Capítulo 57

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Mavi❤️‍🔥

Estava quase pronta, oito horas e cinquenta e dois minutos e a única coisa que faltava era o meu perfume marcante.

Era incrível como eu sempre ficava ansiosa quando o assunto era ele, todas as vezes meu corpo parecia passar por uma combustão, aquele sentimentos avassalador e marcante.

A sensação de ter ele comigo até quando ele não está, sua marca fica registrada em mim, seu beijo em meus lábios, seu toque em minha pele e quando ele me penetrava a sensação era de querer que ele estivesse lá todas as noites.

Todos esses pensamentos me veem a mente quando fecho os olhos em frente ao espelho do meu quarto, a porta da sacada aberta permitindo que o vento da noite entre por ela. As cortinas, agora brancas com algumas flores sutis, se movimentam conforme a brisa da noite dança junto com elas.

Passo meu perfume pelos pontos de maior fixação e pelo vestido também. Ouço os passos pela escada e deduzo que seja meu pai pelo pisada dura nos degraus.

— sempre a mais bonita — assim que aporta se abre vejo sua imagem e ouço sua voz.

— obrigada, pai — olho para o comprimento do vestido e aliso com as mãos me sentindo um pouco insegura.

— tem alguma coisa errada ? — levanto a cabeça em sua direção e nego — não parece — ele se aproxima e fecha a porta atrás dele.

Ele caminha até minha cama e se senta. Ele também está arrumado, incrivelmente arrumado na verdade. Uma camisa social acompanhada de uma calça jeans e um sapatênis que eu diria nunca ter visto ele usar.

Meu pai fixa os olhos nos meus esperando que eu desabafe tudo que preciso, talvez seja um ótima ideia, mas se tratando do assunto sair de casa eu duvido que tenha um bom fim.

— pai, o que o senhor diria se eu dissesse que quero sair de casa — fiz a pergunta com um pouco de receio e ele sorrio como se fosse óbvio.

— agora você está maior, pode sair com seu namorado, suas amigas...eu já não te proíbo como antes, eu mudei isso e...

— não pai — interrompo sua fala assim que entendo o quão errado ele interpretou — estou falando de me mudar de casa.

Minha pergunta pareceu um choque aos seus ouvidos, sua expressão murcha e a tristeza se fez presente. Ele desviou o olhar e rodeou todo o cômodo com os olhos mas não firmou a visão em mim novamente.

Acompanhei seus olhos brilharem, algumas lágrimas começaram a marejar seu olhar que não se comparava nada com o meu. Seus olhos castanhos e de tamanhos grandes estavam repletos de água, até que uma delas escorreu e eu me aproximei, sequei essa pequena lágrima que caia e levantei seu queixo em direção ao meu rosto.

— pai ?

— você é minha única, Maria — sua voz saiu embargada e seus olhos ainda não me olhavam diretamente — minha única filha, minha razão pela qual lutar além da sua mãe.

Senti meu coração estremecer com sua confissão. Como alguns anos atrás eu me recordei quem era o Augusto antes de todo o ciúme que ele vinha sentindo pela sua única filha. Carinhoso e atencioso, além de cuidadoso é claro.

— eu e sua mãe passamos um processo muito doloroso contigo.

— processo, pai ? Que processo ? — sentei ao seu lado na cama.

Meu pai delicadamente segurou minha mão e acariciou ela, ele olhou nos meus olhos e continuou.

— hoje tu não tem mais nada dessas paradas, mas com uns dois anos tu teve um problema no pulmão sério...tua mãe que explica melhor isso — eu sentia sua mão ainda acariciando a minha enquanto um sorriso triste se formou em seus lábios — três meses foi o tempo que tu ficou longe de casa, todos os dias eu saia do plantão e ia direto pro hospital, tua mãe então nem saia.

Suas palavras são carregadas dessa memória como se tivessem acontecido ontem, eu sei que sim, reconheço no tom de voz do meu pai a dor.

— tu era tão pequena, pô...três meses assim e meu peito rasgava toda vez que eu voltava pra casa só pra tomar banho e pegar o plantão de novo — foi inevitável não abraçar meu carrasco.

Meus braços rodearam seu pescoço com força e ele correspondeu apertando mais ainda.

— se tu precisa dar esse passo, se precisa crescer esse tanto a ponto de se mudar, então vai...o mundo é teu minha filha e eu sei que tu não vai abandonar tua família, mas o coração do pai quebra né — olhei pra cima tentando conter as lágrimas que queriam descer e concordei com ele.

Eu precisava disso. Não era uma aprovação do que fazer ou não, era como um conselho. Meu pai em todos os momentos parecia saber o certo e o errado e eu admito que teimei muito com ele e que ele também errou, mas sempre em todas as circunstâncias foi tentando ser a melhor versão dele pra mim.

Hoje, se de fato a minha decisão for seguir em frente com o Vicenzo e juntarmos nossas escovas, minha consciência estará tranquila de que não estou tropeçando em meus passos.

— e não esquece — ouço sua voz próxima do meu ouvido — se não der certo, se não for como pensou, volte pra casa — afrouxamos o abraço e ele continuou — aqui é seu lar pra sempre.

......

Me acomodo no banco de couro e sinto o ar gelado arrepiar minha pele, percebendo isso ele diminui a intensidade e segura minha mão esquerda próxima da sua direita.

Me aconchego em seus braços assim que ele me envolve e cobre meu ombro com beijos delicados.

— tava carente de tu, papo reto — solto uma risadinha e afundo meu nariz no seu pescoço, sentindo o cheiro do perfume forte e gostoso.

Entre A Paz E O Perigo [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora