Um estranho dia e uma estranha aula

6K 657 348
                                    


– Gostou?

A voz de Kili mal chegara aos ouvidos de Drogo, já que este estava assombrado com o quarto que lhe seria destinado. Seu primo, pelo que parecia, passou muito tempo organizando e moldando o local que seria o seu novo lar. Seu quarto era amplo e, tal como o quarto de Bilbo e Thorin, parecia ter sido retirado do Bolsão. Piso e paredes revestidos de madeira, quadros com pinturas de campos, florestas e hortas foram pendurados nas paredes, compensando a falta de janelas no cômodo. Uma estante cheia de livros jazia em um dos cantos e, ao lado dela, uma confortável poltrona. Uma pequena cozinha também fora construída, perfeita para fazer uma boa xícara de chá... Era perfeito. Lágrimas começaram a dominar o seus olhos, uma arrematadora saudade lhe abateu. Como deveria estar o Bolsão? E o Condado? Será que algum dia voltaria a vê-lo? Mesmo tendo um quarto que era a cópia do estilo do seu antigo lar, a verdade não podia ser escondida: ali não era e jamais seria o Bolsão. Não podia esquecer que agora estava vivendo no interior de uma montanha, longe dos campos verdes e do sol quente das terras dos hobbits.

– Não gostou? E-eu poderia... B-bem... – Kili parecia perdido, olhando para os lados, como se buscando algo para ajudá-lo naquela situação, talvez retirar algum objeto mágico oculto para trazer felicidade ao seu amado. Drogo exibiu um sorriso tímido, enxugou as lágrimas que escorriam de seu rosto com as costas das mãos e buscou o olhar do outro.

– Eu adorei... Só estou com saudades do meu antigo lar. – Confessou – Não precisa se preocupar.

– Como não deveria? Quero que fique feliz aqui – Falou, cabisbaixo, o anão. Aquilo fez o pequeno hobbit sentir seu coração apertar em seu peito. Não queria decepcionar o anão; sabia que ele, mais do que ninguém, o queria fazer confortável e seguro ali. Estava tão ansioso para mostrar as maravilhas de Erebor, e Drogo não queria estragar as expectativas do jovem príncipe.

– Vai demorar a me acostumar, mas... Sei que logo estarei aclimatado! – Disse com um sorriso bonito no rosto, tentando animar Kili.

– Eu queria te entender... - Confessou em um quase sussurro o anão, se sentando na cama que seria de Drogo.

– Me entender? Hm... Refere-se ao que, precisamente? – O hobbit se aproximou do outro, se acomodando ao seu lado.

– Sentir saudade de um lar.

Drogo o encarou, confuso.

– Como assim?

Kili soltou um profundo suspiro e começou o seu relato:

– Eu não nasci em Erebor. Sempre ouvi falar do reino dos anões por meu tio e minha mãe... Mas como poderia sentir saudades de algo que nunca vi? Eu entendia que era um local importante e que estava ligado a ele por minha herança. Contudo... Esse sentimento em relação a um lar, um lugar físico que você se identifica... Eu nunca senti de fato. Vivíamos constantemente nos mudando de uma vila humana para outra. Nunca ficamos muito tempo em um mesmo lugar e na verdade perdi a conta das cidades, vilas e aldeias humanas as quais passei durante a minha infância. Erebor, para mim, parecia algo inalcançável e a palavra lar era algo místico e também utópico. Acho que sei agora o que é um lar... Participei da conquista de Erebor, quase morri durante a batalha para expulsar o dragão. Entendo o meu papel como príncipe, vi a coroação do meu tio como rei... Mas, esses sentimentos de saudade ainda me são estranhos. Desculpe.

– Não precisa se desculpar por causa disso. – Sorriu de forma amável – e meio desconcertado - Drogo, colocando a sua pequena mão sobre a mão do príncipe – A verdade é que lar é onde nos sentimos confortáveis e seguros. Não necessariamente precisa ser um lugar físico. Sinto saudades do Bolsão, da família Tûk... Do meu cotidiano e do meu jardim. Mas, aos poucos, o sentimento de lar irá se estender para aqui. Afinal, nesta montanha estão as pessoas que mais amo... Bilbo e agora o pequeno Frerin, Fili, o senhor Glóin...

Os dois reis sob a MontanhaOnde histórias criam vida. Descubra agora