Pelo visto, adentrar em Mirkwood fora mais fácil do que escapar do dito reino elfo. O grupo de anões, elfos e hobbit, corria pelos corredores que mais pareciam fazer parte um labirinto, tentando buscar uma saída que não estivesse lotada de guardas - algo que estava se revelando impossível. Legolas tentava guiar o grupo, afinal, era ele quem mais conhecia sobre a intrincada geografia do palácio e cidade sede do reino, mas nem o príncipe podia tecer milagres. A comitiva virou em mais uma curva, ao fim do corredor, quando toparam, como por surpresa, uma possível saída. Era o caminho usado normalmente por servos, sendo então mais estreito e menos ornamentado e parecia não conter nenhum guarda... Parecia.
Estavam todos ofegantes e miravam Fili esperando por sua decisão final.
— Pode ser uma armadilha. — disse Drogo, receoso.
— E daí? — falou Kili — O plano era entrar e sair de Mirkwood sem sermos notados, não é? Pois falhamos nesse quesito! Seja armadilha ou não, temos que escapar... Se formos capturados, não quero nem pensar no que tio Thorin irá fazer.
— Deveríamos pensar no que eles farão com a gente caso sejamos presos. — resmungou Bofur.
— Provavelmente nos obrigarão a comer salada! Ou pior, ouvir suas músicas ridículas! Na verdade, a verdadeira tortura seria nos fazer comer folhas enquanto algum elfo toca uma maldita arpa! — lamentou Nori.
— Ou eles podem força-los a tomar um banho. — acrescentou Elladan tapando, elegantemente, o seu fino nariz — Pois bem que vocês estão precisando.
Fili lançou um olhar que se assemelhou, e muito, ao famoso olhar mortal de Thorin Durin (talvez fosse herdado pela a genética, afinal de contas) o que resultou no silêncio geral, evitando o início de uma nova briga.
— Eu... Eu não desejo que se inicie uma guerra entre elfos e anões por nossa causa. — balbuciou Legolas que via a situação por outro ponto de vista, distinto de seus companheiros — Eu fui muito egoísta... Digo, claro que desejo que o nosso amor seja aceito, mas a que custo? Será que não seria melhor eu voltar para o meu cárcere?
Fili segurou a mão trêmula do guerreiro elfo que vacilava diante as possibilidades futuras.
— Não irá haver guerra. — falou convicto.
— Como pode ter certeza disso? — pelo menos Legolas ainda mantinha o seu tom pertinaz de ser.
— O problema que enfrentamos está além das rivalidades entre as nossas raças. Sim, pode haver consequências, mas o motivo para seu aprisionamento não foi tão simplesmente o fato de eu ser um anão, não é?
— N-não foi?
— Lógico que não. — interpôs Elladan — Seu pai está ou melhor, estava, com uma tremenda "dor de cotovelo".
— D-dor... — Legolas olhou para o outro elfo, meio transtornado com aquelas informações — Bem, meu pai sofre pela morte do meu outro pai e...
— Não esse tipo de dor de cotovelo, querido irmão. Seu pai sofria pela a morte do seu antigo marido, isso é fato, mas a dor que que ele sentia é anterior ao luto e tem outra causa.
— E como você sabe disso? — o príncipe estreitou os olhos, desconfiado.
— Eu uso o cérebro, sabe? Essa massa que temos na nossa cabeça... Não é só enfeite, sabia? Ao invés de perder tempo treinando com o arco e flechas, devia exercitar outros músculos...
— Elladan. — Fili interrompeu sabiamente o elfo moreno antes que este complicasse ainda mais as coisas.
— O que ele fala é verdade? E por que ele me chamou de irmão?
— Pelo visto, sua amiga elfa não te informou de todo o plano. — concluiu o príncipe herdeiro de Erebor com um suspiro.
— Digamos que minha situação me impedia de ter muitas visitas e mesmo quando conseguiamos nos encontrar, só era possível trocar umas miseras palavras. Só fiquei sabendo que você iria me resgatar e que tinham um plano bem organizado... — a crítica era facilmente detectada na ênfase que Legolas deu a palavra bem o que fez Fili dar um sorriso torto.
— Elfos e anões podem não ter uma relação de estreita amizade, mas somos aliados. Apesar de sua prisão não houve atraso e nem interrupções do comércio ou dos tratados entre as duas nações. Thranduil não pretende iniciar uma guerra contra Erebor, ele deseja apenas isolar o seu filho... Protegê-lo do futuro.
O príncipe elfo demonstrava uma clara surpresa com o que foi relevado por seu amante. Presumira que seu pai tivesse fechado as fronteiras, colocado toda a culpa nos anões... Enfim, feito um maior escarcéu. Saber que o rei de Mirkwood não quebrara a aliança lhe causava alivio - além de um somatório de sentimentos contraditórios. Será que conhecia de verdade o seu pai? Não conseguia entender os medos que afligiam o seu progenitor ao ponto de envia-lo para o cárcere?
— Não temos tempo para esse falatório. — reclamou Elladan — Se não repararam, estamos em meio a uma perseguição!
— Tem razão. — Fili pegou o cabo de sua espada, desembainhou a mesma e apontou com a lâmina a passagem aparentemente segura — Vamos! Que Mahal nos proteja!
Drogo sentiu ser puxado pela a gola da sua camisa, logo estava ao lado de Kili.
— Fique por perto, sim? Fica mais fácil de eu...
— Sabe que também estou aqui para te proteger, meu caro anão! — ao falar isso brandiu sua própria espada, para assombro do outro príncipe.
— Muito bem, mestre hobbit! — parabenizou Nori, mas logo se calou ao ver outro olhar Durin sendo lançado a si. Sim, os sobrinhos de Thorin tinham herdado o famoso olhar, apesar dos mesmos ainda não terem noção do fato.
— Drogo...
— Nem tente me fazer desistir, Kili.
— Mas...
— Shhh! Estamos ficando para trás! — nisso, seus grandes pés peludos aceleraram, deixando para trás um anão moreno com a boca aberta, ainda tentando formular um bom argumento. Bifur, que estava próximo, fez alguns gestos rápidos com as mãos que geraram um rápido rubor no rosto do jovem anão.
— Nada de comentários indiscretos, primo. O garoto nem barba ainda tem! — riu Bofur dando uma tapinha camarada no ombro do anão mudo; rapidamente, Kili levou a mão ao rosto e resmungou algo sobre a existência de seus pelos faciais e sugeriu que os companheiros deveriam estar com problemas de visão — Não tem nada de errado um hobbit ter mais espirito de luta que um guerreiro anão.
— Ter espirito é uma coisa, habilidade é outra! — resmungou Kili começando a correr para ficar ao lado do seu pequeno guerreiro hobbit.
Bifur fez mais uma indicação com os dedos, arracando uma gargalhada do anão minerador.
— Oh! Sim... Acredito que Drogo vai dar muito trabalho ao nosso príncipe Kili, dentro e fora do quarto. Assim como mestre Bilbo faz com o Thorin! Agora vamos parar de fofocar pois temos alguns traseiros pomposos élficos para chutar!
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Os dois reis sob a Montanha
FanfictionExistia uma aliança antiga entre o reino de Erebor e o Condado, em que o Reino dos Anões era responsável por proteger os hobbits. Contudo, o que o pequeno e pacífico Condado poderia oferecer? Do que se trata realmente essa aliança? Ela poderá ser...