REBECCA MARQUÊS
Aquela sala parecia se diminuir cada vez mais. Cada minuto, segundo ou milésimos, todos eles pareciam se tornar horas em minha ansiosa, mente. Minhas unhas que antes de tamanho médio, agora já alcançavam o seu começo, de tanto que eu as ruí. Meu cérebro mandava ondas agoniantes até minhas pernas, que não pararam um minuto se quer, quietas.
Tensa, ou consegui localizar o meu chefe. Que automaticamente começou a me fitar com seriedade no olhar, enquanto pedia em silêncio para que eu o acompanhasse até sua sala. Respirando profundamente, sentei-me em uma das cadeiras. Enquanto ele, parecia receoso em dizer o porquê do convite para o local.
- Então, eu serei direto. Seu trabalho aqui na sorveteira, sempre foi excelente, e nunca tivemos algo para reclamar de você. - Nesse momento, eu estava tremendo na mesma intensidade que alguém no frio.
Eu estava trabalhando nessa sorveteira a alguns meses, quase ano. Era assim que eu me sustentava. Meu pai, o único parente que eu tenho. Foi diagnosticado a alguns anos, com dependência compulsiva a bebidas, em outras palavras, um alcoólatra. Então, diante a isso, ele parou de comprar coisas consideradas essenciais, e consome todo o seu dinheiro em coisas do tipo. Me deixando cuidar de si mesma. No começo, era difícil. Hoje, eu levo isso como algo diferente, sooa mais confortável.
- Por favor, senhor! É muito difícil encontrar um emprego vendo a idade que tenho. - Infelizmente, minha vida parece estar deslizando cada vez mais, e para baixo. Seu semblante, confirmava minha teoria.
Mas que merda de vida!
- Sinto muito, Rebecca. Mas, seus serviços não são mais necessários. - Me pedindo para se retirar de forma não verbal, o mais alto parecia desconfortável com o clima que ali foi gerado. Não tinha mais alternativas, eu não imploraria por uma segunda chance, mesmo que estivesse preocupada com a minha atual situação.
Minha postura diante a situação, deixava claro que me conformei com a decisão dele. Mas, na verdade, eu nunca me vi tão perdida. A alguns meses, eu me matriculei em uma escola de teatro, que curiosamente leva a maioria do meu salário. Muita das vezes, eu prefiro fazer uma refeição a menos. Mas, a mensalidade precisa estar paga.
Sabendo do que eu vivia, era praticamente impossível que a minha carreira como atriz fosse um sucesso. No entando, resolvi esquecer esse fato e fazer o que eu realmente gosto. É difícil, e eu sei disso. Mas, vou me sentir pior ainda se não tentar me livrar da situação em que vivo.
Senti algumas lágrimas escorregarem pelo meu rosto, durante o caminho para casa, as retirei da superfície rapidamente. Essa não era a hora de ser fraca.
Virando a chave para ter acesso a minha casa, não fui recebida da melhor forma. Não que na minha rotina eu tivesse uma. Mas, era extremamente repugnante encontrar seu pai praticamente mergulhado entre as bebidas. O quase loiro, estava prestes a derrubar a garrafa de bebida de suas mãos engorduradas. Como eu disse, estava rodeado de diversas garrafas como aquela, além de alguns salgados e outros alimentos industrializados.
Porém, parece que ele não estava dormindo totalmente. Um passo rápido até o meu quarto, foi o suficiente para o mais velho viesse questionar minha aparição fora da minha carga-horária de trabalho.
- P...Por que está aqui? São três horas da tarde. - Tropeçando em suas próprias palavras, o cheiro de bebida ficava cada vez mais forte, já que ele se aproximava de mim.
- Só fui liberada mais cedo. Pode me dar licença? - Minha relação com esse ser humano, sempre foi a pior possível. Posso ter sido grossa com ele, mas isso era o mínimo vendo como ele costuma me tratar. Desde que eu comecei a entender os problemas da vida, meu pai sempre esteve relacionado a eles, de uma forma ou de outra.
- Pare de ser mentirosa. Que MERDA você fez? - Dando um tapa no balcão da cozinha, ele já estava raivoso. Mesmo que não fosse necessário, essa era a maneira em que a bebida fazia efeito em sua mente. Como uma pessoa que puxou alguns de seus traços, estava tão raivosa quanto ele.
- Fui demitida. - Simplória, joguei a verdade como uma frase que sempre falamos, mesmo que fosse algo sério. Eu não influenciava em sua economia, então não havia nenhum problema em ser demitida. Não para ele, isso era um problema inteiramente meu.
- Nem para ISSO você serve? Vo...Você é um problema na minha vida. - Eu sei, nada disso tem muito em comum com a situação. Ele costuma falar muita merda quando eu estou diante a seus olhos.
A verdade é que ele me odeia, e eu odeio ele.
- Não paga minhas contas, ou mesmo minha comida. Esqueça a minha existência. - O deixando para trás, eu provavelmente teria algo mais cativante para fazer, a não ser olhar para aquele rosto paterno falsificado.
O que eu falei, sobre me esquecer, é verdade. Mas, não totalmente. Atualmente, eu realmente queria evitar a participação dele em minha vida, quem iria querer um idiota impulsivo ao seu lado? Mas, a Rebecca... Ou melhor, a becca. Ela amaria ter um pai participativo, que a ajudasse nos deveres de casa, ou até mesmo nas brincadeiras de imaginar. Mas, aos poucos, compreendeu que nunca viveria algo assim.
- É tão ridícula quanto a sua mãe. Finge ser forte, mas é tão quebrada quanto ela. Terá um final daquela forma, ou até mesmo pior. - Eu odiava com qualquer capacidade do meu peito gritante, que citassem o nome da minha mãe. Era a única pessoa que realmente me amava, e seria exclusivamente assim até o fim da minha vida.
A eu de antes, que estava somente raivosa. Carregava além disso, um ódio profundo no seu peito. Em questão de segundos, eu estava em sua frente novamente. Arranquei com brutalidade a garrafa de suas mãos, a jogando em direção a TV. Foi dividida em diversos pedaços, junto a bebida que espalhou-se pela região.
- Não abre a porra da sua boca, para falar da minha mãe. - Demonstrando meu rancor, até o mais alto assustou-se com a minha ação.
- Sua filha da puta. Você quebrou a TV! - Apontando para o antes aparelho funcional, estava lamentando-se pela ação.
- Nem foi você que comprou essa porra. - Foi a última coisa que eu disse antes de adentrar completamente em meu quarto. Naquele momento, eu poderia livremente expressar o que eu sinto, sem balelas e assuntos parecidos. Já que, na maioria dos momentos, evito fazer isso.
Praticamente me jogando na cama, pude sentir sua maciez, junto as minhas noites de choro; raiva e alegria. Era um dos únicos lugares que ninguém, além de mim, haviam desfrutado. Eu gosto da sensação de estar sozinha, mas dói ao lembrar do motivo.
Não tive tempo para sofrer, algo me perturbava mais. Peguei meu computador, joguei em sites de pesquisa trabalhos para jovens aprendizes. Passei o resto do dia assim, com os olhos vidrados na tecnologia. Tudo pela porra de um emprego. Mandei currículos online, alguns curiosamente aprovaram imediatamente, enquanto outros me deixaram no gosto da dúvida.
__END__
VOCÊ ESTÁ LENDO
𝐎𝐍𝐋𝐘 𝐄𝐗𝐂𝐄𝐏𝐓𝐈𝐎𝐍 | 𝘉𝘪𝘭𝘭 𝘒𝘢𝘶𝘭𝘪𝘵𝘻.
FanfictionA carioca não foi presenteada com a sorte da família perfeita. Perguntava-se se ao menos poderia chamar aquilo de família. Explorando seu mar de azar, a garota é despedida do seu serviço, e se encontra obrigada, a encontrar outro. Só não imaginava q...