Tudo estava envolto em escuridão. Uma voz distante o chamava, as palavras ecoando de forma nebulosa em seus ouvidos. Ele podia reconhecer vagamente o termo "Kili", seu próprio nome, misturado a outras palavras como "idiota" e "acorda". A situação o deixava confuso. Por que o chamariam de idiota? E por que havia uma urgência para que ele despertasse?
Foi então que sentiu como se a terra tremesse sob seus pés, mas rapidamente percebeu que não era o solo que estava em movimento — era ele. Alguém o agitava com força.
Emergindo dessa confusão sensorial, Kili voltou a si. Encontrava-se em um salão grandioso, cujo teto em abóbada se assemelhava a uma noite estrelada, graças às pedras preciosas incrustadas que cintilavam como astros celestes. A seu lado estavam Fili e Thorin; sobre uma cama, ladeado por Bilbo e Óin, jazia Drogo. Seu esposo o observava com olhos azuis incandescentes, transbordando de nervosismo.
— Ele está bem? — perguntou Drogo, sua voz tingida de ansiedade.
— Claro, ele é um anão. Sua cabeça é tão dura quanto o minério mais resistente, — respondeu Thorin, ajudando o sobrinho a se erguer.
—Quanto à cabeça dura, não posso discordar. Mas em relação aos nervos, bem, eu tenho minhas dúvidas, — interveio Bilbo, lançando um olhar crítico em direção a Kili.
—Isso... Isso é real? — Kili indagou, voltando-se para o irmão, que o observava com uma expressão carregada de preocupação.
—Sim, Kili. Como eu disse antes de você desmaiar pela segunda vez, isso está realmente acontecendo. Drogo está em trabalho de parto. Você vai ser pai.
— E que os Valar nos amparem quanto a isso, — murmurou Dís, a matriarca da família, enquanto enxugava a testa suada de Drogo.
— Já tenho as mãos cheias cuidando do mestre Drogo — declarou Oín. — Se Kili continuar a desmaiar deste jeito, talvez seja melhor que ele espere na sala adjacente com os outros membros da companhia.
— Não! — recusou Drogo com uma veemência que ressoou pela sala. — Quero Kili aqui comigo!
O desespero na voz de seu esposo penetrou o nevoeiro de confusão que ainda envolvia Kili. Claro, ele já havia encarado perigos inimagináveis, lutado contra inimigos assombrosos e participado na retomada de Erebor, expulsando o dragão que lá habitava. Contudo, ao ver o sofrimento estampado no rosto de Drogo e o sangue que manchava os lençóis, sentia um tipo de medo que nunca pensou que o assombraria tão profundamente.
E havia um outro medo, mais insidioso ainda... Seria ele um bom pai? Seu futuro filho ou filha se orgulharia dele? Kili temia falhar na tarefa mais crucial de sua vida, secundária apenas à sua responsabilidade como companheiro de Drogo: ser pai.
— E-eu estou aqui, Drogo — disse Kili, com uma voz trêmula, enquanto se aproximava da cama e estendia a mão, que Drogo agarrou com firmeza.
— Estamos nisso juntos — afirmou Drogo, forçando um sorriso através das contrações que se intensificavam.
— Juntos — ecoou Kili, agora com uma voz mais segura.
Um suspiro de alívio escapou de Bilbo, e Dís assentiu em aprovação.
— Mestre Drogo, agora você precisa empurrar — instruiu Oín.
Kili fez um esforço consciente para não olhar para abaixo da cintura de Drogo, concentrando-se em vez disso no rosto do hobbit, contorcido pela dor.
— Lembre-se da respiração — Kili aconselhou, imitando a técnica de respiração que Bilbo e alguns curandeiros elfos lhes haviam ensinado meses atrás.
Drogo assentiu e, em meio às dores e aos temores, começou a respirar em uníssono com Kili.
Em meio aos esforços conjugados de empurrões e respirações coordenadas, Kili sentia que cada segundo se estirava até se tornar uma eternidade. Seu coração pulsava com fervor enquanto rezava silenciosamente para todos os Valar, suplicando pelo fim do sofrimento de Drogo. A tensão era tal que ele se esforçava ao máximo para manter o equilíbrio, evitando desmaiar pela terceira vez naquela situação angustiante. Foi tão absorto nesse estado mental que quando o primeiro choro do bebê preencheu o ar, ele levou alguns momentos para assimilar a origem daquele som jubiloso.
— Parabéns, vossas altezas, — Oín anunciou, a voz do anão tingida de emoção palpável. Ele segurava com delicadeza o recém-nascido, envolto em uma manta azul macia fornecida por Bilbo. "Vocês trouxeram ao mundo um belo menino."
Kili observou, maravilhado, o anão curandeiro aproximar-se com o frágil embrulho. Quando teve a oportunidade de observar melhor, seu coração quase explodiu de amor e espanto. O bebê tinha cabelos encaracolados de tonalidade castanha, um rosto rechonchudo e adorável e grandes olhos cinzentos que sugeriam que um dia seriam tão azuis quanto os de Drogo. A fragilidade e a pequenez do recém-nascido despertaram em Kili um amor avassalador e uma urgência em proteger aquele ser minúsculo.
Oín colocou o bebê, cujo choro cessou como se por encanto, nos braços de um exausto, mas radiante, Drogo. Os olhos do infante pareciam diamantes, cativantes e expressivos.
— Parecem verdadeiras pedras preciosas, — Kili murmurou, a voz embargada de emoção, enquanto acariciava suavemente o rosto gordinho de seu filho. Sim, aquele era o seu filho. A perfeição daquele momento era algo que ele jamais imaginara.
Drogo sorriu para Kili, um sorriso que mesclava amor, exaustão e um alívio infinito.
— Frodo... Bem-vindo ao mundo, — disse, já com lágrimas acumulando nos olhos.
Enxugando as próprias lágrimas, Bilbo notou os pés peludos do bebê, uma clara indicação de que a descendência hobbit havia sobreposto os genes anões. Era uma ocorrência rara, conforme indicavam antigos registros e discussões com os curadores de Erebor. Frodo, sem dúvida, seria um caso único em um reino de anões teimosos, e já estava claro que seria mimado sem restrições.
De repente, o bebê Frodo voltou seus olhos para Kili e emitiu um pequeno e adorável gemido, agarrando com sua mãozinha o dedo do pai anão que ainda acariciava suas bochechas. Aquele simples contato fez o emocionalmente abalado Kili quase desabar. Fili e Thorin, que estavam ao seu lado, precisaram ampará-lo para evitar que ele desmoronasse de emoção no chão.
Dís liberou uma risada calorosa enquanto Bilbo revirava os olhos, um sorriso irônico e afetuoso brincando em seus lábios. Ambos percebiam claramente que Frodo teria seu pai anão, Kili, inteiramente aos seus pés.
E assim, nasceu Frodo Bolseiro-Durin, filho de Drogo e Kili Bolseiro-Durin. Ele não era apenas um herdeiro da linhagem Durin, mas o primeiro príncipe hobbit de um reino predominantemente anão. A singularidade de sua linhagem e a fusão das culturas que o cercavam prometia torná-lo uma figura inesquecível na tapeçaria rica e complexa de Erebor.
Palavras da Autora:
Mais um bebê chegou ao mundo! Comemorem!
Quem vocês gostariam de apadrinhar (serem madrinhas ou padrinhos)? Frodo? Frerin II? Aragorn? Eldafin?
Acharam que os nascimentos já tinham acabado? Não... Ainda falta mais um.No próximo capítulo, será a vez de Legolas e Fili!
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Os dois reis sob a Montanha
FanfictionExistia uma aliança antiga entre o reino de Erebor e o Condado, em que o Reino dos Anões era responsável por proteger os hobbits. Contudo, o que o pequeno e pacífico Condado poderia oferecer? Do que se trata realmente essa aliança? Ela poderá ser...