Capítulo 19 - DAYDREAM

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Jung-kook

Acho que nem um ritual de necromancia dos mais poderosos é capaz de acordar esses mortos aqui. Nem Vela da Chama Negra, nem Caldeirão Mágico.

Pra consertar isso aqui, acho que na real, nem um milagre.

— Hyung, você vai afundar sua cara no prato assim — falo pra Nam, que mexia sua sopa de um modo tão automático que ele parecia estar querendo bater um bolo.

— Hã ? — ele fala com a cara toda amassada pra mim, e tiro o prato de perto dele. Ele não vai me ouvir nem se eu gritar na cara dele, pelo visto. Ele me olha cheio de sono — O que foi, JK ?

— Ah, porque a gente tinha que ter bebido tanto ontem — Jin diz com a cabeça apoiada (afundada, quase) nas próprias mãos, com os olhos fechados. Ele resmunga de novo, e bate a testa na mesa, falando com a voz abafada. Ele parecia um gato miando de madrugada — Eu odeio vocês, e odeio frango. Aaaaaaaaaah !

— Sofra em silêncio, Seok-jin — Yoon diz massageando a própria testa. Ele estende uma mão pro Hobi, ainda com os olhos escondidos sob o boné — Hoba, me dá um gole do seu café, por favor, minha cabeça tá explodindo.

— Se tivesse sobrado eu daria, eu juro — Hobi responde virando sua caneca ao contrário, e nenhuma gota cai. Eu adorava como Hobi era caricato, às vezes ele parecia até um desenho. Ele tava com um olho meio aberto e o outro fechado, e falava rouco, trocando as palavras. Ele não parecia de ressaca, parecia bêbado ainda, mas de sono. Ele boceja alto — Eu posso pegar mais.

— Se você tomar mais café, vai falar igual o Ligeirinho de Deu a Louca na Chapeuzinho — falo pegando Hobi pelo braço, e faço ele voltar a sentar. Eu me levanto, e sinto o mundo revirar. Quero me enfiar num buraco o dia todo, mas me obrigo a ficar de pé — Eu pego pra você, hyung.

Talvez virar a noite no telhado no meio da semana não tenha sido a ideia mais inteligente que o Ji-min já teve, mas não era como se fosse a primeira vez que fazíamos uma burrada dessas. Eu já conhecia eles o bastante pra saber que eles tavam sofrendo mais de sono do que de ressaca, então eu não me culpo por ter topado a ideia do Ji-min de primeira, muito menos nem por ter convencido todos eles. Eles sempre viravam mesmo, então não fazia diferença. Não foi culpa minha.

"Tae-hyung precisa ir lá em cima". Ji-min disse como se fosse uma obrigação, uma regra. Eu não entendi direito o porquê, mas eu concordei, óbvio. Tae-hyung merecia conhecer o lugar que era um dos meus favoritos na cidade toda, de tão bonito, e merecia fazer parte de mais uma tradição do grupo, por mais besta que fosse. Subir lá e ficar com meus hyungs era uma das minhas coisas favoritas, e eu sabia que ele ia gostar.

Mas eu confesso que fui egoista, porque quando o Ji-min disse que queria ir pro telhado, não pensei no Tae-hyung, e sim em mim.

Aquele era um lugar especial pra mim.

O telhado era onde eu entendi que gostava do Ji-min. Quando numa noite como a de ontem, de risadas e jogos, ele e eu fomos os únicos a permanecer acordados depois que todo mundo caiu no sono, e ficamos vendo o céu encostados na varanda por muito tempo. Naquela noite, ele pegou na minha mão, me cutucando pra me mostrar uma estrela, e eu senti todo o meu mundo dar um 360 e capotar, e a realidade do que eu sentia por ele me atingiu como um soco na cara. Eu notei que gostava dele numa espécie de surto.

Eu iria pro telhado sempre que tivesse oportunidade, ainda mais com o Ji-min junto.

— Sente, Jung-kook, antes que caia e não levante mais — uma voz sóbria fala, e sei que é Tae-hyung, então saio da minha viagem. Ele coloca uma das mãos nos meus ombros, e me faz sentar de volta na mesa, aparecendo no meu campo de visão com uma garrafa térmica. Ele coloca ela na mesa, e olha sério pra todos nós enquanto serve uma porção pra Ji-min, que dormia deitado babando na mesa, do meu lado. Ele passa a garrafa pra Yoon-gi — Bebam isso, hyungs, vai ajudar.

Almas Gêmeos - TaekookOnde histórias criam vida. Descubra agora