra agora