Mavi❤️🔥
Passo meus olhos pela decoração nova da sorveteria da dona Glória, as paredes pintadas de roxo escuro quase da cor do açaí. Na parte de cima vejo a tinta preta desenhada com giz em algumas frases e desenhos feitos pelo Cadu.
Combinei de me encontrar aqui com a Morena, ela está atrasada uns cinco minutos mas eu já esperava por isso, dificilmente ela cumpre seus horários.
— boa tarde, pequena Maria — vejo dona Glória se aproximar com uma mini caderneta em mãos.
— boa tarde, dona Glória — a mulher de mais ou menos cinquenta anos carrega um sorriso acolhedor no rosto junto com uma simpatia terna em seus olhos.
Não vejo bem sua roupa por baixo do avental preto com o logo da sorveteria, um sapato ortopédico e os cabelos por dentro de uma touca. Sempre bem higiênica e cuidadosa.
— está esperando a Morena, não é ? — confirmo com um sorriso breve e ela me encara temerosa — menina, está tudo bem ?
— tá sim, dona Glória — ainda com um sorriso amarelo eu confirmo, mas não convencida da resposta ela toma a liberdade de se sentar ao meu lado.
— estranho, aquele brilho de alguns dias atrás sumiu do seu olhar, minha menina — vejo que ela olha cada canto do meu rosto.
— não é nada sério ou que deva se preocupar, são besteiras de adolescente — dou de ombros.
— essa fase é uma das mais bonitas, Maria — ela faz uma pausa e pega em minhas mãos, coloca uma sob e outra sobre minhas mãos — é uma fase em que tudo que é fácil se torna difícil, em que complicamos tudo.
Dona Glória me encarava com seus olhos castanhos claros com atenção e carinho em suas palavras. Soltei minha respiração de modo a relaxar, eu estava tensa.
— acho que tenho complicado demais as coisas fáceis, dona Glória — ela com um sorriso singelo afirmou.
— tem coisas que podemos nos arrepender de ter feito, Maria, mas tem outras que vamos morrer com vontade de fazer.
Ela se levantou depositando um beijo em minhas mãos assim que um cliente apareceu no caixa e saiu deixando um sorriso confortante.
Apoiei meus cotovelos na mesa e passei as mãos pelo cabelo, fechei os olhos por alguns segundos me lembrando de como foi bom dormir sentindo o cheiro dele. Sentindo sua mão apalpar meu seio enquanto sentia sua respiração na minha nuca.
Lembranças únicas de um momento que não vão se repetir, porque quando sai pela amanhã quando seu sono pesado era presente determinei que não voltaria a fazer aquilo por vários motivos. Um deles era meu pai, eu estava quebrando a confiança que ele depositou em mim, mas de várias fatores acho que o principal era o medo de me machucar.
Viturino se mostrou um homem cuidadoso, carinhoso, um pouco possessivo, mas mesmo assim saber que Rebecca teve algo que ele não queria me dar por uma decisão que cabia a mim me chateou. Mesmo sem pretender ele fez minha insegurança gritar dizendo que ele não me queria porque eu não era como ela.
Ela deve ser mais experiente, deve fazer coisas que eu obviamente não sei porque sou virgem. Ela é ousada, fez uma homenagem como ela mesma disse, algo que eu não tive coragem e mesmo assim tentei fazer algo pensando nele que no final eu gostei, me senti mais bonita.
— foram só — levantei a cabeça assim que ouvi a voz da Morena — quinze minutos, eu juro que tentei ser pontual — estava ofegando, apoiou uma mão na cadeira e a outra na testa se curvando levemente esperando a respiração regular.
— eu nem sei porque chego na hora se tu sempre se atrasada — ela pareceu ofendida e tentou dizer algo, mas ainda recuperava o ar.
— culpa do seu amigo — ela puxou a cadeira e se sentou finalmente — tu usufruiu da carona e agora sou eu quem aguento ele no meu pé.
— tá judiando demais dele, Bárbara, nem é pra tanto — ela dá um sorriso sem graça e sei que lá vem um textão.
— eu só acho engraço que ele me cobra algo que não cumpre, por isso não queria me envolver com bandido. No final tu pode fazer o mesmo que ele e estar certa, mas ainda vai estar errada — fez uma pausa e pareceu se lembrar de algo — tem mais, ele pode não aumentar o tom de voz comigo, mas em uma briga se ele levantar a mão pra mim eu desmonto.
Eu deveria ter esse medo também, Viturino é bandido e em um nível mais elevado que o AK sem dúvidas. Mas ele não parece o tipo de cara que me enforcaria enquanto me prensa na parede, isso se eu não pedir.
— e você e o bandido dos sonhos ? — seu tom mudou de irritação para ansiedade muito rápido.
Reparei bem na expectativa que seus olhos carregavam querendo saber algo sobre a noite passada.
— não vai dar certo — me segurei nessas quatro palavras desde ontem.
Bárbara parecia não entender, pra ela estava tudo bem entre nós e teria sido minha primeira vez.
— vocês não... — fez um gesto discreto se referindo ao sexo e eu neguei — Mavi, talvez ele queria que fosse especial.
— ou talvez não seja o certo e isso é um sinal.
— desde quando tu precisa de um sinal pra transar com um gostoso daquele ? O sinal é ele, amiga.
— ele nem me mandou mensagem, Bárbara.
— ele fez mais que isso, te chamou pra dormir com ele e tu fugiu enquanto ele dormia.
Sentia meu corpo todo frustrado e minha mente cansada de tanto pensar sobre isso enquanto deveria me ocupar com um curso ou com as minhas notas.
Chamamos a dona Glória e fizemos nosso pedido. Ficamos mais algum tempo conversando até os açaís chegarem. Em meio a alguns assuntos meu celular vibrou com uma mensagem.
— pode fugir de mim, pequena, mas não vai fugir do que tu tá sentindo.
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Entre A Paz E O Perigo [M]
RomanceO que que aconteceu? Tudo mudou quando ela apareceu Tentei escapar, mas a paixão pegou Nossa vibe, nosso beijo combinou, amor Mavi e Viturino