Capítulo Extra Parte I: Pengwaedh Cúmaen

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O verão em Mirkwood, Erebor e Cidade do Lago trazia uma metamorfose palpável ao ambiente. O ar, antes mais frio e inerte, agora vibrava com um calor úmido e penetrante. As chuvas, outrora frequentes e persistentes, davam lugar a lufadas de vento morno que dançavam por entre as copas das árvores e ecoavam nas encostas da montanha. Este clima, um misto de calor sufocante e frescor repentino, era o pano de fundo perfeito para os eventos e feiras que começavam a reavivar.

As festividades de verão, particularmente a Pengwaedh Cúmaen - uma competição milenar de arco e flecha, cujo nome em Sindarin, a língua élfica mais falada na Terra-média durante a Terceira Era, significa "Competição de Arcos" - estavam renascendo após anos de esquecimento. Este evento quadrienal, rotativo entre os reinos élficos, era mais do que um mero torneio. Era um símbolo de união, uma celebração das habilidades arqueiras e, acima de tudo, um reforço dos laços fraternais entre os diferentes reinos e clãs élficos. A Pengwaedh Cúmaen não era realizada há mais de quinhentos anos, e sua ausência foi profundamente sentida.

A escolha de Mirkwood como sede do renascimento deste evento era altamente simbólica. O reino, emergindo de sua autoimposta reclusão, começava a estender ramos de oliveira para anões e homens, restaurando antigas alianças e curando feridas do passado. A organização do evento em Mirkwood era uma mensagem clara: era tempo de renovação, de reconstrução de laços desgastados pelo tempo e conflitos internos. O príncipe Legolas, figura-chave nesse movimento, foi quem concebeu e articulou a revitalização da Pengwaedh Cúmaen. Sua visão e diplomacia foram cruciais na reconexão desses reinos outrora fragmentados, estabelecendo um novo capítulo de cooperação e harmonia.

Fili estava ciente da importância do evento para seu amado e noivo, Legolas, e por isso sentia uma culpa dilacerante ao perceber que havia esquecido a data exata em que ocorreria. No meio de um dia carregado, com Fili mergulhado em relatórios de contabilidade de Erebor e enredado nas teias das reuniões do conselho, a entrada inesperada de Kili em seu escritório o pegou de surpresa. Kili, trajando seu uniforme de arqueiro, parecia um contraste vívido com o ambiente formal e sobrecarregado do escritório.

Fili, com um olhar atônito, perguntou, sua voz tingida de um tom autoritário que lembrava cada vez mais Thorin:

"Para onde você está indo assim vestido? Kili, não temos tempo para treinos agora. Já preparou sua apresentação para a reunião financeira desta semana?" Sua fala era um eco do comportamento de Thorin, uma mistura de dedicação ao trabalho e uma aspereza que ele nunca imaginou que adotaria.

Kili, com um sorriso irônico nos lábios, sentou-se na poltrona em frente ao irmão, de maneira despojada e um tanto insolente. Ele colocou as botas sobre a mesa de Fili, causando um pequeno caos de papéis e pergaminhos deslizando para o chão. "Você está brincando, certo? Não me diga que esqueceu que dia é hoje? E ainda dizem que sou o distraído..."

"Esqueci-me da reunião com os mineiros sobre suas demandas por melhores salários e a divisão dos espólios extraídos, que deveriam ser partilhados com o governo de Erebor? Ou da reunião com a guilda dos Ourives de Erebor, discutindo os modelos de fabricação de joias e objetos de prata para comercialização além dos limites do reino? Isso sem contar com a guilda dos comerciantes, que deseja debater os impostos sobre as importações..." Fili começou a listar, contando nos dedos de uma mão, enquanto Kili expressava um visível desgosto, como se tivesse provado um dos pratos de salada preparados por Bilbo.

"Irmão, sabes que te amo, certo?" Kili iniciou, provocando um revirar de olhos em Fili.

"Sim, sei. E tua presença nessas reuniões seria valiosa... Principalmente se desejas ser meu braço direito no governo de Erebor."

"Imagina se irei para reuniões hoje. Mas, falando do que realmente importa, se sabes que te amo, não vais ficar chateado se te disser que estás te tornando um tremendo chato, não é mesmo?"

Os dois reis sob a MontanhaOnde histórias criam vida. Descubra agora