Capítulo 34

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Viturino😈
Semanas depois

Se tem uma coisa que meu pai me ensinou foi a ser homem. Posso ter seguido pelo caminho torto, mas mesmo assim sempre fui certo pelo certo na caminhada.

Já matei homens em patamares bem mais altos que o meu nas antigas e até hoje mantenho a postura na frente daqueles que são maiores que eu dentro da facção.

E é por isso que eu tô sentado nessa cadeira de couro desgastada em frente a mesa do GS, tomando a postura de homem em falar com ele sobre o que me importa: Maria Victoria.

ela sabe que tu tá aqui ? — ele me pergunta dando mais um trago no baseado dele.

Na moral ? Só tô aqui por ela. A gente tem vivido um bagulho bom, de me deixar calminho quando o mundo lá fora cai na minha cabeça. Eu costumo dormir umas cinco horas das vinte e quatro horas que o dia me oferece, mas quando eu tô com ela eu durmo igual bebê saciado e limpo, durmo mais que as oito horas devidas.

Ela tem se mostrado uma mulher em relação a postura, a Maria que eu conheci a meses atrás se transformou em uma mulher que corre atrás do que quer e luta pelo que acredita. Ela tem batido de frente com o pai por mim e é aí que eu me sinto um lixo.

Tô ligado que o cara não vai com a minha cara, ou não vai com a de qualquer um que chegue muito perto dela, mas ele criou ela com todo amor e isso é nítido. Então quando ela fala pra mim sobre o dia dela e sobre algumas discussões deles eu me sinto como um obstáculo que afasta os dois e por esse sentimento que tá crescendo aqui no peito eu to aqui agora.

— eu vim trocar uma ideia com tu no momento, não com ela — tava ficando irritado já, minha paciência era curta pra caralho pra tá de lero lero aqui.

— então manda o papo reto, tô ouvindo — ele soprou a fumaça e continuou com o baseado entre os dedos me olhando sério como sempre.

— a Maria é uma das mulheres mais importantes da sua vida e ela se tornou pra mim também — um sorriso debochado crescia em seus lábios e isso me irava — vim no papo reto e sou homem pra dizer que essa porra não faz curva, então a partir de hoje tô assumindo ela como minha mulher — ele ajeitou a postura na cadeira e apagou o baseado.

Ele me observava bem e enquanto me olhava dentro do meu olho apoiou os braços na mesa, juntando as mãos.

— a vida que a gente leva não é a porra de uma novela mexicana cheia de drama com final feliz onde tudo, apesar de dar errado, termina certo. Não criei minha filha pra ser mulher de bandido como eu, pra sofrer como a Marcela já sofreu. A gente acha que carrega o fardo de comandar essa porra aqui mas quem sofre tá dentro de casa esperando a gente voltar, seja com uma bala no corpo, com arranhão, mas espera a gente vivo — ele dizia tudo isso olhando no meu olho.

Eu conseguia ver a raiva nos seus olhos, talvez uma pontada de tristeza, mas ainda assim a raiva era maior, o ódio de ter um filho da puta como eu sentado de frente pra ele dizendo que queria a filha dele.

— eu não sou moleque, GS. Tenho trinta e cinco anos nas costas, muita coisa nessa caminhada assim como tu. Só que tu encontrou alguém antes dessa vida, antes dessa merda toda que a gente vive. Larga a porra da tua hipocrisia, tu pensou nisso tudo quando se juntou com a Marcela ? Claro que pensou, mas mesmo assim queria ela do teu lado, porque ama ela. E eu quero a Maria do meu lado — olho no olho, de homem pra homem.

Nos distanciamos um pouco da mesa, um barulho do lado de fora e uma gritaria atravessavam a madeira velha da porta, tanto eu como ele já posicionamos as armas na mão esperando quem fosse passar por ela.

— pai, pelo amor de Deus — respirei aliviado e abaixei a arma assim que vi seu rostinho desesperado — abaixa isso, não mata ele, por favor.

Ela com certeza não entendeu nada do que tava pegando, ela tava desesperada de verdade. Ofegante e suando frio, talvez um pouco atordoada ainda. A farda do colégio, a mesma do dia que nos conhecemos, grudando em seu corpo, marcando seus seios.

Atrás dela estava o Victor e alguns vapores que com certeza temiam a bronca depois de não conseguirem segura-lá.

— já te falei que não te quero aqui, caralho...qual o teu problema ? — ele dizia rígido, mantendo a pose de durão com ela.

— pai, eu só...

— não vou matar ele, porra...agora vai pra casa — o jeito deles era muito parecido, esquentados, tudo do jeito que eles queriam se não, não servia.

— só saio daqui com ele — ela cruzou os braços e olhou séria pra ele.

— Maria — ela me olhou, vacilando um pouco na postura — é só uma conversa, tá tudo bem — minha voz saiu num tom firme com ela, pra entender que a conversa era séria também.

— vou te esperar aqui fora então e depois nós...— interrompi sua fala enquanto maneava a cabeça negativamente.

— vai obedecer teu pai e vai pra casa, eu te busco lá depois — ela pensou em retrucar mas meu olhar fez com que ela apenas respirasse fundo e revirasse os olhos.

— tudo bem, vou pra casa e te espero lá — semicerrei os olhos pra ela enquanto olhava sua bunda marcada na calça jeans quando ela saiu pela porta.

Ela revirou os olhos pra mim. Isso teria consequências.

ela te ouve — virei pra voz que se dirigia à mim — vou acompanhar seja lá o que tu quer com ela de perto, se machucar minha filha tu é um homem morto.

Entre A Paz E O Perigo [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora