Capítulo 13

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Marcela💅

QUE PORRA — ouço seu grito vendo um dos meus vasos se espatifar no chão assim quem ele o joga na parede — onde eu errei pra ela ser assim, Marcela ? Que inferno.

— amor, tu tá quebrando cabeça com a Mavi atoa — ele se sentou no sofá escondendo o rosto nas mãos.

— atoa ? Porra, Marcela, são cinco da manhã e eu aqui esperando ela chegar e ela tava enfiada em baile sem me contar ? — seus olhos vermelhos me olhavam com atenção e sua indignação era nítida como em toda a conversa com a Mavi.

— e como que conta, Augusto ? — sentei ao lado dele passando minha mão por seus cabelos em um carinho — você não transmite respeito pra ela, transmite medo...tu se esqueceu de ser amigo dela conforme ela crescia, virou um ditador que só sabe dar regras — seus olhos estavam fixos em mim e ele parecia prestar atenção em minhas palavras — não criamos ela pra viver pra sempre com a gente, criamos ela pro mundo, meu amor, todos os pais criam.

— mas e se ela se machucar ou se alguém machucar ela ? — seus olhos continuavam vermelhos mas agora tinham um brilho pelas lágrimas que queriam se formar.

— Augusto, meu ouve, quando começamos a namorar o meu pai me queria contigo ? — ele negou — por que ?

— o óbvio né, sou bandido.

— também, isso era o principal, mas não era só isso. Ele não me queria com ninguém, queria me proteger a todo custo, assim como tu faz, mas eu sai de casa igual ela quer fazer agora, pra morar com você — ele me olhava todo manhoso, meus ogro dengoso — vai esperar ela sair de casa pra se tornar alguém em quem ela confie ? — ele negou — então vai lá conversar com ela, vê o que pode fazer pra melhorar, você me dizia tanto que queria ser alguém diferente pra ela, mas e agora ?

— tu tá certa, amor, tá sempre certa...vou ali e venho já pra falar com ela — eu assenti desconfiada mas logo abri um sorriso e ele selou nossos lábios com um selinho demorado.

Mavi

Coloquei coisas essenciais numa bolsa grande, documentos, roupas, maquiagens do dia a dia, alguns produtos de higiene e minhas economias. Sentei na cama por alguns segundos olhando meu quarto.

Foquei no porta retrato com uma foto de nós três quando eu ainda tinha oito anos, passei meus olhos pelas paredes com um laranja bem levinho e cheia de traços feitos por mim. Desenhar pra mim era como uma terapia e no dia que eu resolvi fazer esses desenhos eu estava tão sobrecarregada que só desenhar me acalmaria e foi o que aconteceu.

Flashback on

— eu já disse que tu não vai sair, não quero tu na rua — ouvi seu grito e subi as escadas correndo.

Bati a porta com força e me sentei na cama chorando de raiva, raiva por viver trancada e por não poder ir tomar um bendito açaí com a Bárbara.

Olhei bem pra minha parede laranjinha, lisa e sem graça parecendo faltar algo. Peguei meu celular e algumas canetas pretas e brancas próprias para desenho que custaram o olho da cara.

Me sentei no chão e com um lápis iniciei o esboço do desenho que a dias vinha pensando. Traços leves e elaborados. A raiva que eu sentia já era substituída pelo orgulho da minha evolução no desenho.

Flashback off

Que aperto do caralho.

Não queria que fosse assim, nunca quis. Meu pai mudou muito comigo depois dos meus quatorze anos, ele era mais rígido e firme, poucas brincadeiras, mas as vezes era bem carinhoso.

Eu não vou dizer que não sei o motivo porque eu sei, ele quer me proteger da maldade do mundo a qualquer custo e acho que esse é o dever dos pais além de educar e dar amor e carinho, mas chega a ser sufocante é" e desesperador o jeito como ele me proibiu de fazer coisas que pra meninas da minha idade é normal, até pouco tempo atrás eu não saia com a Bárbara nem pra tomar açaí ou ir ao shopping.

Senti as lágrimas quentes descerem pelo meu rosto sabendo que eu sentiria falta de morar aqui, sentiria falta da minha mãe e dele também obviamente. É um ogrinho, mas é meu pai.

Ouvi alguns passos vindo da escada e rapidamente enjuguei minhas lágrimas ajeitando a postura e logo a porta se abriu.

Os olhos dele foram diretamente em minha mala em cima da cama, já os meus foram no buquê médio de astromélias brancas com leves pigmentações rosas e na sacola de lindt em sua mão, que me fez pensar em como ele conseguiu isso a essa hora.

— eu...eu — os olhos ainda estavam na mala e agora olhando seu rosto eu via as lágrimas inundando eles.

— pai — minha voz sai leve e doce entre meus lábios fazendo suas lágrimas caírem de uma só vez.

— só não faz isso comigo, não vai, filha — soltou um soluço leve — eu vou mudar, eu vou ser melhor, me perdoa.

Eu não aguentei ver meu pai daquele jeito, tão vulnerável e triste pela minha atitude, mas acredito que ele tenha entendido que isso me machucava tanto quanto machucava ele.

— eu comprei suas flores preferidas, porque o pai sabe que tu ama elas, essa porra de nome difícil — uma risada leve saiu de seus lábios e eu me levantei pra abraçar ele.

Seus braços rodearem meu corpo pequeno perto do seu e ele deixou um beijo no topo da minha cabeça todo embaralhado com as mãos ocupadas.

— pra sempre minha pequena, sempre vou te proteger do mundo, Mavi, mesmo que de um jeito torto, eu vou — assento fungando o nariz com o choro entalado — te amo, petucha do pai.

— também te amo, ogrinho — apertei bem ele em meus braços com a minha pouca força.

Entre A Paz E O Perigo [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora