Bundas e resgate

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Peixes.
Nunca mais iria comê-los. Se possível, não queria nem ver um, vivo ou morto, não importava. Fili sabia que teria pesadelos com aqueles seres aquáticos nas semanas seguintes, afinal, ficar trancado em um barril recheado de pescado, mergulhado em seu fedor e sem poder se mexer e nem ao menos reclamar? Não fora treinado para isso, como guerreiro anão, não se supunha que um dia teria que adentrar no território inimigo desta forma.
"Que as canções futuras não falem desta aventura, em particular..." Imaginou receoso da sua reputação, bem que esta já estava bastante fragilizada, pois seus atos de rebeldia, travessuras e agora amores proibidos não resultariam em glórias a serem escritas em poemas ou versos de alguma balada heroica anã. A verdade era que, quanto a isso, pouco ligava... O que desejava era reaver o seu elfo, para que assim, finalmente, o peso que durante dias decaía sobre o seu coração fosse aliviado.
— Acho que tenho um peixe dentro das minhas calças, — Reclamou Kili, que andava de um jeito esquisto, obviamente desconfortável.
—Shhh! Fique quieto! Esqueceu o que Tauriel disse? — Repreendeu o príncipe herdeiro.
— Sim, sim... O papo de as árvores terem ouvidos e bla-bla-bla... Mas e se esse peixe tentar morder o meu...
Agora era a vez de Drogo dar o sermão no seu anão, interrompendo a sua fala.
— Por Yavanna, Kili! Se existir mesmo um peixe aí ele deve já estar morto, nada irá morder o seu...
— Linguiça. Eu daria tudo por uma suculenta e roliça linguiça. — Suspirou, sonhador, Bofur alheio a conversa que estava sendo cochichada entre os membros mais jovens da comitiva — Isso sim me faria esquecer os peixes.
Nori concordou, limpando algumas escamas que persistiam em grudar em sua barba. Já temia pelo estado de sua querida e bem cuidada pelagem facial. Quando voltasse a Erebor teria que usar todas as suas loções e óleos para restaurar a qualidade de sua estonteante barba.
O grupo seguia por uma trilha estreita da floresta. Segundo a elfa (que infelizmente não pôde acompanha-los, pois deveria escoltar o rei humano e, quando fosse o momento certo, iria guia-los na fuga final) eles não teriam problemas com ilusões que levavam aventureiros desavisados a loucura em Mirkwood, pois por estarem demasiadamente perto da sede do reino elfo, tais obstáculos invisíveis eram suprimidos; além disso, muitas das árvores dali eram mais jovens de que as em outros locais da floresta, o que, de certa forma, significava que seriam menos "desconfiadas" dos forasteiros do que suas irmãs mais velhas. Lógico que os anões não ligavam muito para aquela história de natureza e sentimentos da flora, contudo, Drogo sabia muito bem que se devia respeitar a floresta; sentia-se observado e analisado todo o tempo desde que adentraram na trilha. Às vezes, podia jurar ver pelo canto dos olhos galhos se moverem em que causa não fora o vento, troncos envergavam e até pareciam respirar. Sim... Mirkwood não deveria ser subestimada.
Kili andava de uma forma engraçada, lembrava muito os bêbados dançarinos em alguma taberna em Hobbiton nos tempos da festa da colheita. Drogo fez um sinal negativo com a cabeça enquanto tentava suprimir o riso. Aquela era uma missão perigosa - teria que se manter sério e concentrado.
Bifur, que estava na dianteira por ter sentidos de audição mais apurados, apontou para um ponto mais adiante e depois fez alguns sinais brutos com as suas grandes mãos.
— Ele disse que estamos no fim da trilha, mas que devemos tomar cuidado, — Informou, prontamente, Bofur — Existe uma patrulha élfica por perto.
Fili soltou um palavrão em sua língua. Não queriam ter que se utilizar da violência, pois isso implacaria em delatar sua presença; o que complicaria ainda mais o resgate e a fuga. Os anões se esgueiraram nas folhagens - bem que eles não compartilhavam da mesma habilidade dos elfos... Habilidades essas que significavam serem silenciosos e se mesclarem no ambiente. Talvez, se tivessem na montanha, rodeada de gemas preciosas, rochas, ambiente obscurecido dos tuneis subterrâneos, fosse fácil se misturar, mas ali não era o seu habitat natural... E ainda tinha um fator que lhes era desfavorável.
— Você está sentindo esse cheiro? — Um dos elfos que andava perigosamente perto das margens da floresta reclamou, fazendo uma careta. O seu companheiro parou e inspirou fundo e depois levou a mão ao nariz, o tapando com desgosto.
— Que fedor! Parece que algo está morto e aprodrecendo!
— Exato. Acho que um certo elfo que conheço não tomou seu banho diário. — O primeiro elfo lançou um olhar mortal para o seu parceiro.
— Você sabe muito bem que eu prezo por minha higiene!
— Sei... Daqui a pouco você vai parecer um anão.
— Você agora está exagerando. Nada é tão fedorento quanto aqueles texugos barbudos.
— Texugos barbudos! — Riu o guarda elfo e o outro logo o seguiu. Drogo mirou os anões em questão, esses rangiam os dentes e seguravam o cabo de suas armas, prontos para atacar.
"Oh, não... A situação está ruim... Muito ruim." Pensou o hobbit sem saber como deveria sanar o problema.
— Olá, senhores guardas, com licença! — Uma outra voz foi ouvida e os anões e hobbit notaram um terceiro elfo se aproximando. Depois, tiveram que conter a exclamação se surpresa e assombro, pois aquele era Elladan!
Naquele momento, no pequeno arbusto, cinco anões e o único hobbit prenderam as suas respirações, ansiosos e temorosos pelo futuro.
O filho de Elrond, lançando seus longos cabelos negros no ar e andando de forma lenta e ligeiramente rebolando os quadris, parecia exercer uma espécie de feitiço nos guardas que o fitavam, boquiabertos.
— Quem é você? — Questionou um dos guardas, engolindo em seco. Elladan era mais baixo que os elfos de Mirkwood, além disso, a sua aparência destoava dos outros membros daquele reino, que normalmente tinham cabelos loiros e castanhos mais claros e pele mais alva, o que tornava óbvio que não era um elfo de Mirkwood.
— Preciso de uma informação, — Elladan, em um tom arrogante, ignorou a pergunta do guarda — Eu estava na comitiva dos elfos de Valfenda que passou por aqui uns dias atrás, creio que devem se lembrar, não é mesmo?
Os guardas assentiram rapidamente.
— Pois bem, algo estranho ocorreu enquanto eu estive aqui... — Drogo viu a transformação do jeito orgulhoso do elfo, sua linguagem corporal se alterou, parecendo agora mais frágil; seus olhos cor de mel piscaram para os guardas que novamente engoliram em seco — Eu... Me apaixonei...
— Mas o que... — Kili iria fazer uma pergunta, mas sua boca fora tapada por Fili que assistia assombrado aquela estranha conversa e apresentação teatral.
— Me apaixonei por um guarda de Mirkwood... Por isso tive que retornar e, por uma permissão do próprio rei, foi me concedida a liberdade de procurar por aquele elfo que fez minha alma ressoar. — Elladan tocou o local em seu peitoral onde deveria se localizar a marca, e isso surtiu um efeito avassalador nos guardas. Seus olhos dilataram e suas peles foram tomadas por uma coloração avermelhada. Drogo também pode notar que algo parecia ter crescindo no espaço entre as pernas do ditos elfos guerreiros, afinal, eles usavam calças finas e apertadas! Algo assim, aquela evidência de excitação, seria bastante visível a todos.
— Um guarda?
— Quem?
— Sabe o seu nome?
— E o seu posto?
Os guardas soltaram as perguntas ao mesmo tempo, e Elladan os mirou, como tentasse reconhecer o guarda imaginário que teria tomado o seu coração e alma. Os outros rapazes se ajeitavam, estufavam o peito, querendo parecer mais do que realmente eram. Drogo teve que morder o lábio inferior com força. Dava para ver como o filho de Elrond era ótimo ator e provavelmente estava se divertido a custa daqueles pobres elfos.
— O que me lembro era que ele era extremamente bom no arco e flecha, — Elladan levou o dedo indicador aos seus lábios, uma atitude dissimulada, fingindo que estava pensando, mas a verdade era que provoca os guardas intencionalmente.
— Eu sou um dos melhores arqueiros de Mirkwood! — Disse um deles.
— Hã? Desde quando? Eu que sou o melhor!
Os dois começaram a se encarar raivosamente. O elfo de Valfenda, aquele que implantou a semente da discórdia, interveio, se colocando entre os seus tolos admiradores.
— Esperem! Existe uma maneira de avaliar quem seria o melhor. — Esticou o dedo, apontando para uma árvore que se projetava além da linha da floresta: era uma maciera e tinha frutos que pendiam de seus ramos.
— Se acertarem, precisamente, um fruto a essa distância, acredito que isso provará a habilidade de vocês.
Os elfos se entreolharam, cada um com bastante confiança em sua htreinamento. O treinamento do reino de Mirkwood era voltado, principalmente, ao uso do arco e flecha, nenhuma outra nação élfica era dententora de tamanha destreza. Os guardas retiraram seus arcos, que estavam convenientemente presos por uma tira de couro as suas costas. Flechas, obviamente, eles tinham. Com uma mistura de delicadeza e precisão, os elfos puxaram a corda de seus arcos, colocaram suas flechas e miraram no alvo. Concentrados... Concentrados até demais, pois não perceberam Elladan empunhas suas espadas gêmeas e tampouco preveram o golpe na nuca com o cabo das leves espadas élficas. O golpe foi eficaz e os guardas desfaleceram de imediato.
Elladan guardou as suas armas e soprou uma mecha negra que tinha caindo sobre a sua face.
— Idiotas. — Disse em um tom de crítica direcionado aos pobres guardas desmaiados.
— Isso foi incrível! — Anunciou Drogo, saindo do esconderijo para parabenizar o elfo que, orgulhoso, sorriu.
— É... Até que o comedor de capim foi útil. — Resmungou Nori, de contragosto.
Elladan já iria dar uma resposta a altura, quando um outro anão o interrompeu, em voz bastante alta.
— Aha! Encontrei! — Disse Kili, todo triunfante. O príncipe tinha abaixado as calças e exibia um pequeno peixe em uma das mãos — Eu disse que tinha algo!
Drogo corou, tentou não olhar para baixo, mas seus olhos eram rebeldes e seguiram seu foco a um ponto, precisamente entre as pernas do anão. O elfo, por outro lado, soltou um grunhido fino e levou as mãos ao rosto, falando algumas palavras que nem o hobbit conseguira traduzir (ou talvez a sua mente estivesse em um estado de tamanha admiração que não seria capaz de desempenhar nenhuma atividade racional).
— Mais um trauma! Isso é algum tipo de punição divina! Mas pelo que? Eu sou um elfo tão bom! Posso ter feito uma coisinha errada ou duas, mas isso não é justificativa de me fazer ver... Essa... Esse... Isso... Ah! Trauma! — Choramingava o jovem lorde.
Fili silenciosamente orou para Mahal para que lhe desse paciência diante daquele grupo que não estava levando com seriedade a missão. De fato, Nori, Bofur e Bifur nem tentavam ocultar as gargalhadas da cena.
— Quietos! Temos que aproveitar a oportunidade, agora sem os guardas temos um caminho temporarialmente livre para alcançarmos Legolas! Se concentrem na missão! — Disse o príncipe herdeiro — Elladan, você vai na frente, já que poder ser nosso batetor caso algum outro elfo apareça.
— Até parece que você manda em mim, baixinho. — O elfo que ainda estava com os olhos fechados se virou, ficando de costas para o anão indecente — O quarto do meu futuro irmão se encontra logo ali, então melhor irmos!
Aquele elfo de Valfenda era estranho. Uma hora dizia não seguir ordens e depois já os estava ajudando novamente? Fili não tinha tempo para analisar a personalidade volúvel do seu novo aliado; havia, afinal, mais uma coisa a ser resolvida.
— Kili! Suba as suas calças! — Mandou, abismado em ver que seu irmão mais novo ainda as tinha abaixadas. O pior, podia ver que havia um clima estranho no ar. Kili fitava intensamente Drogo, este estava ofegante e apresentava o rosto avermelhado como fosse a personificação de um tomate maduro.
"Perfeito..." Pensou o príncipe enquanto, ele mesmo puxava as calças do irmão de forma bruta, fazendo que este acordasse do seu estado de fascínio/erótico.
— Vamos agora! — Ordenou, demorou um pouco mais, porém Drogo logo voltou a realidade e pelo visto seu corar tinha assumido uma nova escala de vermelho, agora evergonhado por ter sido flagrado olhando onde não devia.
Kili estava com um sorriso satisfeito nos lábios, mas isso durou pouco tempo, pois Fili lhe deu um belo tapa na nuca.
— Concentração! — Disse ríspido.
Drogo seguia o grupo cabisbaixo, não sabia se teria de novo coragem de encarar Kili sem associar o seu anão com aquilo que não deveria ter visto, pelo menos, ainda. Seu coração palpitava no peito com tamanha força que imaginava que toda Mirkwood estaria ouvindo.
"Concentração, Drogo Bolseiro!" Se censurou, dando tapas nas bochechas (o que só fez elas ficaram mais rubras) para acordar. Fili estava certo, ainda tinha uma missão a cumprir.

Os dois reis sob a MontanhaOnde histórias criam vida. Descubra agora