A escolha

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O som produzido pelo vento ao colidir nas folhas já amareladas das árvores gerava uma melodia, que de certa forma lembravam lamentos. Talvez fosse uma forma de a natureza prantear pela aproximação do inverno. Drogo tremia um pouco enquanto relutava em abrir a carta de seu primo. Sentado debaixo de um pinheiro, nas margens da propriedade do Bolsão, tremia não devido ao frio - mas ao nervosismo.

"Quão medroso eu sou? Não consigo nem abrir uma carta sem antes ter um ataque de nervos!" Pensou irritado consigo mesmo. De súbito, abriu a carta e começou a ler.

Querido primo Drogo,

Eu não sei se deveria estar furioso ou aliviado com as notícias que primo Ada me forneceu através de sua carta. Como pôde esconder de mim a sua real situação no Condado? Sou seu primo e mais do que isso sou sua família... Preocupo-me com você e com a sua segurança.

Drogo suspirou longamente. Seu primo sempre fora super-protetor, e mesmo sendo agora um adulto, por ter passado pela a cerimônia de maioridade, o sentimento permanecia. O jovem Bolseiro sentia certa irritação por essa atitude de Bilbo, e às vezes achava que era um estorvo ao primo, sempre necessitando ser protegido pelo Bolseiro mais velho. Bilbo agora tinha novas responsabilidades, um reino para governar, uma nova família e ainda mais estava grávido! Drogo não queria atrapalhar a felicidade do seu adorado primo por não saber lidar com seus próprios problemas. O hobbit retornou a sua atenção à carta. Podia ver que a escrita do primo - a qual apresentava uma caligrafia quase que perfeita - estava falha; poderia ser devido à pressa do envio da mensagem, ou mesmo pelas emoções que o segundo rei estava sentindo no momento da escrita... Drogo sorriu; seu primo o amava e o jovem hobbit também o amava muito, e por isso não queria preocupá-lo, mas no final, todo o seu esforço foi em vão.

Mas o que importa é que você está vivo. Mesmo que nossa querida Prímula não tenha tido a mesma sorte.

Se você está lendo essa carta deve ter conhecido meus "sobrinhos". Eles irão te auxiliar em qualquer confusão que esteja ocorrendo aí no Condado – contudo, não poderão permanecer. Eles, por serem príncipes, têm outras obrigações que os impedem uma estadia prolongada. Drogo, não estou querendo demonstrar que o fato deles se deslocarem para o reino dos hobbits seja um inconveniente - já eles mesmos se ofereceram e deram a ideia da jornada - mas só quero enfatizar que às vezes não terá sempre alguém ao seu lado para ajudá-lo.

"Sim, eu sei disso..." Pensou Drogo, mordendo o lábio inferior, contendo as lágrimas. Se sentia fraco, ainda mais porque era a verdade o que seu primo escrevia. Não conseguira salvar Prímula e se não fosse por Kili e Fili talvez estivesse agora sentenciado a casar com o desprezível Justa-Correia. Sentia-se um inútil...

Primo... Não sobre esse sentimento de impotência que deves estar sentindo agora, eu sei muito bem o que está passando. Sei também que você pensa que sou uma espécie de "exemplo a ser seguido", que sou corajoso ou qualquer outra bobagem que passa em sua cabecinha imaginativa. Eu não sou um herói, Drogo... Tal como você, senti medo e insegurança e só aprendi a escondê-los em prol de proteger aqueles que amo. Para provar isso a você, irei contar a história de como o Bolsão foi destruído. Não acredito que você se lembre, já que eras muito pequeno, e eu sempre tentei não reverberar antigas e dolorosas lembranças, mas acho que deve ser necessário, tendo em vista a situação atual...

~~**~~

A toca era apertada, mesmo para dois pequenos hobbits que lá estavam escondidos. Aquele lugar não era nada comparado a uma toca de um hobbit respeitável; era um buraco no chão, escuro e úmido, e talvez fosse confortável para um coelho ou raposa, mas não para hobbits.

Os dois reis sob a MontanhaOnde histórias criam vida. Descubra agora