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REBECCA MARQUÊS

Sinceramente, com certeza não eu estava consciente ainda. As coisas pareciam lentas, e eu quase estou concluindo que nada ou ninguém faz sentido. O dia de hoje, torna-se cada vez mais pessimista a cada ano que passa.


Vinte e três de julho dos anos dois mil... Receber a notícia que a sua mãe havia falecido foi a pior coisa que eu já fui capaz de ouvir. Naquele momento, não havia compreensão ou entendimento de algo, eu tinha só onze anos. Não haviam mais alternativas, mas sim uma aceitação forçada da minha parte. Obviamente eu não superei o acontecido até hoje, ela foi retirada de minha vida sem mais nem menos, sem um adeus ou até mesmo um "Te amo."

Percebi a quantidade massiva de ligações em meu aparelho, todas de Henry. Ele era consciente de tudo que eu já vive e vivo, e sempre se disponibilizava para ficar comigo nesse dia, pelo menos antes de que eu me mudasse. O loiro havia me contado que tinha medo do que eu podia fazer, e do que eu não faria também. Não retornei suas ligações, preferi mandar uma mensagem de texto. Diferente de mim, ele me respondeu no mesmo momento, com uma mensagem carinhosa, e meiga. Senti meu olhos se encherem de lágrimas doloridas e ao mesmo tempo alegres, eu estou confusa.

Pude ouvir Rafael, meu pai. Sair essa noite, provavelmente lembrou-se do que aconteceu nessa data e foi afundar suas mágoas no que lhe faz esquecer tudo. Nem me importei com a sua saída, e na verdade, comemorei ao cogitar a ideia que ele não estaria aqui pela manhã. Hoje, sairia o resultado do teste do teatro. Tudo parecia tão intenso... Memórias; agonia; lembranças; dor. Diversas coisas passavam pela minha cabeça, aos poucos, consigo compreender o motivo que leva Henry a ficar comigo nesses dias, eu penso em algumas soluções para essa dor.

Me olhei pela última vez antes de sair, seguindo para escola. Lugar onde eu passaria as próximas cinco horas, isso é uma forma de tortura com um nome mais culto.

...

Eu estava ao lado de Bill. Depois da última aula, descobri que ficaríamos com aquela dupla pelo resto do ano. Já que, ela passaria uma quantidade expressiva de trabalhos escolares. Eu deitava em meu braço, a mais confortável posição que eu achei. Diferente de mim, Bill fazia as próprias unhas ao invés de prestar atenção na explicação. Não o julgo, eu estava fazendo o mesmo. Ouvi meu celular vibrar algumas vezes, imaginei ser Henry preocupado, mas não. Era o temido resultado do teste de atuação.

" Olá senhorita Marquês, queríamos agradecer a sua maravilhosa e impecável atuação na última quarta feira. Podemos prever seu futuro brilhante, e majestoso de se acompanhar. Sentimos pureza e amor em cada frase solta por você. Precisamos admitir que entre todos, você se destacou. Mas, infelizmente não é a aparência que procuramos. A protagonista é loira, acompanhada de olhos azuis. Entretanto, por favor, não pense que não adoramos seu desenvolvimento. Eu sinto muito por não ter conseguido. Tenho convicção que um dia, a verei brilhando nas telas e palcos.

Ass: Direção. "

Confesso que mantive esperanças ao ler as primeiras palavras, mas fui a perdendo durante o resto. Ao menos disseram que fui boa, isso é um bom ponto... A quem eu quero enganar? Mas um motivo para que hoje seja horrível. Eu me doei a esse teste para no fim não ser escolhida por que eu não sou a porra de uma padrão loira alemã?

- Filhos da puta desgraçados. - Larguei meu celular na mesa, o que fez com que terminasse causando um atrito entre os materiais. - Tá vendo? Tudo está dando errado na porra desse dia. - Voltei a posição anterior, podendo ver que Bill me encarava curioso. - O que quer porra? - Bufando, pude ver ele soltando um sorriso. Como alguém é capaz de sorrir tanto? E eu estou o xingando.

𝐎𝐍𝐋𝐘 𝐄𝐗𝐂𝐄𝐏𝐓𝐈𝐎𝐍 | 𝘉𝘪𝘭𝘭 𝘒𝘢𝘶𝘭𝘪𝘵𝘻.Onde histórias criam vida. Descubra agora