Os dois reis sob a Montanha

Extra: Elladan e seu destino

Lothlórien, apesar de parecer eternamente imersa numa primavera perene, ganhava um esplendor ainda maior quando a verdadeira estação das flores se manifestava em toda a Terra Média. As fragrâncias das flores se intensificavam, nuvens de pólen dourado tornavam o ar quase místico, e um caleidoscópio de cores dominava o panorama.

Galadriel, a Senhora daquele domínio encantado, caminhava serenamente por uma trilha, deleitando-se naquele espetáculo de sensações. Isso acalmava seu coração e espírito, amenizando as preocupações que a afligiam acerca do futuro incerto da Terra Média. O calor do ambiente afugentava os calafrios de antecipação que a inquietavam.

Sentindo uma nova presença em suas terras, um sorriso sutil brotou nos lábios de Galadriel. Sem se virar, ela proferiu:

— Saudações, Elladan, filho de Elrond e Celebrían. Seja bem-vindo às terras de Lothlórien. — Sua voz era solene, quase etérea.

— Bom dia, vovó. — Respondeu o jovem elfo, de forma muito menos formal, arrancando um sorriso mais amplo da poderosa matriarca elfa.

Galadriel finalmente se vira e fica surpresa ao perceber que seu neto não estava sozinho; duas crianças o acompanhavam. Rapidamente, ela identificou um como filho de Bilbo e Thorin, apesar de nunca tê-los visto pessoalmente. O jovem príncipe, Frerin II, observava seu entorno de boca aberta, e ele não estava só. Ao seu lado, uma criança anã compartilhava do mesmo assombro; deveria ser Gimlin. Ela sabia disso graças às longas conversas que mantinha com Gandalf e também com seu próprio neto, Elladan.

Entretanto, Elladan não estava ali fisicamente, nem tampouco as crianças. Era uma projeção espiritual. Seu neto, embora não o demonstrasse ostensivamente, possuía um poder imenso. Talvez fosse ele o único entre os descendentes de Galadriel que poderia equiparar-se a ela em termos de habilidade mágica.

— A que devo sua visita? — indagou a elfa.

— Tédio — respondeu Elladan, deixando-se cair dramaticamente ao lado de um tronco retorcido, onde se sentou. As crianças brincavam com os flocos de pólen que caíam das grandes árvores douradas do bosque.

— Tédio, você diz — Galadriel sorriu afetuosamente. — Hoje, se não me engano, é o dia do nascimento de seu futuro irmão ou irmã.

— Sempre tão bem informada, vovó — disse Elladan. — E de fato é. Hoje é um dia bastante estressante. Todos estão lá, auxiliando no parto.

— E você não? — ela ergueu elegantemente uma sobrancelha.

— Meu pai me incumbiu da tarefa de ser babá e também de garantir que os convidados sejam bem recebidos em Mirkwood. Ao que parece, o rei humano, Bard, virá acompanhado de Tauriel. Também estará presente Dáin Pé-de-Ferro, o rei anão... Enfim, muitas personalidades importantes.

— E você resolveu se transportar para cá? — questionou Galadriel.

— Eles ainda não chegaram... E, como disse anteriormente, estava entediado. — Elladan concluiu.

— Acredito que Gandalf também deve estar a caminho de Mirkwood para conhecer o herdeiro de Thranduil — disse a elfa, acomodando-se sobre uma pedra.

— É provável — Elladan deu de ombros. — Ele parece ser o tipo de pessoa que gosta de estar presente nesses eventos. Não sabia que isso fazia parte das funções de um mago.

— Ele está vindo de Valfenda — informou ela, notando o olhar desconfiado que o neto lançou em sua direção.

— Elrohir e Arwen virão com ele? Até onde sei, eles só poderão deixar a cidade no próximo mês. Estão ocupados organizando questões enfadonhas sobre política, governo e afins para poderem passar uma temporada aqui com o papai e o bebê. Não creio que venham agora — comentou o elfo, enrolando uma de suas mechas escuras de cabelo no dedo, um sinal claro de nervosismo.