63. Alice

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Fumaça, há muita fumaça, entrando por baixo da porta. Uma fumaça preta e densa.

Bato na porta tentando abri-la, grito por ajuda mas não vem ninguém.

" Deus não, não quero morrer assim "

O meu maior pesadelo está se realizando.

Começo a tossir, sinto minha garganta arranhar, estou com falta de ar. Abri a janela para a fumaça ter por onde sair. Mas parece que não está ajudando. Meus olhos estão lacrimejando e irritados pela fumaça, mas percebo também que a grande maioria das lágrimas é por causa que estou chorando.

- SOCORRO. ALGUEM. POR FAVOR ABRA A PORTA.

Grito e grito ainda mais, já estou ficando rouca, meu peito parece que vai explodir. Escuto movimentações ao longe, pessoas falando e gritando ordens.

" Os seguranças sabem que estou aqui, eles vão me ajudar, vão avisar os rapazes "

O medo está me deixando perdida. O que nos ensinaram no colégio sobre incêndio depois do que aconteceu? Minha mente não quer me ajudar.

" Deitar, ficar o mais baixo possível, a fumaça fica em cima "

Bato mais na porta. Meu ombro já está doendo muito. Minha cabeça está ficando pesada, há momentos em que o quarto gira, meus membros estão tremendo, minhas pernas não me aguentam mais, não consigo ar o suficiente.

Me viro na direção da janela, me ajoelho e começo a seguir engatinhando. Preciso chegar a janela, talvez eu possa pular.

Neste momento não estou nem aí por estar no segundo andar, não estou nem aí se vou quebrar as pernas na queda, eu preciso viver, eu quero viver. Quero estar com os rapazes novamente, meu irmão, meus amigos.

Estou na metade do quarto quando sinto meus braços e pernas fraquejar. Tudo está girando, minha vista está escurecendo. Preciso de ar, mas não consigo.

Estou caída no chão, no meio do meu quarto, não consigo mais ter forças para me mexer, não consigo me arrasta. Meu peito está explodindo, estou com dor, muita dor, desisto de manter meus olhos abertos, eles estão ardendo de mais.

Me desculpe meninos, fui estúpida. Achei que poderia fazer as coisas por conta propria. Estava acostumada a tomar minhas próprias decisões, a ir atrás do que eu queria sem pedir ajuda a ninguém. Mas eu nunca estive sozinha, dês do momento que retornei para casa eu não estava mais sozinha.

A imagem de cada um deles passa por minha mente. Todos os meus amigos, Jéssica, Camila, Aria, Samanta, Wil, Rita, David, Marcos, Brandon. Os momentos que tivemos juntos na faculdade, no clube.

O rosto do meu irmão vem em minha mente. Os momentos bons e ruins. Mas sei que em todos eles Tomas me amou. Fez tudo ao seu alcance para me proteger. E serei sempre grata a ele.

O rosto de Natan vem em minha memória. Aquele olhar sério, um rosto lindo, lábios que dificilmente sorri, o mais silencioso dos cinco. Mas quando ele sorri parece que estou no céu, e que é apenas para mim.

Totalmente o contrário, vem o Nicolas, que está sempre sorrindo e brincando, sempre me fazendo rir. Mas sempre carinhoso comigo, tendo sido o meu primeiro, tendo tirado a minha virgindade e a todo o momento cuidando para não me machucar.

Dominic com aquele seu jeito protetor de mais, me rastreando. Mas sei que ele tinha muito medo de que eu me machucasse. Na intimidade sendo mais dominador, mais intenso, testando meus limites, sabendo como sou curiosa e explorando isso.

Saimon com o seu jeito todo certinho. Tendo tentado resistir a atração que tínhamos por causa de sua amizade com meu irmão. Sei que ele lutava muito em sua mente em relação ao desejo de me ter em seus braços e seu respeito pelo meu irmão. Mas me amando com tudo o que tem.

O carinho de Taylor. Ele me ensinando tudo o que sabe para que eu pudesse me defender. Por que ele sabe a necessidade que eu tinha de ser independente e não ficar na dependência de outros. Aqueles olhos verdes e intenço, que quando está bravo ninguém tem coragem de enfrenta-lo. 

Os rostos de cada um deles ficam girando e girando em minha cabeça.

Está ficando tudo mais pesado, mais lento, mais escuro.

- Eu amo vocês - digo em um sussurro, minha garganta queimando - Obrigada por tudo. Me desculpe por toda a preocupação que eu trouxe a suas vidas.

Mas eu não me arrependo de nada, não me arrependo de cada minuto que passei com eles. Não me arrependo de telos amado. De ter magoado o meu irmão para telos.

Faria tudo de novo.

Posso escutar o som de um bip próximo

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Posso escutar o som de um bip próximo. Em um ritmo constante que me acalma.

Sinto todo o meu corpo doendo, pesado, como se tivesse sido atropelada por um trem. Minha garganta está dolorida e irritada, sinto algo em meu nariz que libera um ar frio.

Preciso de algumas tentativas para abrir os olhos, um pouco por causa da claridade e outra por causa da ardência, parece que tem areia. Mas assim que abro os olhos, estou olhando para um teto todo branco, sinto um cheiro de limpo, de álcool. Olho ao redor e percebo que estou em um quarto de hospital, ao meu lado esquerdo vejo uma janela aberta por onde entra toda a claridade.

Sinto uma pressão em minha mão direita e quando viro o rosto na direção me deparo com os olhos lindos mas cansados de Taylor.

- Ela acordou - ele diz em voz auta e solta um longo suspiro que relaxa todo o seu corpo, não desvio o olhar para saber com quem ele fala.

Não preciso, sei que estão todos aqui. Sei que nenhum deles me deixariam sozinha, assim como sei que vou ver esses mesmos olhos cansados por preocupação e falta de sono em cada um deles.

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