Capítulo 53

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Viturino 😈

Olhar pra ela nessa cama de hospital me deixa aflito, agoniado e desesperado. Por culpa minha, falta de cuidado e zelo que eu prometi ter com ela.

Todos saíram, Morena que foi a última a sair fechou a porta. Sozinhos. Quietos.
Não sei quanto tempo encarei seu rosto que não me encarava de volta, mas permanecemos em silêncio.

— desculpa — sem me olhar, mexendo os dedos por cima do lençol de hospital, ela disse — eu fiz da maneira errada, mas achei que fosse o certo.

— teimosa — não queria repreender ou chamar atenção, mas ela sabia que estava tão errada quanto eu — como que tu sai de casa sem avisar ninguém, pra encontrar alguém que tu nem conhece ?

— eu só queria ajudar.

— se tivesse ficado longe disso teria ajudado bastante.

— tá vendo porque eu não avisei — ouço ela falar mais alto que o tom normal, se ajeitando na cama. Ela faz uma careta de dor e eu tento me aproximar, mas ela estica um dos braços pedindo distância — não quero seu sermão, sua chamada de atenção por algo que eu fiz pensando em quem eu amo.

— mas não pensou em você, caralho.

— e daí ? Eu não pensei mesmo em mim, pensei em você, no meu pai, no Álvaro, em todos que corriam perigo por causa do Tenente.

— tu nem sabia com quem tava lidando — permaneci com meu tom de voz, e ela com a cara fechada — o cara era perigoso, Maria.

— todos são, você, meu pai, o tenente — séria e bolada, como se eu tivesse no erro, ela completa — se tivesse me incluído nos seus planos eu não teria me metido assim.

— tu que não inclui ninguém nessa loucura tua de ir atrás do cara, quer passar visão de quê ? Tá no erro, porra.

Sua expressão muda aos poucos de nervosa pra aflita, ela abaixa o rosto pro lençol que cobria seu quadril pra baixo.

— qual foi ? — pergunto preocupado, mas não me aproximo já que ela não permitiu.

— a enfermeira, Vicenzo, chama a enfermeira ou um médico, qualquer coisa — agora ela olha pra mim, nos meus olhos — eu tô sangrando, tá doendo.

Como se meu corpo tivesse recebido uma carga de adrenalina maior do que todas as vezes e mais forte do que qualquer droga, eu saí pela porta procurando alguém que pudesse ajudar. Apertar botão ou fazer qualquer coisa que não chamasse atenção não teria o mesmo efeito de ir atrás de alguém que pudesse resolver.

Eu sinto que tem algo errado, como se meu peito tivesse apertado e mais aflito do que antes. É como se eu tivesse conectado com algo que me avisasse que tá rolando um bagulho estranho.

— ela tá sangrando, Maria Victoria do quarto 115, ela tá sangrando — foram as únicas palavras que consegui pronunciar, eu sentia que ela tava mais preocupada que o normal.

Mas meu corpo estremeceu mesmo quando a enfermeira alertou o médico do corredor junto com outra enfermeira, um pouco mais baixa e avançada de idade que ela, com um grito que fez meu corpo gelar e entrar em um transe absurdo.

risco de aborto no quarto 115.

Foi só o que eu consegui ouvir antes de ver eles passando e sentir o corpo deles trombando contra o meu.

Olho pra direção do quarto dela, vejo a mãe dela perto da porta, ela me olha preocupada e eu só consigo pensar que ela podia tá perdendo um filho meu.

— olha pra mim, caralho — viro meu rosto pro do AK, ele me olha perdido também — ela vai ficar bem, o bebê também.

O bebê.

Uma reação automática do meu corpo me conduz pra fora daquele corredor, passo por várias pessoas mas não vejo o rosto de nenhuma delas, não sei se é homem ou mulher, não consigo prestar atenção. A única coisa que procuro agora é a saída.

Encontro a recepção e finalmente a porta, como num passe de mágica tudo ao redor tá normal de novo, minha respiração pesada sai como um alívio.

Apoio minhas mãos na barra de ferro da rampa para deficientes e me concentro em regular minha respiração, aperto o corrimão tão forte que meus dedos doem, sinto meu sangue latejar e as mãos quase ficarem roxas.

— eu sei que tá com medo.

— não é medo, eu só não quero um filho e não é agora, eu nunca vou querer.

— acho que ela vai ficar decepcionada quando souber, mas eu e a Marcela sempre vamos estar com eles.

— eu não disse que não ia assumir.

— mas não disse que vai, e se for pra tratar meu neto como um nada prefiro que fique longe, se for por dinheiro não precisa e tu sabe disso.

— Augusto, na moral...

— GS, pra tu é GS...e te digo mais, se desde já tu for encher a mente dela já mete o pé.

— eu não faria mal algum pra ela.

— tu já fez, entrou na vida dela e carregou ela pra um monte de confusão. Ela voltou pra cá porque pensou que tu tava morto, eu virei um monstro na minha casa, briguei com ela, bati de frente e tudo porquê tu entrou na caminho da minha filha.

— não me arrependo de nada.

— se não planejava uma família com ela então de alguma coisa tu já se arrependeu. Eu vou cruzar essa porta e quando ela perguntar por você eu vou dizer que foi embora — velho filho da puta.

— não vai dizer isso, porque eu não vou embora.

— tá certo, mas se eu ver a minha filha derramar uma lágrima por tua causa eu faço questão de sumir com ela daqui e eu nem tô falando só do hospital.

— não me ameaça como se eu fosse a porra de um moleque inconsequente — diminui a distância entre nós dois quase colando nossos rostos — eu fiz o filho, eu assumo e eu crio também.

Entre A Paz E O Perigo [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora