Khuzdûl e Barbas

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O ar da noite era reconfortante. O cheiro da relva fresca, o barulho do farfalhar das folhas secas das árvores; algumas delas se soltavam e bailavam ao vento. Sim, Bilbo observava tudo aquilo com alegria. Pelo menos diminuía o sentimento de saudade que já sentia de seu antigo lar. Só fazia dois dias que tinha deixado a sua casa em Hobbiton - capital do reino do Condado -, sua família e o único local que lhe era íntimo. Estavam a caminho de Bree, e o pequeno Breeder nunca tinha visto tais terras. Mesmo vivendo no Condado, nunca se aventurara para além da capital, afinal não era seguro com a invasão constante de orcs.

Agora, pela primeira vez, via tais terras. Suas terras. Era o seu reino, afinal. Inspirou fundo e começou a olhar a sua volta. Não muito longe, no alto de uma colina, estavam os anões que arrumavam o acampamento. Além de Balin e Dwalin, existiam mais quatro: seus nomes eram Floin, Dolin, Jour e Glin; eram os melhores anões guerreiros de Erebor, cuja missão era proteger aquela pequena comitiva em sua jornada. Contudo, Bilbo sabia que eles não pareciam estar gostando nada daquela dita missão. O hobbit pôde ouvir os resmungos entre eles em uma língua desconhecida, além de olhares reprovadores dirigidos a si. Até mesmo naquele momento, enquanto o quarteto rondava as imediações da colina, rindo e conversando entre si, ficavam silenciosos quando passavam pelo Breeder, sussurrando palavras estranhas. Bilbo já estava perdendo a sua paciência! Sabia que nem todos os anões pareciam concordar com aquela situação, mas não precisava servir de alvo para fofocas. Já iria se levantar e dizer algumas palavras para aqueles anões, contudo, fora detido por Gandalf, que estava sentado ao seu lado fumando o seu longo cachimbo.

– Bilbo, meu rapaz, por que esse semblante irritado? Não está gostando desta noite calma? Não está feliz que agora podes aproveitar as noites no Condado, tranquilo? – Perguntou alegremente.

– Sim. Eu estou feliz por causa disso – De fato, estava. Naqueles dias de viagem, notara presença de grupos de anões que viajavam ao longo das estradas e bosques do condado. Eles estavam caçando orcs e os expulsando do pequeno reino dos Hobbits. Como não poderia estar aliviado por causa disso?

– Então, o que te preocupas?

– Bem... Muitas coisas! Primeiro: como posso governar um reino de anões? É evidente que eles me odeiam! – Disse lançando o olhar para o quarteto de guardas – Se eu pelo menos soubesse que línguas eles estão falando...

– Oh. Trata-se do Khuzdûl, a língua sagrada dos anões. – Respondeu o velho mago, dando baforadas em seu cachimbo, ignorando a primeira pergunta do hobbit.

– Então, eu devo aprender essa língua? Afinal, sou o segundo rei! – Disse o menor já ávido para aprender. Sempre fora curioso com relação a línguas.

– Receio que seja algo um pouco complicado...

– O que? Trata-se de uma língua difícil?

– Não é isso. Bem... Por que não pergunta a Balin? Ele é o responsável pelo o seu "treinamento", não é mesmo? Acho que já seria o momento de iniciar seus estudos dentro da cultura anã! – Disse apontando para o alto da colina, onde uma fogueira já tinha sido acendida.

– Certo. Acho que estás certo! – Nisso, subiu a colina. A cultura dos anões era algo de que tinha total desconhecimento. Apesar do Condado ser um reino que dependia de Erebor, havia poucas informações sobre os anões. Parecia que eles não gostavam de trocar ou de exaltar a sua cultura, diferente dos elfos. Ah! Bilbo tinha fascinação por elfos, desde criança queria conhecê-los. Sua mãe sempre lhe contava histórias sobre aquele povo, havia diversos livros no Bolsão sobre eles... Afinal, os Bolseiros partilhavam uma linhagem élfica; isso estaria relacionado com a possibilidade de seus descendentes se tornarem Breeders, sendo uma característica partilhada pelo o povo élfico.

Os dois reis sob a MontanhaOnde histórias criam vida. Descubra agora