Capítulo 48

860 42 2
                                    

Viturino😈

tem que ficar no rastro dele, tem bagulho errado — meu tio se senta na cadeira em frente a minha mesa e continua — ele tá calmo pra caralho, isso tá estranho.

Vejo a fumaça do seu baseado se desfazendo no ar. Olho pra ele vestido todo de preto nesse calor do caralho que tá fazendo. Um boné vermelho se destaca na sua cabeça e alguns anéis de ouro nos dedos ornando com o relógio grande em seu pulso.

Tiro meu celular do bolso, ainda quieto pelo que meu tio falou. O bagulho vai ficar de verdade quando esse cuzão do Marques der as caras.

Entro nas mensagens com a Maria e vejo que apesar de on-line não respondeu minhas mensagens. Mando mais um ponto de interrogação, diabinha gosta de ignorar.

Senti ela estranha na noite passada, toda quieta e calada, o que é estranho já que ela fala pra caralho. E eu que não gosto de muita zorra me sinto aliviado quando ouço a voz dela, mas ontem não.

Ela tava com o papo todo estranho de que família deveria ser sagrada pra todo homem que pensa em se casar. Nem entendi nada, se era indireta pra pedir em casamento ela mandou do jeito errado.

Minutos depois tô com meu tio aqui na parte de fora da boca, observando e ouvindo a conversa ao meu redor.

Rebecca vem subindo com a barriga maiorzona do que da última vez que vi. O corpo pequeno moldado em um vestido curto, a barriga bem marcada e os cachos aparecendo novamente depois do corte maneirinho que fizeram nela.

— e aí, qual parada que deu ? — olho pro PL ao meu lado — é teu ? — neguei ainda calado quando ele aponta com a cabeça na direção dela — e sabe de quem é ?

— caralho, por que tu não atravessa a rua e pergunta pra ela ? — ele deu apenas uma risada.

— fiquei sabendo que é do cadinho — ouço Jorginho falar e franzo as sobrancelhas sem entender — cadin de um e cadin de outro — nego maneando a cabeça enquanto eles caem na risada.

— tua novinha tava aí ontem e tu ainda tá estressado, caralho — fito bem a imagem desse otário e fico pensando se minha irmã anda bem do juízo pra querer uma porra dessa.

— claro, porra, tua voz o dia inteiro na minha mente, quem que fica calmo ? — olho sério pra ele e passo a língua nos lábios secos.

Desvio meus olhos pra frente assim que uma moto para perto de nós e logo reconheço, vejo AK colocando o apoio da moto no chão e ele tira o capacete. A expressão no seu rosto diz que tem algo errado e aí eu já fica pilhado.

— que porra — ouço ele murmurar.

— qual foi, tá fazendo o que por aqui ?

— se tu tá aqui, com certeza aqui na Rocinha ela não tá — já saquei de quem ele falava e foi aí que eu já fiquei bolado.

— ela saiu sem avisar ? — ele assente — mané, o GS deixa três encosto atrás dela e não tem um que viu ela sair ?

— ela tem lábia, caralho — ele olha pra mim puto igual — conversa com todo mundo, toda simpática...deve ter dobrado os cara.

Passo minha mão pela nuca sentindo o nervoso querendo tomar conta. Percebo que ela não me responde não por querer mas porque algum bagulho pode ter acontecido.

— ela também não responde nenhuma mensagem, não atende ninguém...a mãe dela tá igual louca ligando e nada dela.

Tomar no cu, que porra ela tava pensando quando decidiu sair sozinha.

Logo outra moto aparece no meu campo de visão e dessa vez sem capacete, de longe reconheço o Augusto.

— foi aquele filho da puta — ele fala assim que desce da moto — eu avisei pra ela, teimosa demais, como pode, parceiro — fala mais pra si mesmo do que pra gente.

— caô, fala logo — já começo a me sentir agoniado sem saber o que tá rolando com ela.

o Marques pegou ela.

Como se as palavras dele fossem balas rasgando a minha pele eu sinto a dor subindo, mas não é só isso, eu tô com ódio.

Eu sabia que me envolver com ela traria consequências, não deveria deixar nada atingir ela dessa maneira.

Quando ela manteve a decisão de se distanciar eu deveria ter sido mais firme, deveria ter incentivado ela a ficar longe, mas sou um filho da puta egoísta e só pensei em mim e no quanto eu desejava ela.

Meu celular começa a vibrar no bolso, mensagens chegando. Olho pra tela e vejo o número desconhecido, aperto em cima da notificação e quando as imagens carregam eu aperto o celular com tanta força que quase amasso ele em minhas mãos.

Uma foto dela, pés e mãos amarrados enquanto ela está sentada num canto quase escuro, seus olhos vermelhos e inchados provavelmente pelas lágrimas, sua boca com um tipo de pano impedindo o movimento do maxilar.

Apenas um áudio do desgraçado.

olha só, quando pensamos que as coisas estão ruins a gente vê que na verdade tá tudo na mão do destino. Nem precisei ir até vocês, porque quando eu cheguei aqui dei de cara com a cajadada que vai me fazer pegar os dois coelhos — ouço a tentava dela gritar no fundo do áudio e uma respiração pesada sai do fundo dos meus pulmões — bora fazer uma troca, vou deixar teu sogro pra outra hora, mas agora quem eu quero mesmo é tu, vagabundo.

Entre A Paz E O Perigo [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora