Não houve nenhuma comitiva de anões para vê-los partir. As trombetas forjadas do mais resistente metal, sobreviventes do ataque do dragão, não foram tocadas, anunciando boa sorte aos viajantes. Nada. Fili não sentiu nenhum ressentimento quanto a isso. Ocultando o seu rosto por trás do capuz negro, se arrastava por um dos tuneis secretos de Erebor rumo a sua nova aventura, um novo resgate - entretanto, ao contrário das missões anteriores, essa era secreta. Sabia que tinha que ser ainda mais cuidadoso, para que nenhum anão o visse fugir. O conselho não devia nem sonhar sobre a existência daquela missão. Seu tio já estava em maus lençóis com toda a história do romance; se soubessem que o primeiro rei incentivou a ida dos sobrinhos ao resgate do inimigo elfo... O jovem príncipe não queria nem imaginar as consequências.
— Aqui fede a barba úmida e mofada de anão que deixou de tomar banho por um mês inteiro por trabalhar nas minas! — Alguém reclamou logo atrás do príncipe.
Bofur, com seu estupendo chapéu com abas, tapava o nariz com os dedos.
— Ou seja, você está descrevendo algo que ocorreu com você, não é? — Provocou Nori risonho.
— Eu nunca fiquei tanto tempo nas minas e sempre tratei muito bem a minha barba!
— Que barba? Você quase não tem barba! — Continuou evidenciar o outro anão.
— Acho que deve ter caído por causa do mofo... — Acrescentou Kili unindo na provocação.
— Olha quem fala? O filhote que ainda nem tem pelos o suficiente para tentar provocar um outro anão que por opção própria resolveu tratar de seus cabelos faciais de uma forma diferente!
Kili fechou a cara, quase fazendo um biquinho. Bifur, que estava ao seu lado, fez alguns gestos com a mão o que arrancou a risada do grupo - bem, não de todos: Bofur estava evidentemente irritado. Fili balançava a cabeça para os lados em um sinal de desaprovação do que ocorria e um pequeno hobbit observava tudo totalmente confuso.
— O que ele disse? — Ousou perguntar, timidamente, Drogo.
— Ele confirmou a história da barba mofada... — Respondeu Kili ainda ofegante pela a risada.
— Companheiros! Essa é uma missão secreta, se é que vocês se lembram o que secreto significa?! — Repreendeu o príncipe herdeiro. Aqueles anões tinham se oferecido para acompanha-lo e lógico que na hora pensou que tratava-se de uma boa ideia: os três eram exímios em trabalhos que envolviam destreza e não força. Bofur era um experiente minerador, sabia andar nos obscuros e por vezes instáveis túneis de Erebor; saber ser silencioso enquanto trabalhava era necessário para a sua sobrevivência, afinal, ninguém queria provocar um desmoronamento por tropeçar em suas barbas ou pés. Nori, por outro lado, tinha uma habilidade que foi desenvolvida durantes os anos que viveu com os humanos em suas cidades e vilas - a realidade daqueles tempos era dura, nem sempre um anão conseguia emprego, logo, surgiu outros meios de buscar a sobrevivência. No caso de Nori, o furto se tornou seu ganha pão. Aquele anão tinha as mãos rápidas, capazes de retirar sacos de moedas de dentro das calças de viajantes distraídos e entre outros furtos. Nunca fora pego. Lógico que essa habilidade não era bem vista pelos os anões, que exaltam o acumulo de tesouros frutos de seu próprio esforço e não do roubo. Nori ocultou seu dom, só o utilizando em casos de emergência, como por exemplo surripiar as cartas de amor de seu irmão mais novo ou mesmo, quem sabe, ajudar o jovem príncipe Fili em sua missão. Bifur já fora um grande guerreiro, podendo até mesmo fazer parte da guarda real, mas o acidente com um machado em sua cabeça o tornou inválido. Perdeu a capacidade de falar e as vezes sua mente lhe pregava peças, via vultos que não existiam e mesmo fantasmas de seu passado o que o tornava perigoso em batalha já que muitas vezes atacava coisas que não estavam ali ou mesmo acabava por ferir seus companheiros. Fora considerado louco, mas sua família (Bifur e Bombur) não o abandonou. Com o tempo, Bifur começou a reaprender a viver uma nova vida não como um guerreiro, e sim como um artesão. Agora o velho anão era conhecido por seus brinquedos, que constrói com tanto amor e dedicação. Por isso, ele seria útil na missão, seus olhos agora eram adaptados a notar detalhes que a maioria não perceberia. Galhos quebrados. Pegadas parcialmente cobertas. Objetos que foram levemente mudados de lugar. Essa habilidade seria muito útil, principalmente quando queria esconder os seus rastros.
— Se acalme, jovem príncipe, esqueceu que essa não é nossa primeira missão desse tipo? Acho que quando entramos escondidos na montanha para roubar Smaug e, devo enfatizar, sobrevivemos, creio que isso nos dá bastante crédito quanto as nossas experiências em situações delicadas! — Proclamou Bofur.
— Sim, sim, eu sei. Mas, Smaug só era um e estamos tentando passar despercebidos por centenas de anões logo acima de nossas cabeças. — Enquanto falava apontava para o teto. Se podia ouvir, mesmo que fracamente, o som das pisadas de vários pés, risadas e falas. Aquela passagem era logo abaixo do mercado de Erebor, nos níveis mais baixos da montanha.
Bifur sorriu e fez uns rápidos gestos nas mãos.
— Aye! Viu? O meu irmão está certo! — Continuou o anão mineiro.
Drogo mordera o lábio inferior, contendo a mesma pergunta que fizera anteriormente "O que ele tinha dito?".
— Ele disse que ninguém irá perceber a nossa presença, ao menos que coloque o ouvido no chão e preste bastante atenção. — Informou Nori ao hobbit.
— Mesmo assim... — Continuou a reclamar Fili, mas foi interrompido por um leve batida em seu ombro dado por seu irmão.
— Sei que essa missão é importante para você, como o resgate de Drogo foi para mim... Sei ainda mais que não queres que nada dê errado. Mas, confie em nós, não iremos te decepcionar.
Fili sentiu um pouco das tensões contidas em seus ombros serem retiradas. Sim, aqueles eram seus companheiros, amigos mais fiéis. Mesmo sendo um pouco brincalhões ainda iriam cumprir o seu dever.
— E estou louco para roubar algumas coisas élficas! — Anunciou Nori — Serão como troféus já que nenhum anão irá aceitar comprar alguma coisa vinda dos orelhudos.
Os outros anões concordaram com a inciativa, dando tapas de incentivo nas costas do ladrão.
Fili suspirou. Sim... Tinha que confiar neles, apesar de tudo.
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Os dois reis sob a Montanha
FanfictionExistia uma aliança antiga entre o reino de Erebor e o Condado, em que o Reino dos Anões era responsável por proteger os hobbits. Contudo, o que o pequeno e pacífico Condado poderia oferecer? Do que se trata realmente essa aliança? Ela poderá ser...