Capítulo 52 - BLUE & GREY

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Jung-kook

Três dias passam num piscar de olhos, e acredite ou não, eu não sei se foi porque meus irmãos realmente me distraiam ou porque eu andava muito mais azedo que o normal e passava tanto tempo olhando pro nada que os dias passavam como se tivessem speedrace.

Eu realmente não sabia, principalmente agora, depois de tanto makgeolli e tanto açucar. Minha cabeça tava em outro universo.

A risada da minha vó me tira do meu transe — Eu adoro essa parte ! O ator realmente gravou com uma aranha de verdade no rosto ? — ela pergunta toda curiosa pra mim, apontando pra TV.

Faço que sim, falando automaticamente, como um robô — Mas foi só uma vez. Ele disse que só aceitava fazer um take, e se não ficasse bom, eles que arrumassem outro jeito de gravar — falo olhando os Bandidos Molhados serem linchados pelo Kevin pela quinquagésima vez na vida.

Nunca perdia a graça, afinal eu assistia esse filme todo natal e sempre ria, mas dessa vez, não consigo rir com a cena. Nem prestar atenção no filme eu consigo. Meus pais estavam na cozinha, fazendo o jantar, meus irmãos tavam lá fora, correndo com o Bam, e eu e minha avó estávamos na sala, cumprindo nossa tradição de natal, que era ver Esqueceram de Mim e nos entupir de bebida e doce. Mas pra ser sincero, tudo que eu fazia era comer com desânimo, e beber mais do que eu devia. Eu acho que olhei pra televisão umas duas vezes desde que o filme começou.

Eu não tava prestando atenção num filme. Eu definitivamente tava pirando.

— Ok, já chega — minha vó diz pausando o filme, e olha pra mim furiosa. Ela arranca o copo de bebida da minha mão, me dando o maior susto — Você não terminou seu doce, bebeu deus lá sabe quantos copos desse troço e não está repetindo as falas com o filme. Isso chegou a um nível preocupante — ela me dá o maior tapão — Você precisa reagir !

— Vovó ! — falo chocado, colocando minha mão sobre o braço em que ela tinha batido — Desde quando você bate em mim ? Isso doeu !

— Desde quando você se tornou um fraco ! Onde já se viu um boxeador do seu tamanho, com tatuagens e pirces, reclamar porque uma velha te bateu ? Para de frescura, garoto — ela continua me dando vários tapas.

— São "piercings", não "pirces" — falo rindo, me defendendo dela, colocando uma almofada no meio de nós dois. Ela me bate mais ainda, e gargalho mais alto ainda — Vovó !

— Seu mimado ! — ela fala arrancando a almofada da minha mão, e dá com ela na minha cabeça. Eu rio mais ainda, e ela taca a almofada no chão, rindo também. Ela suspira, e então, como se não tivesse me dado uma surra há meio minuto, coloca uma das mãos no meu rosto — Querido, gosto de te ver assim, rindo, mesmo apanhando, — ela faz piada e eu sorrio mais. Ela faz carinho na minha bochecha com o polegar — e não como você está agora. Tão pra baixo, tão distante, tão... triste. Eu odeio te ver assim. Você precisa fazer alguma coisa. Liga pro seu homem !

Minha vó, obviamente, sabia de tudo. Depois de chorar até as minhas lágrimas secarem naquele dia, eu contei tudo pra ela, antes do resto da minha família chegar na fazenda. Nesses últimos dias, ela era a única que parecia me entender, apesar dos meus pais claramente terem notado que tinha alguma coisa errada comigo e meus irmãos dizerem que eu tava chato.

A declaração dos meus dongsaengs me fez rir, porque eu realmente tava chato. Eu sempre adorei a sinceridade brutal das crianças.

Me lembrava do Tae-hyung.

Tae-hyung. Pensar nele me partia o coração.

Faço que não, segurando a mão da minha vó — Isso só ia piorar as coisas. Posso estar mal, mas eu tenho certeza que ele tá pior. Me ouvir é a última coisa que ele precisa agora.

Almas Gêmeos - TaekookOnde histórias criam vida. Descubra agora