65. Alice

927 87 4
                                    

Tomas não falou nada, ficou ali parado olhando para mim.

- Eu solicitei um teste de paternidade para o Sr. Benjamin. E o resultado só ficou pronto ontem - eu estou olhando para as minhas mãos que estão em cima da minhas pernas, esfregando uma na outra por causa do nervosismo - Eu peguei o resultado e fui confrontar Sara. Foi por isso que eu estava em casa naquele momento. Ela mentiu para todos nós Tomas. Papai sabia, mas não entendo por que ele não fez nada.

Tomas continua sem dizer nada. Não consigo olhar em seus olhos, sinto meu peito doendo, meus olhos lacrimejando.

Como puderam fazer isso com a gente? Todas essas mentiras, esse ódio,  esse medo.

" É pedir de mais ser feliz "

Escuto o barulho de cadeira sendo arrastada e quando levanto minha cabeça vejo Tomas se levantando, dando a volta na cama e vindo do meu lado.

- Vou falar com Sr. Benjamin - sinto uma lágrima descer pelo meu rosto, tem um caroço em minha garganta, minha voz sai mais baixa e rouca - Vou devolver a minha parte da herança. Ela pertence a você. Todo esse dinheiro veio do papai... Do seu pai, tudo o que ele lutou e trabalhou para crescer. E não é justo a filha do homem que o fez mal junto da mulher que ele tanto odiava, ficar com esse dinheiro.

Tomas se senta na beirada da cama, esticando suas pernas em cima, e encosta na cabeceira. Assim que ele já está acomodado, Tomas passa o seu braço por cima do meu ombro e me puxa para perto dele, encostando minha cabeça em seu peito e me abraça forte. Assim como fazia quando era criança e ele ou papai liam  para mim.

- Você não vai devolver merda nenhuma Alice - posso escutar o seu coração, ele está mais rápido, ele me aperta ainda mais em seus braços - Esse dinheiro é seu. E você é minha irmãzinha.

- Mas... - eu afasto alguns centímetros para que possa olhar em seus olhos, com medo de ver raiva e nojo. Mas não é o que vejo - Você... você sabia?

Os olhos de Tomas não me julgam. Neles tem apenas, carinho, amor, e também vejo uma pontada de medo, mas medo por mim, por tudo o que passei.

- Sim beija-flor. Eu sabia sim.

Sua mão sobe para o meu rosto e seca uma lágrima que desceu sem que eu conseguisse conter. Ele encosta minha cabeça em seu peito de novo e sinto quando ele encosta sua bochecha no topo da minha cabeça.

- Dês de quando?

- Dês da morte do papai - meu corpo estremece e aperto mais meus braços ao seu redor - Quando papai estava internado nos seus últimos dias, ele me chamou para conversar. Ele me contou que você não era filha legítima dele, já que ele havia feito vasectomia assim que eu nasci.

- Mas por que sabendo que não sou sua filha ele ainda me deu seu sobrenome, assumiu a minha paternidade?

- Eu lhe fiz essa mesma pergunta - escuto um leve som de riso dele e depois Tomas respira fundo - Papai me contou que a princípio, assim que Sara disse que estava grávida novamente ele ficou com muita raiva, sabendo que não era dele. Tendo toda a comprovação da sua traição. Durante toda a gestação papai nunca demonstrou nenhum interesse, nunca tocou na barriga dela, sempre foi as consultas, nunca deixou que faltasse nada, mas ele sempre teve nojo dela.

- Mas se ele a odiava tanto assim mesmo antes, por que ele ainda tinha relações com ela? Para ela dizer que era dele, eles deviam ter relações.

- Eu me lembro brevemente daquela época - Tomas se remexe na cama, mas não por causa do meu peso, mas por causa das lembranças - Foi uma época difícil. Papai costumava beber quando estava em casa. Acredito que por causa da proximidade com Sara. Quando estava fora trabalhando ou com seus amigo ele nunca bebia. Mas não pense que ele foi negligente como pai. Ele nunca deixou faltar nada para mim, desde roupas, comida, bens matérias, mas principalmente amor, carinho e atenção.

" Eu acredito que Sara possa ter aproveitado momentos como esses, onde ele estava bêbado. E convenhamos, papai era homem, forte, saudável e tinha suas necessidades. Acredito que nesses momentos, perdido pela bebida ele se deixava esquecer de tudo. "

- Se ele teve tanta raiva de Sara por que assumiu a minha paternidade ? - perguntei novamente, ainda sem compreender seu real motivo.

Tomas se endireitou e me afastou de seu peito, segurou em meus ombros e me fes olhar direto em seus olhos.

- Alice me escute e preste bastante atenção. No momento que papai segurou você em seus braços assim que você nasceu, ele sabia. Sabia que você era a filha dele, que você seria tudo na vida dele. Não importa quem era o doador de esperma. Não importava a traição de Sara, ele nunca jamais poderia te rejeitar e deixar você aos cuidados daqueles dois. Apartir daquele momento ele pode se dedicar inteiramente a você. Agora que você não estava mais no ventre daquela mulher ele não precisaria falar com ela. Ele pode te dar todo o amor e carinho que também me dava.

" Quando ele me chamou para conhecer a minha irmãzinha eu lembro muito bem de suas palavras.
' Tomas essa é a sua nova irmã. É nosso dever de pai e irmão mais velho cuidar dela, zelar pela sua segurança. Mas principalmente lhe dar todo o nosso amor e carinho ' "

Eu começo a chorar novamente, não consigo e não quero mais segurar os meus sentimentos. Quero deixar tudo o que passei, todo o medo e raiva, incerteza escorrer com as lágrimas.

- Você é Alice Dowen. Você é a minha irmã, ele te amou imensamente e com tudo o que tinha. Então não tenha nenhuma dúvida de quem você é, de quem é o seu pai.

Eu balanço a cabeça confirmando, sinto um sorriso em meus lábios. Nunca duvidei do amor do meu pai, mas com tantas coisa que aconteceu, que descobrimos a incerteza passou sim por minha cabeça.

- Eu te amo Tomas. Você e papai fizeram todo o possível para me tornar quem eu sou agora. Sei que me mandou para longe para a minha segurança e eu nunca vou poder retribuir tudo o que fez por mim.

- Saber que está segura e feliz Alice já basta para mim - Tomas me puxa para os seus braços me dando um abraço forte onde não quero mais sair.

Assim que me afasto, seco minhas lágrimas, respiro fundo e mais aliviada, um peso enorme saindo de mim. Tomas me dá mais um copo de água e assim que bebo eu pergunto a ele.

- Os rapazes sabem?

- Não. Quando você me disse o que Sara lhe falou, eu sabia que o momento de te contar a verdade estava chegando. Mas eles saberem cabe inteiramente a você decidir se quer ou não contar a eles. Mas eu não tenho nenhuma dúvida Alice de que não importa o que você diga, não vai mudar em nada no quanto eles te amam.

Eu não respondo na hora, olho para a janela e o sol entrando por ela. Eu sei que os rapazes não vão me afastar, sei o quanto eles me amam, e principalmente o quanto eu os amo.

Eu olho novamente para Tomas, ficamos ali um olhando para o outro por um momento, não precisamos falar, sabemos o que o outro está pensando.

Passamos por muita coisa dês do momento que nascemos. A falta de amor da nossa mãe, o amor incondicional do nosso pai, o medo de Tomas de que algo acontecesse comigo depois da morte do meu pai e ele sendo tão novo para cuidar de uma criança, o distanciamento que tivemos durante o meu crescimento, mas a nossa aproximação nesse pouco tempo que retornei mostrando que o amor e o carinho que temos um pelo outro não se perdeu e não mudou.

Tomas se aproxima deixa um beijo em minha testa e se afasta logo em seguida.

- Eu vou chama-los.

Eu balanço a cabeça acentindo.

- Obrigada.

Apenas Vocês Onde histórias criam vida. Descubra agora