Capítulo 27

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Mavi❤️‍🔥

Quando coloco meus pés na sala vejo a figura do meu pai no sofá. Ele me olha e logo levanta vindo me abraçar, me aperta em seus braços e eu correspondo o abraço.
Sinto meus olhos arderem querendo sentar com ele e contar tudo o que venho sentindo e o quanto estou exausta pela confusão que anda minha mente e meu coração.

Sinto o cheiro dele, o perfume forte e masculino que me soa tão familiar, queria ficar nos braços dele pra sempre, mas agora vem a parte mais difícil de voltar.

Contar pra ele que Vicenzo é o motivo principal.

solta a letra, conversei com tu mais cedo e o plano não era voltar, o que mudou ? — sua postura mudou e agora é ocupada por uma carranca fechada, ele volta a se sentar no sofá e apoia os cotovelos na perna.

Olho através do vidro da cozinha e vejo que minha mãe e Bárbara estão lá fora com um menininho que não deve ter mais do que 11 anos. Volto o olhar pro meu pai quando ele arranha a garganta.

— pai...eu...eu não sei por onde começar — passo meu cabelo por trás da orelha sentindo minhas mãos soarem e seco em minha roupa.

Tento não transparecer meu nervosismo, mas minha tentativa é falha porque vejo no rosto dele que está sem paciência pra balela.

— só começa pela verdade, não te criei pra ser covarde e nem mentirosa, posso não levar a vida mais honesta mas te ensinei que caráter e princípios são as únicas coisas que não podem ser tiradas de tu — confirmo maneando a cabeça.

— então vou começar pedindo desculpas — vejo ele franzir o cenho e dali já sabia que tinha começado errado, mas já que a merda tá feita vou em frente — eu menti pro senhor, na noite em que saiu com a mamãe, eu fugi de casa — digo isso olhando em seus olhos e vejo suas orbes escurecendo.

Como ele disse, poderia não ser o cara mais honesto mas ainda sim meu pai odiava mentiras, e eu venho fazendo isso com frequência.

— eu tô tentando me segurar, mas se eu perguntar a onde tu tava vai ficar difícil pra tu, não vai ? — ele sabia que ia, mas queria que eu dissesse.

— vai sim — ele se mexe um pouco agitado no sofá e passa as mãos pelo rosto, sei que tá se controlando pra não perder a linha comigo.

— na moral, eu prometi pra tu que ia melhorar, e eu tô tentando então solta logo que eu vou me controlar — sentei ao seu lado e segurei uma de suas mãos.

— pai eu menti muito e de jeito nenhum eu me orgulho — sua atenção era inteiramente das palavras que saiam da minha boca — quando eu fui atropelada eu não contei pro senhor quem foi e me lembro do tanto que ouvi naquele dia.

— eu deixei isso quieto porque tu tava bem, porque tua mãe disse que não queria que eu brigasse contigo, e eu evitava isso a todo custo.

— eu sei pai, eu fui pra casa da tia Irene pelo mesmo motivo, não queria brigar mais e nem ver o senhor e a mãe brigando — minhas mãos suavam cada vez mais e então eu tirei o contato da minha mão com a sua pra secar novamente na roupa — o motivo pelo qual eu venho mentindo é o mesmo, na maioria das vezes foi.

Lembro que no baile Vicenzo ainda não era um motivo mas depois dali se tornou um deles.

— porra, Maria, só fala de uma vez — um sorriso escapou dos meus lábios me lembrando que apenas ele e o Viturino não me chamavam de Mavi.

Vicenzo Viturino, esse é motivo pai — seus olhos que estavam em mim, agora olhavam pro painel da sala onde estava a tv — pai, quero que saiba que eu tentei evitar, tentei fugir mas depois das notícias...

— voltou porque acha que ele tá morto — assenti mesmo sabendo que ele não me olhava, ouvi uma risada sem ânimo sair dos seus lábios e logo ele levantou do sofá — Victor sabia disso, não sabia ?

— não é culpa dele, ele só tentou me ajudar — eu não conseguia encarar seus olhos.

— te ajudar a mentir pra mim ? — ele elevou seu tom de voz enquanto gesticulava mostrando seu nervosismo — eu praticamente criei aquela porra e ele te ajudou a me passar pra trás durante uma semana ? Porque tuas mentiras foram frequentes durante cinco dias, foi esse o tempo que tu levou pra se apaixonar por uma porra de bandido ? — seu tom aumentou gradualmente e logo minha mãe apareceu na sala, a figura da Bárbara estava mais afastada observando tudo atentamente.

Ele passou a mão pelo rádio no painel com raiva e logo transmitiu uma mensagem simples por ele "quero o AK na minha porta em cinco minutos"

Não era pra tanto, pelo menos era o que eu pensava, mas olhando pelo lado do meu pai era muita coisa sim. Uma filha mentirosa, um moleque que ele ajudou a criar mentiroso também e uma esposa que apesar de não saber dos detalhes também sabia mais do que ele.

— Augusto, por que tá gritando assim ? — ouço sua voz doce em um tom bem mais calmo que o dele, ela não ousa se aproximar muito, mas ainda sim estava mais perto do que eu.

— por que eu tô cercado de gente mentindo pra mim, Marcela, fala tu, também sabia dessa história ? Sabia que ela mentia pra encontrar o frente da Rocinha ? — minha mãe fechou os olhos respirando fundo e meu pai encarou ela incrédulo — tu sabia dessa porra também, tu sempre sabe — ela abriu os olhos pressionando as têmporas de cabeça baixa.

— eu não sabia que era ele, mas imaginava que ela fazia isso pra encontrar alguém — seu tom de voz se manteve e ele deu alguns passos em sua direção mas assim que aporta se abriu ele parou e olhou pra trás.

— qual foi ? — Victor, parado bem atrás da porta observando tudo um pouco confuso.

Quem via a ira no rosto do meu pai prefira se manter o mais longe possível, com excessão da minha mãe que não moveu um músculo enquanto ele ia em sua direção.

— qual foi ? — meu pai imitou sua pergunta, quando me dei conta já estava entrando no meio deles e tentando segurar meu pai assim como minha mãe — eu te criei, Victor. Tive um carinho fudido por tu, e é assim que retribui ? Mentindo pra mim, pra ela — apontou pra mim — se encontrar com bandido nas minhas costas ? Tu justificava cada atitude dela, defendia e o caralho.

— PAI — gritei tentando chamar sua atenção mas foi em vão assim como os gritos da minha mãe.

Tudo parecia estar desmoronando e era isso que eu tentei evitar quando quase me envolvi com o Vicenzo. Um caos.

Meu pai simplesmente parou, se desvencilhou de nossos braços e antes de sair pelo portal que separava a cozinha da sala indo pra área externa, disse:

— eu não quero trombar com tu, não quero te ver na boca, nem na minha casa de novo e te dou uma semana pra sumir desse morro — apontou na direção do Victor com a voz firme.

Não entendi bem, na verdade não entendi nada, mas percebi que ele precisava de espaço pra digerir o que aconteceu aqui e que mais uma vez minhas atitudes tiveram consequências pra alguém.

Entre A Paz E O Perigo [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora