Capítulo 40

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Viturino😈

— Iana, eu não vou esconder mais isso...o pai percebeu que tu não sai mais daqui e ele sabe que eu fico na boca o dia quase todo.

— Vicenzo, por favor — ela estralava os dedos como sinal de nervosismo.

Quinze anos.
Meu pai sacou que tem alguma parada rolando e eu já sabia que não ia demorar muito, avisei e conversei com ela antes da parada estreitar e agora tá aí nervosa pra caralho porque ele não quer ela aqui no morro em dia de semana.

— eu acho até bom, não te quero perto do Pablo não, tá ligada ? — ela abriu a boca várias vezes e por fim assentiu — eu conversei com vocês aquele dia, falei o que eu pensava numa boa. Mas o que aconteceu no baile, aquilo não é e nem vai ser a última situação que tu vai passar por estar com alguém como ele — ela abaixou a cabeça com um semblante triste.

— eu terminei com ele — franzi as sobrancelhas ouvindo o que ela acabou de dizer.

— quando ?

— no dia do baile, ele me levou pra casa dele e ficamos juntos, mas no outro dia ele me levou pra casa.

— e por que tá fazendo tanta questão de passar a semana aqui ?

— eu gosto muito dele, Vicenzo — olhei bem seus olhos, eles encheram de lágrimas rapidamente e logo ouvi ela fungar — não quero ir pra casa e chorar no meu quarto, eles não descansariam até saber — me aproximei sentando ao seu lado no sofá.

— Iana, eu não vou mentir não, Pablo é meu parceiro, mas eu tô aliviado. A vida que a gente leva não é digna pra construir família, tá ligada ? — ela assentiu com o rostinho cheio de lágrimas — a gente paga o preço pelos nossos atos, mas a família paga o dobro, se não é caixão, é cadeia.

— eu amo ele, Vicenzo — ouvi seu suspiro — Quinze anos, apaixonada por um velho — ela riu entre as lágrimas e eu apenas ouvia.

— vou resolver essa parada com o pai, dizer que tu tá aqui pra aproveitar as férias comigo um pouco, mas uma hora tu vai ter que contar que se envolveu com ele...até porque quando o tio ficar sabendo tu se prepara — ela me olhou desviando dos meus braços.

— esqueci do Terrorista, ele vai matar o Pablo.

— tua sorte é que ele não curte essa parada de baile e que pouco gente aqui sabe que tu é minha irmã.

— pessoalzinho burro né, cara de um e focinho de outro...como que não vê — dei risada dela e me levantei.

Me despedi e fui direto pra boca deixando a Iana na proteção da contenção que ficava na casa. Passei meu olhar por eles e acenei com a cabeça pros três que faziam minha segurança dentro do morro.

Cheguei na boca vendo alguns do lado de fora. Jorginho e Terrorista conversando, outros vendendo, varri meu olhar procurando o PL mas não achei. Entrei na minha sala e encontrei ele sentado na minha mesa olhando alguns papéis.

O semblante do cara tava um lixo, achei que Iana ficaria pior por ser mais novinha e um pouco iludida com a situação, mas pelo que tô vendo ele não ficou atrás.

— tá confortável ? — disse assim que fechei a porta.

Ele levantou a cabeça e deu apenas um aceno. Sem piadas, sem brincadeiras ou apelidos.
Estranho.

— quer trocar uma ideia ? — porra, não queria me meter, mas o cara tá comigo há tempos.

— achei que tu era traficante, não psicólogo — certo, ele não queria assunto.

— então se fode, pô...e sai da minha mesa — fui até ele esperando ele levantar da cadeira mas ele não levantou — vai porra — falei mais alto.

— caralho...ela terminou tudo — ele começou dizendo e logo largou os papéis na mesa, sem me olhar — tô fascinado por uma mina de quinze anos, marrom bombom.

— qual foi, por que tu deixou ela ir assim...tão fácil — cruzei os braços olhando bem pra cara dele. Nem eu tava me entendendo, mas ver os dois mal assim dava um bagulho ruim no peito.

— Iana é o tipo de menina delicada, tá ligado — assenti — porra, ela não merece passar por uma vida de mulher de bandido, na verdade nenhuma merece, mas ela não aguentaria o tranco da parada toda — ele levantou e tirou um baseado do bolso acendendo, encostou perto da janela e deu um trago me passando o baseado.

Ele soltou a fumaça olhando pro morrão e logo eu percebi os olhos vermelhos, ele queria chorar mas tava segurando...caralho, foram o que ? Cinco meses ?

— tu viu como ela ficou com o bagulho do baile, tava puta...se tremia toda, nervosa pra caralho, mas quando levei ela pra casa — ele maneou a cabeça negando e olhou pra mim — ela chorou tanto que eu não sabia o que fazer...até os soluços, que ela soltava de tanto chorar, doíam na minha alma. Eu não ia aguentar ver ela passar por uma porrada de coisa que a maioria das cunhadas passam, irmão.

Tô ligado que se tratava da minha irmã, mas querendo ou não o pensamento foi na Maria. Ela teria que enfrentar coisa pra caramba se quisesse ficar comigo e eu sei que o Pablo tá abalado pra porra, mas foi uma decisão do caralho.

Entre A Paz E O Perigo [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora