Capítulo 28

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Mavi❤️‍🔥

Os olhos do Victor não conseguiam esboçar nada além de surpresa e angústia. Ele encarou os olhos da minha mãe, abrindo e fechando a boca várias vezes mas sem dizer uma palavra.

— calma tá, calma, vai ficar tudo bem — ela passou o braços por seus ombros ao seu lado — ele só tá nervoso, tá acontecendo muita coisa ao mesmo tempo.

Bárbara que até agora estava imóvel veio pra sala se sentando no sofá. Ela parecia inerte a tudo que aconteceu, olhava para os dedos das mãos alheia a tudo ao seu redor.

— tá acontecendo o que, mãe ? — perguntei querendo saber o que mais tava tirando a paz dele.

— o morro tá sob ameaça assim como a Rocinha, ele tá assim porque tão ameaçando a nossa família — olhei pra ela esperando que continuasse e gesticulei com a mão — ele recebeu fotos suas na casa da Irene, alguém sabia que tu tava lá por isso ele ligava o dia todo.

Talvez não justificasse a explosão que ele teve com tantos sentimentos acumulados, mas agora eu consegui entender o porquê de reagir dessa maneira.
Se tem uma coisa pela qual meu coroa sempre zelou foi pela família, então tenho certeza que isso tá consumindo ele, fazendo ele se sentir impotente e inútil.

Decidi dar esse espaço, recuar e esperar. Uma hora isso ia passar e por mais que o lance com o Vicenzo deixasse ele desconfortável ele iria se conformar. O que me deixava aflita era saber que por minha culpa a relação dele com o Victor estava abalada.

— tá me devendo pelo resto da vida — ele sentou ao meu lado e acariciou minhas costas com tom de brincadeira.

Acredito que até ele tentava ser otimista e se tranquilizar, esse papo de que ele vai sair do morro não vai virar, meu pai fala mas não permite.

Desviei meu olhar para Bárbara que entrelaçava os dedos olhando pra eles, ela parecia desconfortável e eu desconfiava que era pela presença do AK. E acredito que ele também percebeu, porque logo em seguida se despediu de nós e foi embora.

— bora subir ? — chamei ela já me levantando do sofá.

— eu acho melhor ir pra casa.

— Bárbara, eu sei que precisa conversar, eu percebo isso — ela assentiu se conformando e fomos pro quarto.

Eu estava interessada em saber quem era o pequeno que estava correndo com um pipa na área externa, meu pai olhava pra ele com um pequeno sorriso e aquilo me confortou de certa forma, mas agora eu precisava dar um colinho pra minha amiga, porque se ela tá assim pelo que estou pensando então ela precisa de um ombro, nem que seja pra chorar.

......

— como assim, cara, já vai fazer um mês  ? — perguntei me sentando ao seu lado na minha cama e ela afirmou com a cabeça.

— não sei como contar pra ele, não falei com ele direito desde quando descobri — ela balançou a cabeça negando — como vou olhar pro meu pai e contar isso, como ? — sua voz era de indignação total.

— Morena, aconteceu. Tu tem dezoito anos, trabalha e já terminou os estudos, óbvio que não vai ser fácil, mas o Victor não vai correr da responsa e poxa...eu tô contigo — tentei usar minhas palavras pra confortar ela, mas só quem realmente sabe que tá sentindo é ela mesma.

— eu sei, amiga, eu só tô decepcionada comigo mesma, me cuidei tanto e mesmo assim não adiantou de nada — deu de ombros parecendo frustrada.

— ele nem desconfia ? — pergunto me referindo ao Victor.

— não e eu preciso contar o quanto antes, não quero tratar ele desse jeito por mais tempo, mas esconder isso estando próximo também me afeta — vejo em seus olhos o quão perdida está e ela suspira pesado.

Percebo que tem algo vibrando perto de nós duas e vejo que é meu celular.

Número desconhecido

Não esperei e logo peguei o celular esperando que fosse algo sobre ele, se ele estava bem, se precisava de alguma coisa, onde estava...

Como eu posso sem nenhum contato sentir tantas coisas por alguém como sinto por ele ? Achei que seria fogo de palha, sempre dei perdidos no meu pai pra sair e ficar com outros rapazes, mas desde o beijo sempre foi diferente.

O toque, a conexão, o sentimento, o arrepio...cinco dias que acabaram comigo de um jeito que eu não esperava, que me fizeram questionar muitas coisas sobre mim,

— não vai atender ? — Bárbara pergunta olhando pro celular assim como eu.

— tô com medo — confesso em voz baixa.

— amiga, e se for ele ? — confirmo e tomo coragem pra atender.

alô ? — ouço uma respiração aliviada do outro lado.

— só me fala que tá bem — reconheço a voz dele assim que entra pelo meu ouvido, meu coração chega a errar as batidas.

— me fala você, tá dado como morto na televisão — me levanto da cama com as mãos trêmulas.

— eu tô bem, eles me acertaram, mas não a ponto de matar. Tava com saudade de ouvir tua voz — fico muda por segundos.

Eu tinha um turbilhão de sentimentos agora, angústia, alívio, raiva, alegria, mas o que mais me torturava era a saudade que sentia dele e ouvir depois de um mês que ele sentia o mesmo me fazia perder até o ar.

— eu devia ir pessoalmente acabar o serviço deles e apertar essa bala onde quer que tenham atingido — ouço sua risada rouca, gostosa de ser ouvida e como se meu corpo tivesse sob o comando dele sinto meus pelos arrepiarem.

Entre A Paz E O Perigo [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora