Capítulo 33

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Mavi❤️‍🔥

Assim que acordei, ainda de olhos fechados, senti o peso do seu braço na minha cintura. Meio preguiçosa olhei bem pra cada canto do quarto, que estava todo bagunçado pela madrugada de sexo, e um breve sorriso pairou em meus lábios.

Sentia sua respiração na minha nuca, seu cheiro grudado no meu corpo todo enquanto sentia seu calor, corpo a corpo apenas com nossas peças íntimas nos limitando.

Queria levantar pra ir ao banheiro, meu relógio biológico não falha e o xixi tava expandindo minha bexiga cada vez mais. Quando pensei em me levantar seus braços meu apertaram mais pra si, impossibilitando meu movimento.

— não vai fugir de mim hoje — sua voz rouquinha e baixa soou no pé do meu ouvido e sua respiração intensa arrepiava meus pelinhos.

— não vou, mas preciso muito ir ao banheiro — ele bufou e eu ri baixinho sentindo o aperto afrouxar.

Sentei na cama e foi automático o desconforto na região íntima, o meio das minhas pernas ardiam um pouco e uma careta surgiu no meu rosto.

— qual foi ? Tá legal ? — assenti e me levantei.

Minhas pernas pareciam as de um alicate, andando igual uma pata até o banheiro ouvindo sua risada rouca e gostosa, me virei pra porta e olhei pra ele. Antes de fechar dei um breve sorriso.

Não importa o quão ardida eu tava, ou o quanto ele achava graça disso, nós estávamos leves e por algumas horas éramos só eu e ele, só nós dois desfrutando de uma incerteza.

Eu não sabia quanto tempo esse momento ia durar, se alguém me ligaria dando uma péssima notícia ou se teria uma invasão que de fato tirasse ele de mim como pensei que tinha acontecido.

Mas sei que momentos como esse com pessoas como ele devem ser aproveitados ao máximo. E eu sei disso porque apesar de temer minha mãe sempre foi realista comigo, dizendo que meu pai não levava uma vida de paz.

Eu tinha oito anos quando descobri que meu pai era bandido, ele sustentou por muito tempo. Se esforçava pra esconder as armas e tudo o que remetia a vida errada dele. Antes disso também eu não teria tanto entendimento pra saber o que seria tudo aquilo, poderia confundir ele com algum policial, afinal o que diferem eles muitas vezes é apenas a farda.

Oito anos, mas nessa idade muitos, diferente de mim, já tinham maldade implantada nos corações. Oito anos, e uma coleguinha disse ter ouvido o pai chamando o meu pai de bandido.

E essa foi a primeira pergunta que meu pai ouviu sem ter uma resposta na ponta da língua: "pai, o que é ser bandido". Ele paralisou, me analisou por minutos e eu ansiosa esperando uma resposta corri até minha mãe fazendo a mesma pergunta: "mãe, o que é ser bandido".

Queria saber se era tão ruim quanto pareceu na boca daquela criança que dividia lápis e cadernos comigo, que pontou o dedo na minha direção com uma roda de poucos amigos e disse "meu pai falou que o pai dela é um bandido".

E a resposta dele ? Um silêncio ensurdecedor por dias, meu pai fugiu e minha mãe acompanhou ele nessa fuga me deixando sem respostas.

Até que por um descuido eu vi a arma na cômoda da cama, entrei de fininho no quarto deles enquanto minha mãe fazia o almoço e segurei ela nas mãos. Ao meu ver era um brinquedo, uma arma que hoje eu conheço por uma 9mm, cravado seu vulgo.

Meu pai entrou em desespero tirando aquilo da minha mão como se fosse disparar a qualquer momento. E então da maneira dele, sentou comigo me olhando nos olhos como sempre fez e me contou quem ele era e o que ele fazia.

Nesse momento eu percebi que muitas coisas seriam ditas sobre ele, mas que ele sempre seria meu pai, sempre seria o Augusto marido da Marcela e pai da Maria. Do lado de fora sem dúvidas ele era o GS, respeitado e temido por todos.

Então, por não saber o quanto esse momento entre nós iria durar, eu prefiro arriscar e viver isso hoje do que me arrepender de não ter vivido.

Fiz meu xixi e escovei os dentes com a escova da última noite, que ainda estava em seu banheiro e lembrei de como ele cuidou de mim depois do desmaio pelo cheiro forte da maconha.

Sai do banheiro e me deparei com ele ainda deitado e de olhos fechados, ele estendeu a mão todo manhoso e me chamou. Nem parecia o marrudo e fechado de sempre.

Ouvi meu celular tocando e tinha até esquecido de olhar as notificações. Mas em resumo tinham trinta e seis chamadas perdidas em sua maioria da Bárbara, marquei um compromisso com ela e simplesmente não desmarquei e nem avisei nada, uma péssima amiga.

amiga, me desculpa, eu sei que deveria ter ligado pra avisar...— comecei a me justificar assim que atendi a chamada.

— tu é uma vaca, Mavi, mas vou relevar porque o Victor disse que te levou pra casa do Vicenzo — suspirei aliviada por ela não estar tão chateada — e aí ? Conversaram ?

— conversamos — me resumi a isso

— ué, só isso ? Mas tu dormiu aí. Mavi...você... não não não. Vocês transaram ? — um silêncio tomou conta da linha — AI MEU DEUS, VOCÊ DEU !!! — sentia a euforia dela daqui.

— para de escândalo — dei uma risada e ela continuava eufórica.

— que safada cara, me deu um perdido pra transar — ela ria enquanto falava e eu ria junto.

— não foi bem assim, mas depois a gente conversa.

Encerrei a chamava e coloquei o celular na cômoda ignorando o resto das ligações e voltando a dormir com meu pretinho.

Entre A Paz E O Perigo [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora