Capítulo 52

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Mavi❤️‍🔥

Sinto a dor se alastrar pelo meu corpo conforme tento me mexer. Tento abrir meus olhos segundos depois e me deparo com as paredes na cor areia, um bege bem clarinho.

Vago meus olhos pelo quarto procurando por um rosto familiar, mas não vejo nenhum. Meu corpo arrepia em segundos, as lembranças invadindo minha mente e as lágrimas tomam conta dos meus olhos.

LÚCIA — grito por seu nome assim que seu corpo cai sobre o meu — Lúcia, não faz isso — seu corpo paralisado e seus olhos olhando nos meus.

— diga a ele, Vitória, por favor — eu nego diversas vezes não acreditando no que ela fez.

Ela salvou minha vida

— pai, pai, faz alguma coisa, pai, por favor — imploro pra ele, não seria assim, não seria o fim.

Eles precisavam de tempo, precisavam se conhecer, olhar um no olho do outro e recuperar todo o tempo que foi tirado deles.

Vicenzo está alheio ao seu redor e se aproxima desesperado, ele nem sabe que essa é sua mãe e eu não tenho coragem pra dizer.

O tenente foi sua ruína, ela foi clara quando disse que ele mataria ela, estava certa disso.

— Vicenzo — ele me olhou preocupado — salva ela, por favor — ele posicionou os dedos em seu pescoço e negou.

— não tem pulso, Maria, ela morreu — minhas lágrimas desciam ainda mais.

— sua mãe, Vicenzo, ela é sua mãe — seus olhos agora expressavam o quão perdido ele estava, ele desviou o olhar pro corpo dela, falecido em meus braços — ela salvou minha vida.

Todas as lembranças ficam pra trás quando ouço a porta de abrir, meus olhos encontram os olhos da minha mãe fixados em mim.

— já tava agoniada, meu amor, você só dormia — ela se aproxima e abre um sorriso curto sem mostrar os dentes.

Eu não precisava dizer nada, ela me entendeu e via nos meus olhos o quão perdida em pensamentos eu estava e possivelmente até minha dor ela via.

— eu sinto muito pela Lúcia, ele tá cuidando do funeral — eu concordei sentindo o nó em minha garganta.

Entendi muito bem que quando ela disse ele, estava se referindo ao Vicenzo. Nem imagino o que ele sente agora, se está triste por nunca ter conhecido a mãe e conhecê-la assim ou se não faz a menor diferença.
Infelizmente fiquei com a missão de contar o lado dela, lado esse que eu acredito que nem o pai dele saiba.

O olhar da minha mãe me observa, eu sinto. Ela sabe o quanto quero desabar, sabe que o choro tá entalado na minha garganta por vários motivos. A porta se abre novamente e olhamos na mesma direção, vendo o médico acompanhando de uma enfermeira.

Eles nos cumprimentam e a enfermeira se aproxima verificando o soro e alguns sinais vitais no meu corpo. Ele olha se aproxima da maca e começa com pequenas perguntas até chegar em uma que pra mim não faz o menor sentido.

— quando foi sua última menstruação ? — minhas sobrancelhas se franzem.

— acho que tem umas duas semanas, não sei bem.

— toma algum anticoncepcional ? — neguei de pronto e minha mãe me encarou agoniada.

— tem algo errado ? — ela pergunta mais aflita do que eu.

— bom, fizemos alguns exames, entre eles o de sangue, todos de rotina pra saber o estado dela — ele parecia rodear demais e isso tava me estressando tanto — seu Beta hCG deu positivo.

E depois disso tudo ao meu redor pareceu sumir, tudo em câmera lenta e minimamente parado. Minha respiração falhava e eu sentia meus pulmões sendo comprimidos por dentro das camadas da minha pele.

Não era o momento, não era a hora.

Nunca tocamos nesse assunto, ele insistia que eu tomasse remédio, mas sempre odiei a ideia de mais e mais hormônios no meu corpo. Camisinha usamos pouquíssimas vezes e quando ele conseguia, gozava fora.

Eu me vi perdida, não sabia o que fazer ou falar nem mesmo se queria falar algo.

— entendo que talvez seja um choque, mas precisa começar seu pré-natal com urgência, já se aproxima do terceiro mês.

Quase três meses.

Como não percebi algo diferente ? Roupas apertadas, desejos ou algo assim, enjoos ou tonturas.

— ela precisa de um tempo, o senhor pode nos deixar sozinhas ? — o barulho da porta foi o único que ouvi antes de fechar os olhos respirando fundo.

— mãe.

— não diz nada, só conte a verdade pra ele — ela não parecia decepcionada, mas estava em choque assim como eu.

— não posso — abri meus olhos e encarei os seus — ele não vai querer, ele nunca tocou no assunto, mas insistia pra que eu tomasse remédio, se ele quisesse insistiria tanto na ideia ?

— tá certa, mas ele tem responsabilidades, tu não fez o filho sozinha, Mavi.

A porta se abre com desespero e vejo passar por ela a Morena, minha melhor amiga que anda igual um patinho com a barriga enorme.

— se o meu filho nasce e tu não tá naquela sala de parto eu não te perdoaria nunca.

Dramática ela já era, mas depois da gravidez pirou em mil por cento.

— deixa de exagero, cara — ela veio até a cama e me abraçou quase esmagando, me soltou só depois de ouvir meu gemido de dor.

— fiquei tão preocupada, Mavi, como que tu faz um negócio desse com a gente, tá achando que é da liga da justiça ?

— eu só fiz, não adiantou de muita coisa, mas eu fiz.

— ele tá bolado contigo, muito mesmo — ela tava falando do Vicenzo e eu sabia disso — Victor disse que eles tão chegando aí pra te ver.

Foi coisa de alguns minutos pra porta se abrir e eles aparecerem. A expressão do Vicenzo me deixava tão preocupada que eu já tava ficando com medo do que vinha pela frente.

Todo mundo percebeu que precisávamos ficar sozinhos e eles foram saindo até ficarmos apenas nós dois.

Entre A Paz E O Perigo [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora