Capítulo 32 - TELEPATHY

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DEZEMBRO

Tae-hyung

Eu olhava incansavelmente pro relógio como se isso fosse fazer o tempo passar mais rápido.

Eu não queria, claro, mas eu não conseguia parar de olhar. Todos os dias, o relógio parecia correr cada vez mais rápido, principalmente agora no final do semestre, como se o ano estivesse com pressa pra acabar. Hoje, porém, chego a me perguntar se o aparelho estava com as pilhas funcionando, porque um segundo parecia durar horas.

Quanto tempo exatamente demora um encontro ?

— TaeTae ? — a voz de Nam-joon me tira do meu surto, e olho pra ele como se ele tivesse berrado meu nome, no susto. Ele sorri sem mostrar os dentes, mostrando sua "cara de pai", como Ji-min costumava dizer — Você não tá estudando, tá ?

— Estou tentando — respondo fechando meu livro, respirando fundo — Mas por algum motivo, não consigo me concentrar. Acho melhor eu desistir de estudar agora.

— Você parece morto, talvez seja melhor dar um tempo — ele responde com dando de ombros, e então aponta pra própria prateleira de livros — Você quer alguma coisa pra se distrair ?

— Sim, por favor, hyung — falo sorrindo de lado, e Nam-joon levanta para pegar um livro novo pra mim.

Vir pra perto do Nam-joon quando eu me sentia inquieto virou um hábito, e apesar de eu odiar me sentir assim, eu gostava de cada momento que eu tinha com ele. Nam-joon era uma pessoa que entendia o que você tinha sem que você precisasse dizer uma palavra a ele. Por ler tantos livros, acho que ele passou a ler as pessoas nas entrelinhas tão bem a ponto de apenas passar os olhos sobre aquilo e entender. Eu sentia que ele sabia exatamente o que eu sentia, mesmo sem realmente saber.

Eu gostaria de contar tudo a ele.

Três semanas tinham se passado desde que eu descobri que tinha sentimentos por Jung-kook, e desde aquele dia, eu senti que minha vida toda tinha virado completamente de cabeça para baixo. Pela primeira vez na vida, eu não tinha explicação pra algo. Eu não fazia ideia alguma do porquê aquilo estava acontecendo comigo, mas estava. Eu estava apaixonado, apaixonado por um amigo, e isso me assustava.

Eu desejava poder lidar com isso de forma madura, mas eu era novo nisso tudo. Minha reação era a mesma de um garotinho de quinze anos assustado com sua primeira paixão: eu gelava de vergonha quando o via, e saia correndo de perto dele na hora. E ficava repetindo pra mim mesmo que uma hora isso iria parar, porque a situação era deplorável. Eu não podia gostar de quem gostava do meu melhor amigo. Eu ficava repetindo que era apenas uma espécie de fantasia minha, talvez por carência, e que alguma hora, iria passar.

Eu estava mentindo pra mim mesmo, e isso não era algo pra se orgulhar.

Então eu comecei a tentar ocupar mais minha cabeça, e

como em qualquer outra situação da minha vida, eu tentei fugir da realidade com livros, e isso me aproximou mais ainda de Nam-joon, o que eu achei que era impossível.

Sempre conversamos sobre tudo, mas esse hábito que agora tínhamos, de simplesmente sentarmos juntos em silêncio, cada um lendo algo, pareciam horas de conversa. Passamos a estudar juntos também, e mesmo eu estudando algo completamente oposto a ele, já que ele estudava literatura e eu medicina, debatíamos tópicos como se soubéssemos a matéria do outro.

Nam-joon passou também a emprestar seus livros, da sua biblioteca pessoal, pra mim, e apesar de eu ter poucos, de ter conseguido trazer poucos dos muitos que eu tinha no Japão, emprestei os meus livros à ele. Ele disse que eu tinha um ótimo gosto pra literatura.

Almas Gêmeos - TaekookOnde histórias criam vida. Descubra agora