just friends... right? - jenlisa

57 - The lesson

Jennie's Pov...
[29/10/2021]

Acho que estava disfarçando muito, muito bem. Desse jeito vou acabar fazendo curso de teatro. Atuar por três meses seguidos sem que ninguém desconfiasse do que eu sabia não era para todo mundo. Fazia bastante tempo desde que me toquei sobre a história. Lalisa não desconfiava, achava que eu não me lembrava, que eu estava bêbada demais para me lembrar dessa história "insignificante", era o que ela diria se eu contasse que sabia.

Ah, isso é insignificante. Esqueça isso logo. Tinha certeza que ela diria algo desse tipo. Ou Ah, não, é só uma história que inventei pra você dormir. Já nem me surpreendia; ela não passava de uma pessoa totalmente previsível e fácil de saber o que esperar. Pelo menos quando queria. Ela sabia disfarçar tão bem quanto eu. Talvez por isso atuava tão bem.

Já estávamos no fim de outubro. As folhas do outono espalhadas por todo o chão. Era tão bonito. Estava uns 20°, mas não estava calor. Eu estava caminhando, pensando tão alto que as pessoas me olhavam estranhando. Parecia estar falando sozinha, mas não estava, estava apenas... É, eu estava falando sozinha. Entrei em uma loja de conveniência e comecei a andar por entre as prateleiras, procurando algo. Não sabia o que queria, mas estava ali para comprar algo.

Passei reto quando vi as garrafas de Soju. Não queria virar uma alcoólatra. Talvez comprar alguns snacks pra passar o dia no quarto. Depois de mais ou menos 15 minutos dentro da pequena loja, eu saí... sem comprar absolutamente nada. Continuei andando, agora rumo ao campus, enquanto cantarolava My House, do grupo 2PM. O clima estava tão bom que não conseguia tirar o sorriso do rosto. Talvez meu bom humor seja pelo fato de eu estar completamente apaixonada por um certo alguém e esse certo alguém também gostar de mim.

Quando cheguei ao campus, meu sorriso desapareceu em questão de segundos. A sensação de passar por um lugar cheio de gente desconhecida e todas elas estarem olhando para você era uma das piores do mundo. Mas a questão era exatamente essa: por que estavam olhando para mim? O que aconteceu dessa vez? Que tipo de fofoca estavam espalhando? Foi quando me deparei com aquele mesmo grupinho de antes. Tentei não ligar, mas eles vieram ao meu encontro e agora estavam de frente para mim, me encarando como se fossem bichos selvagens.

— Você não cansa, não é? - Parecia que quem não cansava era ela.

— O que vocês querem dessa vez? - Ela soltou uma risada totalmente amarga e cruzou os braços. Foi quando percebi sua roupa – roupa digna de patricinha que sempre tem tudo o que quer –: um cropped tão justo que marcava seu sutiã, saia curta sem short de proteção, botas pretas e pontudas – talvez para machucar quando chutasse alguém.

— Já avisei uma vez. Não se lembra?

— Como poderia esquecer?

— Então por que você...

— Porque não. - Eu estava doida para apanhar, não é?

— Você não passa de uma vadiazinha. - Reprimi meus lábios para segurar a risada. Olha quem fala. Quer tanto dar pra Lisa que tá brigando comigo. — Por que acha que a Lisa tá comendo você? Porque ela gosta de você? Você é só um brinquedo, que nem todas com quem ela já transou.

— E você seria o quê?

— Ah, meu bem. Eu sou irresistível. - Tentei não rir, mas estava muito difícil. — Ria o quanto quiser. Estou falando mais do que sério. - A julguei tanto na minha cabeça que acho que ficou muito transparente. — Você não tem nada além de um corpo bom pra foder. - De alguma maneira nada daquilo tava me afetando. Por quê?

— Ah, oi, Jennie. - A voz nada irreconhecível de Lisa surgiu atrás de mim. Seu braço logo envolveu o meu pescoço; seu cheiro irresistível e o calor de seu corpo me fazendo quase perder o equilíbrio. — Meninas. - Cumprimentou. — Hang-gyu. - A menina se ajeitou inteira; a postura, a feição, o cabelo.

— Lisa. - Abriu um largo sorriso. Subiu a saia tentando fazer com que a gente não percebesse, mas estava óbvio. — Que bom ver você.

— Oi, Yeonjin. Acho que não posso dizer o mesmo. A conversa parecia interessante. Por acaso estou atrapalhando? - Yeonjin fez que não. Foi quando a mão de Lisa parou na minha cintura. — Continuem. Não liguem pra mim. - O tom de Lisa... era suspeito. Ela estava fazendo de propósito.

— Ah. - Yeonjin pareceu levemente – não, muito; ela pareceu muito – nervosa. — Então... - Ela olhou para as amigas, que haviam a abandonado e desviado o olhar, sem saber como ajudar. — Vai ter essa festa que eu tava falando. Queria muito que você fosse.

— Desculpa interromper, mas quando é?

— Hm, é no sábado.

— Desculpa. - Lisa se precipitou. — Ela tem compromisso. - A garota franziu a testa, parecia ter pena

— Ah, que pena, amiga. E você, Lisa? Tá disponível? - Botou a mexa para trás da orelha.

— Não. - Seu sorriso foi desaparecendo aos poucos, ao passo que o de Lisa foi aumentando gradativamente. — Tenho um encontro. - Ela olhou pra mim. Encontro? — Talvez não exatamente um encontro. Se é que você me entende. - Falou olhando para a menina, um sorriso nada safado. — Não queria entrar em detalhes, mas acho que fazer amor não é bem um encontro. - Fazer amor? Ela realmente disse fazer amor? Nunca fizemos amor.

— Fazer amor?

— Ah, sabe como é, né? Debaixo das cobertas... - Antes de ela terminar a frase ela olhou para o seu relógio de pulso. — Puts. Precisamos ir. - Ela se virou, a mão entrelaçada na minha. Mas em vez de andarmos rumo à saída, ela parou. — Ah, Hang-gyu. - Chamou. Ele deu um passo pra frente depois de perguntar "o quê?". Lisa estava de punho cerrado. Ah, não. Foi quando o punho dela foi de encontro com o maxilar dele. Acho que ela tinha – no mínimo – quebrado o nariz dele. Pegou minha mão e saiu correndo, me obrigando a segui-la no mesmo ritmo.

— Lalisa. O que que foi isso? - Perguntei, entre risadas.

— Eu diria que foi uma lição. - Continuamos correndo até estarmos longe do campus. Acho que nunca iria me esquecer desse dia. Ela fizera aquilo por mim. Talvez ela realmente estivesse dizendo a verdade quando confessou que gostava de mim. Não teria outro motivo para ela ter feito aquilo. Teria?