Uma inusitada aliança

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O raiar do sol era deslumbrante, principalmente avistá-lo em uma das sacadas da montanha solitária. Dependendo do local aonde se posicione podia observar paisagens diferentes, paisagens essas que seriam espetáculos a parte. O Lago Comprido, onde em suas margens a Cidade do Lago ou Esgaroth se erguida, estava envolto em uma bruma gélida da noite, essa se dissipava conforme os raios solares a atingiam, parecia que cortinas de névoa estavam sendo erguidas para saudar a nova manhã. A copa das árvores esverdeadas de Mirkwood, sob o efeito do sol, faiscavam no horizonte tal como esmeraldas. A cidade de Dale, localizado quase aos pés de Erebor, emitia já os sons do despertar de sua população, o carcarejar de galinhas e galos, o choro de crianças que desejavam perpetuar em seu sono.

Gandalf contemplava essa paisagem com sentimentos conflitantes. Em parte, tentava saborear o momento de paz, mas as preocupações por eventos vindouros ainda assombravam a sua mente. Soltou um longo e cansado suspiro. Queria poder suavizar tais tensões internas, entretanto ao invés disso sentia que as mesmas só aumentavam.

O velho mago encostou a testa em seu cajado e fechou os olhos por alguns instantes, permaneceu assim por alguns segundos, contudo, quando os abriu não mais se encontrava na sacada em Erebor. Em seu entorno altas árvores, de grossos troncos platinados, que se sustentavam sacadas, plataformas e casas, envoltas por luzes bruxuleantes. Tais construções pareciam terem se originada da própria natureza conferindo uma perfeita harmonia com o ambiente natural e o edificado. As águas espelhadas de um rio, seu nome era Celebrant, passavam calmamente levando consigo folhas douradas que caiam das árvores ancestrais, ou melhor das mallyrn árvores originárias de Validor a terra dos deuses. Gandalf sabia aonde estava, ali era Caras Galadhon a capital do reino de Lothlórien.

– Bom dia, meu amigo. – Uma voz melodiosa fez o mago se virar da contemplação daquela nova paisagem. Atrás de si a mais bela elfa que já encontrara em sua prolongada existência. Cabelos dourados desciam como uma cascata de ouro sobre seu esguio corpo. Olhos cerúleo cintilantes. Usando um vestido pálido prateado com delicadas costuras em bronze. Uma luz parecia envolver seu corpo, podia-se pensar que o sol se erguia por trás dela ou mesmo que ela fosse a própria estrela celeste.

– Minha senhora. – Gandalf se curvou em sinal de total respeito. Estava diante de Lady Galadriel, o que ela tinha de beleza também esbanjava em sabedoria e poder. E foi esse formidável poder que materializou o mago ali, não em sua forma física, mas o seu espírito. Sabia que seu corpo ainda permanecera em Erebor, talvez cochilando ainda apoiado em seu cajado.

– Não precisamos dessas formalidades. – Sorriu a Lady da luz, como também era conhecida a senhora de Lothlórien – Na verdade, devo pedir perdão por tê-lo "sequestrado" dessa forma...

– Ser sequestrado por tão formosa dama? Acho que me sinto honrado. – Piscou Gandalf recebendo uma risada curta e calorosa de Galadriel.

– Sua mente estava perturbada por uma sombra... – Admitiu a elfa caminhando para perto do mago, seus passos eram silenciosos e delicados, na verdade parecia até que flutuava sobre a relva – Na verdade, esse não é uma ocorrência pontual...Há um certo tempo percebo essa sombra perseguir seus pensamentos. Ou melhor, você perseguir essa misteriosa sombra.

– Ela não tão misteriosa como pensas, lady Galadriel.

– Meu querido amigo, não reverbere as cinzas do passado.

– E se em meios dessas cinzas existir uma brasa pronta para reiniciar o incêndio?

Galadriel o mirou de relance e depois voltou seu olhar para o rio.

– Tudo parece tão calmo. – Disse com certo ressentimento – A paz não deveria ser efêmera. Parece que passamos mais tempo buscando por causas para perpetuar lutando ou cutucando as nossas cicatrizes do que realmente vivendo o momento de calmaria...

Os dois reis sob a MontanhaOnde histórias criam vida. Descubra agora