Broches

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Fili andava de um lado a outro na sala confortável do Bolsão. O crepitar do fogo da lareira preenchia o silêncio tenso do ambiente. Legolas estava sentado na poltrona folheando um livro, mas sua atenção estava voltada para o anão loiro; para falar a verdade, aquele vai-e-vem o estava irritando.

– Já chega! – Falou o elfo por fim, fechando o livro e fazendo o som ressoar pela sala – Você está me deixando tonto e ansioso. Vai dar tudo certo.

– Como você pode afirmar com tanta certeza? Meu irmão pode perder o grande amor da vida dele hoje... E eu não posso fazer nada para impedir. – Disse desolado. Era o irmão mais velho, por isso detinha a função de proteger o mais novo, mas naquela situação se viu incapaz de auxiliar, de alguma forma, Kili. Isso o irritava, pois o fazia se sentir impotente, sendo apenas observador de tudo.

– Creio que se esse amor for verdadeiro, irá prevalecer, apesar da distância e até mesmo dos preconceitos.

Fili engoliu em seco, pois sabia que aquelas palavras não eram direcionadas unicamente à situação vivenciada por seu irmão, mas também a si mesmo.

– Legolas... – Encarou o elfo que, por sua vez, tinha os olhos abaixados, analisando a capa do livro em seu colo como se fosse a coisa mais interessante do mundo.

– Eu acredito nisso, Fili. Pode parecer algo tolo... Sei que meu pai consideraria tolo, mas não acho que o sentimento "amor" é tão fraco assim para ruir com alguns obstáculos apenas. – Suas mãos apertaram o livro, como se tentasse transferir ao objeto as emoções contidas.

– Também acredito nisso, Legolas. - Se aproximou. Não gostava de vê-lo assim. Legolas era um guerreiro, corajoso e decidido em suas ações, um pouco arrogante às vezes, mas honrado. Vê-lo cabisbaixo fazia Fili sentir um peso em suas costas, pois sabia que aquilo tudo era sua culpa, de certa forma.

– Acredita mesmo? – O elfo levantou os olhos e o encarou. O príncipe anão notou uma lágrima solitária se formando um canto de seus olhos.

– O que está querendo dizer com isso, Legolas? Lógico que acredito!

– Sei... Durante a viagem eu demonstrei as minhas intenções, comecei a cortejá-lo da forma correta segundo os métodos da cultura anã... Eu não vi você se esforçando para fazer o mesmo gesto. – Virou o rosto para o lado, a irritação no tom de sua voz era evidente.

– Achas que não levo nossa relação a sério? Crês que estou brincando com os seus sentimentos? Eu não sei quanto aos elfos, mas nós anões levamos bastante a sério nossas relações. – Bradou. Agora era ele quem tinha ficado irritado com aquela atitude.

– Eu não vejo você usando o pingente que te dei. Nem estamos em Erebor, tampouco em Mirkwood, então não temos nada a esconder! Temes por acaso que alguns dos anões que estão aqui nos vejam e comentem? Na verdade... E-eu... Confesso que ansiava por permanecer mais tempo no reino dos hobbits, pelo menos aqui podemos ficar juntos sem ter que sair às escondidas durante as reuniões diplomáticas entre nossos reinos.

– Legolas, eu trago sempre comigo o seu presente. Veja... - Retirou do bolso da túnica o pingente élfico que emitia um brilho fraco – Você tinha me dito que isso representa o seu coração, achas mesmo que irei renegar algo que mais desejo ter?

O jovem príncipe elfo corou com aquelas palavras, mas permaneceu com o semblante sério.

– Em parte você está certo. Eu não o uso por temer que outros vejam, não por sentir vergonha da nossa relação, tampouco desejo que permanecemos nos encontrando nas sombras, tendo uma vida dupla, enganando nossos familiares e reinos. Mas eu temo... Para um anão, principalmente um que foi treinado para ser um guerreiro e já participou de combates como eu, admitir que tenho medo do que poderão fazer ao descobrir nosso amor... Parece ser um ato de fraqueza de covardia. Mas é isso que eu sinto. Constantemente imagino que poderia ocorrer se acidentalmente nos descobrissem, o que meu tio iria fazer e o seu pai. Como nosso povo iria reagir. E o pior... Se iriam nos separar.

Os dois reis sob a MontanhaOnde histórias criam vida. Descubra agora