Capítulo 62 - INNER CHILD

57 7 7
                                    

Tae-hyung

— Acha que ele está lá ? — pergunto abraçando a mim mesmo, sentindo mais frio do que o normal.

— Eu não sei — Tae-oh explica chegando mais perto de mim, ficando ligeiramente na minha frente. É como se ele quisesse me proteger, mesmo que não tivesse nada ali que pudesse me machucar. Nada mesmo. Ele olha pra mim — Ele não costumava ficar em casa de dia. Voltava só a noite, totalmente fora de si. Eu não venho aqui há um bom tempo, TaeTae, não sei de quase nada.

— Mas acha que ele pode nos ver se estiver lá dentro ? — pergunto com receio.

— Não com as cortinas fechadas assim — é tudo que o meu irmão responde, voltando a olhar pra casa maltratada pelo tempo com muita preocupação.

Não costumava ser assim. Não, um dia, ela foi uma bela casa. Uma casa bonita, bem cuidada, e acima de tudo, sempre cheia. Cheia de pessoas. Uma família relativamente grande morou aqui uma vez. Uma família que aproveitava o pequeno jardim da frente de casa pra jogar jogos de tabuleiro no verão, uma família cujos filhos estavam sempre escalando aquele telhado baixo. Uma família que parecia bem até uma hora não estar mais e tudo desaparecer e apenas isso sobrar.

Uma casa desgastada, com a pintura manchada e o jardim descuidado. Com apenas uma pessoa solitária morando nela.

Parecia uma história, mas não era. Pelo menos, não uma história fictícia.

— Parece apenas uma casa vazia — digo observando cada detalhe daquele lugar que um dia chamei de lar — Uma casa abandonada, na verdade.

— Eu disse que não era uma boa ideia virmos aqui — Tae-oh diz sem olhar pra mim.

— Está tudo bem, isso não me afeta — digo baixo, fazendo meu irmão olhar pra mim. Dou de ombros e sorrio sem energia — É só uma casa.

É só uma casa. Só isso.

Nada mais que uma memória, uma memória que eu só parecia ter verdadeiramente agora, graças ao meu irmão.

Tae-oh me contou tudo ontem a noite, tudo. Ele não queria, ele me disse que era melhor ele me contar outro dia, mas eu implorei pra que ele acabasse logo com tudo aquilo. Eu sabia que ele estava exausto, eu também estava, mas eu preferia saber tudo de uma vez do que ficar postergando algo que machucava tanto nós dois.

Tae-oh resistiu, mas por fim, cedeu. Acho que no fim das contas, ele pensava como eu.

Ele me contou tudo. Sobre meu pai, e sobre ele, e sobre aquele dia. Ele me contou tudo pra mim, Ji-min e Jung-kook, sem deixar nenhum detalhe de fora, e quanto mais eu ouvia, quanto mais as coisas começavam a fazer sentido na minha cabeça, com as peças se juntando, parecia que menos eu sabia. Não, na realidade, eu realmente não sabia de nada, porque Tae-oh sempre escondeu tudo de ruim de mim. Se eu tinha qualquer lembrança feliz, qualquer coisa boa na infância, era porque Tae-oh se esforçou pra eu pensar isso.

Como a lembrança dessa casa. Talvez não seja boa como eu me lembro, e por isso não importa como me sinto sobre ela agora. É apenas passado.

Um passado que eu não pretendia esquecer, não mais. Eu me lembraria de tudo, por pior que fosse. Eu apenas deixaria essas memórias guardadas longe da minha vista, porque eu não merecia viver com essas lembranças me assombrando.

Nem eu, nem meu irmão.

— Quando exatamente saiu daqui, Tae ? — pergunto olhando pra Tae-oh — Você disse que era adolescente, mas que idade tinha exatamente ?

Almas Gêmeos - TaekookOnde histórias criam vida. Descubra agora