Capítulo 1

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Mavi❤️‍🔥

Passei pela barreira cumprimentando os meninos com um aceno de cabeça, meu pai e seu ciúmes não me deixavam chegar mais perto do que isso. O sol estava quente como todos os dias e eu sentia o suor acumular na minha testa me fazendo ficar mais irritada pelos pequenos fios do meu cabelo que grudavam nessa região.

Conforme subia o morro sentia o suor descer pelo meio dos meus seios molhando meu sutiã, então levantei a blusa até metade da barriga como todas as vezes pra aliviar o calor.

— ou, fala tu, teu pai te vê assim vai comer teu coro — olhei pra porta do mercadinho onde AK estava encostado comendo biscoito recheado.

— poxa, tu podia fortalecer e me levar lá em casa, né ? — ele me mediu de cima a baixo e negou com a cabeça.

— nem fudendo, tenho amor a minha vida e tu devia ter também — revirei os olhos e cruzei os braços indo me escorar na sombra do toldo do mercadinho.

Meu pai fazia o estilo super protetor e sim, as vezes era muito sufocante, mas os meninos viam ele como uma autoridade que de fato ele é já que é dono do morro e muitos evitavam até falar comigo pra não se comprometerem com o GS, vulgo do meu pai.

Mas Victor não, crescemos juntos praticamente e ele é um dos únicos que meu pai ainda tem um diálogo antes de dar uma lista de motivos dos poréns de falar ou chegar perto de mim.

— Victor, tenha dó de mim e me leva até em casa, por favor — juntei as mãos suplicando e ele me olhava com tédio.

— eu ganho o que com isso ?

— te pago mais um biscoito desse — apontei pro pacote de marca duvidosa daquelas que o recheio gruda no céu da boca, que já estava na metade.

— tô passando fome não, dessas eu compro até caixa fechada — fez pouco caso e voltou a olhar pra rua.

Olhei pro mesmo lugar que ele e vi a Morena saindo da lanchonete que trabalhava pra varrer a calçada. Eu sabia que ele queria ficar com ela a um tempão, mas Bárbara é um pouco reservada e não dá moral pra qualquer um.

— um encontro — falei olhando pra ele novamente e um pouco empolgada.

— que encontro, garota ?

— com a Morena ué. Tô ligada que tu tá atrás dela — vi um pequeno sorriso se formar em seus lábios e enquanto falávamos ele mantinha os olhos nela.

— fechado, mas se for caô da tu parte eu vou cobrar em — saiu andando em direção a moto e eu fui atrás e feliz por não precisar subir mais dez minutos embaixo desse sol.

Desci da moto já em frente ao portão e me despedindo do Victor que cumprimentava os rapazes da contenção assim como eu.

Quando pisei na sala a primeira imagem que vi foi a do meu pai sentado no sofá de braços cruzados me encarando. Olhei em volta procurando pela minha mãe, mas ela não estava.

— carona com o AK de novo ? — seu rosto era sério e sua postura era toda fechada.

— boa tarde pro senhor também, pai — fui até ele dando um beijinho em sua bochecha e desviei da pergunta indo em direção as escadas.

— volta — parei na ponta da escada ainda de costas pra ele — eu tô falando contigo e tu tá me ignorando — me virei pra ele exausta e deixei a mochila na escada indo até o sofá.

— pai, era o Victor, o cara que cresceu comigo, nada demais — encostei minhas costas no sofá procurando um pingo que paciência pra lidar com esse homem.

Estava cansada e só queria ir pro meu quarto tomar um banho e descansar, tirar um cochilo e pronto.

— eu já disse que não quero tu perto deles, nada de vapor na tua cola e nem te dando carona com amizadezinha não.

— pai, eu só...

— tu só nada, não quero e pronto — já tava estressada o suficiente então só fui até a escada novamente e peguei minha mala subindo.

— ainda tô falando — ele bradou quando pisei no terceiro degrau, me virei em sua direção

— e eu tô cansada da mesma conversa quase todo dia, só quero tomar um banho e dormir — virei novamente e segui pro meu quarto.

......

— Maria Vitória, sua filha de uma boa mãe, como tu fez isso comigo ? Me vendeu por uma carona de moto ? — Morena dizia indignada pelo encontro.

— larga de ser sonsa que tu vivi falando que é doida pra sentar pro AK — retruquei enquanto dobrava algumas blusas que estavam jogadas no guarda-roupa.

— eu queria mesmo, mas tu sabe que não quero me envolver com um...— ela parou de falar se dando conta do que diria.

— com bandido, Bárbara, pode falar — completei pra ela.

— desculpa, Mavi, tio GS é gente boa e gosto muito dele, mas nem todos são como ele e você sabe disso.

— tudo bem, eu preciso desligar. Mas não esquece, vou passar teu numero pra ele — ela confirmou e disse que faria por nós duas.

Não era fácil ser filha do meu pai. Muitas vezes minha consciência pesava de pensar que sou sustentada pela desgraça de muitas famílias. Afinal é isso que o vício é: uma desgraça.

No colégio não tinha muitas amigas e também não me importava, mas a indiferença com a qual me olhavam por saberem de quem sou filha me estressava. Eu não sou do tipo super sentimental e com certeza pisar no meu calo não era opção pra quem tinha amor a vida. Assim como meu pai tinha a paciência curta eu também tinha.

Fechei as portas do guarda-roupa e fui até a varanda me deitando na rede que tinha ali. Minha vista era privilegiada, podia observar o céu por completo e a imensidão acompanhada de cada estrela, mas hoje diferente das outras noites não haviam tantas estrelas, não estava bonito como nos outros dias.

Fechei meus olhos assim que uma brisa forte bateu fazendo meus pelos se arrepiarem pelo vento frio porém refrescante.

Todas as noites eu me pergunto se o que eu realmente quero é viver assim entre a paz e o perigo, a vida inconstante do meu pai me traz incertezas do meu futuro. Eu tenho medo e carrego cada um deles comigo.

Quero me tornar a minha melhor versão daqui uns anos, formada, independente e feliz. Será que é isso que o destino reserva pra mim ?

 Será que é isso que o destino reserva pra mim ?

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Maria Vitória - 17 anos

Entre A Paz E O Perigo [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora