Almas Gêmeos - Taekook

Capítulo 14 - ANPANMAN

Tae-hyung

Cinquenta bolinhos de chuva, dezessete mudanças de playlist, onze partidas de Go Stop e talvez oito idas ao banheiro depois (os bolinhos eram doces, então eu bebi muita água, muita água MESMO), eu vou pro meu quarto tentar dormir completamente a contragosto, apesar da hora absurdamente tardia e do meu cansaço crônico.

Eu estava dormindo em pé, mas me recusei a ir embora enquanto pude. Eu amava ficar com eles.

Eu tive uma das minhas melhores noites da minha vida, o que era surpreendente, porque eu sempre considerava qualquer noite com os meninos a melhor. Conforme íamos ficando mais juntos, e fazíamos mais coisas, eu sempre mudava o ranking da melhor noite pra mais recente. Se a minha melhor noite no ranking era hoje nesse momento, com certeza eu mudaria pra de amanhã na madrugada seguinte. Eu nunca deixava de me divertir com eles.

Como o monitor do corredor nunca multou o quarto onde ficávamos, eu nunca vou entender. Os meninos conversavam e riam aos berros, e colocavam música alta, e ficavam ligando e desligando a luz toda hora pra jogar videogame ("pra ver melhor", como diria Seok-jin). O quarto ficava um caos completo, e era como se eu entrasse em outra dimensão quando estava lá. Nada mais importava da porta da fora.

Quando o sono finalmente me pega de jeito, Ji-min me obriga a ir embora de lá. Não que ele quisesse que eu fosse, mas a verdade é que se já era difícil arrumar espaço de pé ou sentado, deitado certamente seria impossível. O quarto era muito pequeno pra tanta gente, então na hora de dormir todo mundo realmente voltava pros seus quartos.

A diferença era que os meninos iam sorrindo, e eu, desapontado, porque eu não gostava do meu quarto. Mas eu tentava não me abalar muito, afinal meus dias eram longos, e as noites eram curtas. Eu não ficaria com pensamentos ruins me assombrando só porque tinha que encarar um desafio a noite. Era pouco tempo, e além disso, eu com certeza desmaiaria assim que colocasse a cabeça no travesseiro, porque eu estava sempre cansado.

Sempre cansado de fazer tanta coisa no dia. Coisas que eu gostava, o que era inédito. Eu amava minha nova rotina.

Eu viro o corredor completamente em silêncio, coçando meus olhos e segurando um bocejo. Apesar da hora, os corredores, como sempre, não estão vazios, e passo acenando pra um monte de colegas. A maioria eu conheço, são quase todos meus vizinhos, mas há alguns desconhecidos. O dormitório é enorme, e apesar de ter várias regras, como a proibição de meninas nos andares dos quartos masculinos e vice-versa, e as regras das geladeiras comuns (dica valiosa do Ji-min: nunca coloque a data real do vencimento. Se estiver na validade, pode ter certeza que alguém vai pegar e comer, independente de quem seja. Escreva sempre na etiqueta a data errada. Sempre), ele é bem liberal quanto ao toque de recolher e trânsito entre quartos. As pessoas de qualquer andar podiam visitar um amigo a hora que fosse, desde que ficassem dentro das dependências apropriadas. Quanto às áreas comuns, as luzes nunca apagavam.

Eu passo por um grupo grande de desconhecidos, conversando na porta de alguns quartos antes do meu, e depois de cumprimenta-los em silêncio com um sorriso, eu continuo andando enquanto abaixo a cabeça e procuro o meu cartão nos bolsos.

E então eu sou virado contra uma parede com tudo.

Eu levo um susto tão grande que nem sei se cheguei a sentir o impacto. Eu só presto atenção nos suspiros surpresos à minha volta quando o barulho das minhas costas batendo contra o gesso ecoa forte no corredor. Eu não controlo o efeito chicote no meu pescoço, então bato a cabeça também, e aí sim eu sinto algo.

Sinto gosto de sangue.

— Eu não acredito que o seu dormitório é aqui também, seu babaca — eu escuto a voz de quem me segura, mas não consigo vê-lo, porque fechei os olhos enquanto me sinto atordoado. Ele me segura pela gola da camiseta, e fala bem pertinho do meu rosto, como uma ameaça — Eu te procurei pelo campus todo, e acabei te achando agora sem querer. Que coisa, não é ?