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BILL KAULITZ

Passar a noite em um estabelecimento como esse, não é nada agradável. As correrias frequentes, junto ao evidente clima cabisbaixo que se estabelece em cada um desses quartos. Deixaram-me, durante o resto da noite, bastante desconfortáveis.

Porém, para a evidente mudança climática desse cenário. Fui beneficiado, ou talvez não, com Tom e Rebecca, que em muitos momentos faziam piadas idiotas, e fora de contexto. Obviamente, nenhuma delas era realmente engraçada, quando visto seu contexto, mas nós não estávamos minuciosos nesse sentido.


- Eu não suportava aqueles repórteres, eles ficavam me perseguindo. E não, eu não estou exagerando. - Meu gêmeo relembrava situações que vivemos a alguns anos. Muita das vezes, dizia coisas vergonhosas sobre nós. Mas, principalmente sobre mim. - Eles me gravaram no banheiro. Isso é tipo... Porra uma loucura. - Exprimia o garoto, abismado.

- Éramos crianças. Hoje, sem exitar, eu xingaram todos eles... Apesar que eu fazia isso antes, só não na frente das câmeras. - Minha voz, soava mais claramente. Não estava recuperada de forma completa, mas o suficiente para ser ouvida é compreendida.

- Infância com altos e baixos... Muita adrenalina para mim, acho que eu surtaria nos primeiros dez minutos que filmassem minha rotina. - Contava a garota, folheando as páginas do livro que lia, com  as mãos mais macias que pude experimentar em meu rosto, nuca e mais alguns lugares sensíveis.

- Você passou a infância no Brasil? Ou veio para a Alemanha? - Acho que ambos, digo, eu e Tom, carregamos essa curiosidade o tempo inteiro.

- Não, eu nasci no Brasil. Mas, no mesmo momento imigrei. Eu passei parte da minha infância nos Estados Unidos. Tipo, uns quatro ou cinco anos. - Arquei minhas sobrancelhas, franzindo meu cenho. Isso não estava entre minhas ramificações pensamentais. - Eu voltei para o Brasil, e durante esse tempo, minha mãe foi ao Estados Unidos junto ao meu pai, foi internada e terminou morrendo lá mesmo. Meu pai voltou para o Brasil, e viemos aqui para a Alemanha, eu tinha onze anos na época... Então, na verdade, eu passei e passo minha adolescência aqui. - Acho que agradeço o fato de que ela não tem alemão como sua primeira língua, costuma falar mais devagar por isso. Caso contrário, eu não entenderia.

- Espera, estou tentando absorver tudo que você disse. - Recebendo xingamentos murmurados da garota, Tom fazia suas típicas brincadeiras.

- Todos são brasileiros Darling? - Em suas muitas palavras, nenhuma revelava isso.

- Com certeza não. Meu pai é alemão, minha mãe estadunidense e eu brasileira. - Explicava ela. - Sou a única latina dessa família querido. - Um sorriso orgulhoso foi deposto sem seus lábios, Rebecca já havia deixado claro amar essa sua característica.

- "Darling", "Querido".... Quando vão vir meus sobrinhos? Amarei ensiná-los a ser estilosos como eu. - Breve, pude ver a garota inpurrando um dos ombros do meu irmão.

Relevando o silêncio, os três presenciaram algumas pessoas dessa área pousando na sala em que eu estou. Meu inalador foi retirado, e outros remédios injetados também. Me enchiam de perguntas, e muitas das vezes as repetiam para terem convicção da minha resposta.

- Suas cordas vocais estão mais estáveis, pode retornar a sua casa, mas recomendo mais alguns dias de repouso. Principalmente na fala, por favor evite. - Suplicou o velho ruivo. - Está liberado. - Um alívio enorme pairou sobre mim. Eu não suportava nem por mais alguns segundos aquela máscara apertando meu rosto. - Me passem seus nomes, é necessário para preencher a ficha de alta. - Vi a velha que me consultou ontem, surgir de um local não identificado por mim. E aparentemente, lembrava nossos nomes.

𝐎𝐍𝐋𝐘 𝐄𝐗𝐂𝐄𝐏𝐓𝐈𝐎𝐍 | 𝘉𝘪𝘭𝘭 𝘒𝘢𝘶𝘭𝘪𝘵𝘻.Onde histórias criam vida. Descubra agora