Capítulo 08

2.1K 220 10
                                    


Gracie

Três meses trabalhando como secretária de Joshua Price.

E nesses três meses nunca o tinha visto tão... leve. Como se tivesse tirado um peso dos ombros.

Meu chefe estava muito mais sorridente e brincalhão.

Até mesmo a forma que olhava para minha melhor amiga havia mudado. Talvez conformado em saber que ela era de Christopher, assim como ele era dela.

Acabei me envolvendo em um assunto que não era da minha conta ao dizer todas aquelas coisas a ele.

Quem era eu para falar daquele jeito com ele? Nem amigos nós éramos.

Fui intrometida, invasiva, e faltei com respeito com meu chefe. Não consigo controlar minha língua quando to de tpm. Ele poderia muito bem ter me mandado embora, mas não o fez.

Não o fez porque sou amiga de Linda?

Melhor amiga da mulher por quem é apaixonado?

Ou, porque recebeu minhas palavras entendendo a merda que tava acontecendo?

Bem, ele não me demitiu, continua me tratando da mesma forma, o que é bom, tem dias que estou cansada de me preocupar em não magoar os sentimentos dos outros. Por mais que seja assim na maior parte do tempo.

Me preocupar com o outro faz parte de quem sou. Tem hora que isso é uma merda. Queria ter alguém, além do meu pai, para se preocupar comigo assim.

Linda se preocupa, porém ultimamente sua vida tem passado por tantas coisas que não ouso reclamar que esteja um pouco ausente cuidando de si mesma.

É a vida.

E não que Cameron não o fizesse, mas é... diferente. A preocupação dele está a cerca do meu dia a dia, se estou disponível pra ele.

Também tenho a péssima mania de estar sempre colocando os outros em primeiro lugar.

Talvez se eu parasse de fazer isso um pouco e colocasse para fora o que penso, evitaria que fosse eu, como sempre, a pessoa magoada.

Como hoje, que depois de vários meses sem visitar meus pais, chego em casa e descubro que minha irmã mais nova teria seus estudos bancados por eles.

Meus pais que trabalham a vida toda feito loucos, fizeram um empréstimo estudantil para bancar Sabina.

E levando em consideração que ela mal abre um livro pra ler, será dinheiro jogado no lixo.

Por que ela não pode se esforçar e conseguir uma bolsa como fiz?

Como ela pôde aceitar que nossos pais se sacrificassem desse jeito?

Vão levar o resto da vida para pagar por esse empréstimo e Sabina sequer trabalha para ajudar com qualquer coisa.

Mas não adianta discutir, mamãe vive passando a mão na cabeça dela por ser mais nova. Escutei da minha mãe durante anos, que eu já era responsável, madura, e por isso não precisavam ter tanta preocupação comigo.

Sabina era a filha amada, mimada, que recebia toda a atenção, todas as coisas que queria. Cresci vendo-a ganhar as melhores roupas e os melhores brinquedos.

Não sentia inveja da minha irmã, não no quesito de coisas materiais, sabia que na maioria das vezes ela usava de manipulação para conseguir o que queria dos nossos pais, mas não era justo minha mãe sempre nos tratar de forma tão desigual.

Meu pai não. Evan Miller, era quem me apoiava em todos os momentos, quem me abraçava apertado quando chegava em casa e quem me oferecia o sorriso mais amoroso do mundo.

Meu pai é meu maior exemplo. Tenho orgulho de ser filha dele.

Minha mãe, bem, vive mais preocupada com a cor do esmalte que vai usar na semana seguinte do que com nossa relação em família, nem sei como ela e meu pai ainda estão casados.

No dia seguinte à visita aos meus pais, achei que teria um derrame ou um infarto ao abrir minha fatura virtual do cartão de crédito.

Cartão este, que procurei e não encontrei na minha bolsa.

A soma extrapolava o que sequer já pensei em gastar em um ano usando-o. Compras e mais compras. Lojas de roupas, calçados e até mesmo de acessórios, tudo do shopping.

Sabina.

Verifiquei a porta do meu chefe, para só então pegar o celular e ligar.

- Gra...

- O que você fez, Sabina? - Rosnei, mal esperando-a atender.

- Do que está falando?

Cínica.

- Não testa minha paciência. Estou falando do meu cartão de crédito.

- Ah, isso? - Riu. - Precisava de algumas coisinhas para começar na universidade, não podia ir com minhas roupas velhas, Gracie.

- Você gastou vinte mil, Sabina! Como no inferno isso são algumas coisinhas?!

Minhas mãos começaram a tremer ligeiramente.

- Tá ganhando super bem nesse trabalho. O que custa me comprar algumas coisas?

- Eu ajudo em casa, sabe muito bem que estou juntando para comprar uma casa pros nossos pais. E você? O que faz?

- Ajuda? Com a merreca que dá por mês? Acho que andar com sua amiga riquinha tá mexendo com sua cabeça e te deixando egoísta.

- Não fale da minha amiga! - Esbravejei. - Você vai se virar e pagar minha fatura, Sabina, estou falando muito.... - Ela... desligou na minha cara.

Como ela pôde fazer isso?

Sabia muito bem que papai e mamãe não teriam condições de pagar meu cartão. O salário do pequeno salão da mamãe e o de porteiro do papai jamais sobraria para pagar sequer uma parcela do que havia comprado.

Fechei minhas mãos em punho de raiva.

Ela é minha irmã, como podo fazer essa merda sem se preocupar se eu teria realmente condições de pagar uma fatura tão alta?

Sabina sempre foi irresponsável, mas dessa vez ela passou dos limites.

E o pior de tudo era que eu nem poderia contar isso em casa, mamãe apenas me diria para ir pagando aos poucos que depois me devolveria o valor, enquanto meu pai, provavelmente sofreria sabendo que não poderia me ajudar. Ele já tem hipertensão, não podia levar esse problema pra ele.

Preciso tomar um ar, um café, talvez um calmante, ou será a minha pressão que normalmente é baixa, que irá subir em níveis que desconheço.

Respirei fundo deixando o ar entrar em meus pulmões.

Prestes a deixar minha mesa, levantei a cabeça vendo meu chefe me encarando com um semblante fechado.

💘

Minha RuínaOnde histórias criam vida. Descubra agora