Capítulo 3: Três toques seguidos...

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Acordei cedo na manhã seguinte, porque como sempre me sentia transbordando de ansiedade, não importava o motivo grande ou pequeno. Poderia ser a coisa mais idiota possível, mas eu iria me sentir nervoso pra fazê-la. Mas dessa vez eu ia literalmente atravessar a cidade pra ir pro meio do nada, na casa de uma colega que eu não fazia ideia que existia.

—Alguém madrugou hoje. —Comentei, encontrando Victor na cozinha logo cedo. Ele ergueu os olhos pra mim, parecendo estar morrendo de sono. —O que foi, Millie te colocou pra dormir no sofá?

—Tenho prova agora cedo. Quero estudar antes de sair. Por que você está acordado e arrumado tão cedo? —Victor me encarou com as sobrancelhas erguidas e um pouco desconfiado. —Não está indo pra academia a essa hora, está?

—Não, estou indo pra casa da minha colega fazer aquele trabalho que eu falei ontem. —Afirmei, caminhando até a geladeira para roubar alguma coisa pra comer antes de ir. —Ela mora longe pra caramba, no meio do nada.

—Melhor tomar cuidado então. —Victor deu um soquinho no meu ombro ao passar por mim, me fazendo erguer as sobrancelhas e o olhar por cima do ombro, vendo-o sair da cozinha. —Lembra do que aconteceu com a gente da última vez que conhecemos alguém que morava longe?

Estremeci com a lembrança de Victor e eu tentando ajudar Natalie a se livrar do ex tóxico, que envolvia uma arma, um cara morto e uma casa depois de um bosque.
Não foi uma época muito agradável, porque precisamos fazer acompanhamento psicológico e os meses seguintes foram tensos, porque eu costumava ter pesadelos com aquele cara algumas vezes e acabava acordando suando frio.

Mas isso já ia fazer dois anos. As coisas melhoraram em relação a isso. Parei de ter pesadelos depois de alguns meses e eu e Victor fomos liberados de qualquer terapia, apesar de eu achar que meu melhor amigo precisava muito de um psiquiatra. Natalie também conseguiu deixar a lembrança do ex pra trás, mesmo depois de todo trauma que ele a causou. Fiquei um pouco surpreso até com o rumo que as coisas levaram pra ela depois disso.

—Vou te mandar o endereço dela. —Falei um pouco alto para que Victor ouvisse, porque ele já estava entrando na sala. —Três toques seguidos...

—E eu chamo a polícia. —Victor completou, me fazendo soltar uma risada nervosa.

Nós três tínhamos um acordo sobre cuidarmos uns dos outros, já que morávamos juntos, em uma cidade na qual não tínhamos crescido. Sempre avisávamos quando íamos sair pra um lugar novo que o outro não conhecia. E caso alguma coisa desse errado, ligávamos e deixávamos tocar três vezes, então o outro saberia que precisava ligar pra polícia. Isso nunca aconteceu, mas é sempre bom se prevenir.

Soltei um suspiro pesado e roubei uma maçã das coisas de Millie, antes de pegar as chaves da moto e sair de casa. Ainda estava amanhecendo quando peguei a estrada, seguindo o mapa no meu celular até a casa de Abigail, saindo da cidade até uma área de campos e florestas, que seguiam a linha do asfalto por todo caminho. O sol nasceu atrás de mim, me seguindo aos poucos, enquanto eu sentia o vento bater contra meu rosto, mesmo com o capacete.

Uma hora depois eu estava chegando até um imenso portão de metal cercado por muros altos. Estacionei a moto na frente do portão, tirando o capacete para encarar o ar solitário que aquele lugar tinha, antes de caminhar até o interfone em uma das pilastras do muro. Nesse momento minha ansiedade já estava explodindo, muito mais forte do que o normal.

Pois não? —Uma voz atendeu o interfone depois de dois toques, enquanto eu esfregava minhas mãos na calça, sentindo um frio na barriga, que só piorava meu nervosismo.

—Aqui é o Julian... —Falei, engolindo em seco, com a respiração presa na minha garganta. —Julian Patton. Sou colega de turma da Abigail. Marquei com ela de fazermos um trabalho juntos hoje cedo.

O interfone desligou, me fazendo arquear a cabeça para trás de surpresa e confusão, porque não estava esperando que eles desligassem na minha cara assim. Olhei para o portão quando ele emitiu um barulho, antes de ranger no instante que começou a se abrir. Abri um sorriso nervoso, voltando para a moto, antes de arrancar com ela e passar pelos portões, que logo se fecharam atrás de mim.

O caminho era de terra, com uma fileira de árvores pelo caminho, que davam a visão de uma imensa casa no horizonte. Meu queixo quase caiu, porque a garota só podia ser muito rica pra morar em um lugar como aquele. A casa parecia ter três andares, com algumas torres, além de parecer mais um castelo antigo do que uma casa de fato.

—Nossa... —Soltei um suspiro baixo, com meus olhos engolindo toda aquela casa, além dos campos e do lago no início da linha das árvores, com a sombra do sol logo atrás. Parecia uma pintura e não algo real, de tão impressionante que tudo era.

Estacionei a moto na lateral da casa, praticamente pulando da moto para tirar o capacete e olhar tudo mais atentamente. As árvores estavam tomadas por aquele tom laranja queimado do outono, enquanto o lago refletia as árvores, as nuvens e o sol, dando um aspecto ainda mais irreal pra tudo aquilo. Era um lugar bonito demais pra se morar.

Desviei os olhos para a casa, sentindo meu coração martelando dentro do peito, ao observar todas aquelas janelas, varandas e as plantas trepadeiras que subiam por algumas paredes, cobrindo tudo com verde e laranja. Os muros vivos que separavam os jardins da casa do restante dos campos faziam parecer que a casa tinha viajado no tempo, vindo de uma época muito distante da que estávamos.

Meus olhos se demoraram em cada detalhe, antes de pararem sobre uma das varandas na casa, onde encontrei uma garota de pé. Paralisei no mesmo segundo, sentindo o calor se espalhar pelo meu peito, como uma reação química instantânea no instante que nossos olhares se encontraram, me deixando muito ciente de quem ela era.

Os cabelos escuros estavam presos em uma longa trança sobre seu ombro, enquanto ela brincava com os próprios dedos ao me observar, com os olhos claros parecendo brilhar em curiosidade e ansiedade, ao mesmo tempo que as bochechas estavam pintadas com o tom mais bonito de vermelho, a deixando absolutamente linda.



Continua...

Como conquistar Abigail Brooks / Vol. 4Onde histórias criam vida. Descubra agora