Capítulo 27: Não sou seu pai.

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Abigail estava me esperando da mesma forma que o outro dia e conseguimos sair sem chamar atenção dos seguranças, com a ajuda de Steven e sua tranquilidade de dar inveja. Depois que nos separamos de Steven, eu e Abigail pegamos a minha moto, rumo a casa de Billy Adams. Abigail estava surpreendentemente silenciosa, com a tensão exalando do corpo.

Eu meio que estava torcendo para as coisas com o pai dela darem certo, para que eu não precisasse mais pular o muro para vê-la. Ou precisar fazer isso no meio da madrugada, porque sua mãe era uma esquisita superprotetora. Mas principalmente, eu queria que desse certo porque isso deixaria Abigail feliz.

Ela estava usando meu gorro de novo, de uma forma que me deixou absurdamente feliz quando a vi essa noite. Sabia que Abigail e eu estávamos iniciando uma amizade, mas era impossível não me sentir atraído por ela. Mas eu iria deixar isso de lado para não estragar as coisas entre nós dois ou a deixá-la desconfortável. Além de eu ser um covarde no quesito mulheres. Davine tinha me dado um pouco de confiança, antes de arrancá-la de mim de uma forma bem dolorosa.

—Estou começando a achar que não deveria ter vindo. —Abigail comentou, enquanto descíamos da moto, na frente da casa de Billy. —E se ele não me queria mesmo? Não posso força-lo a falar comigo ou...

—Nos podemos dar uma volta na quadra e depois voltar aqui. Não precisamos falar com ele agora. —Falei, vendo os olhos de Abigial na fachada da casa. As luzes estavam acesas lá dentro, deixando claro que ainda estavam acordados. Mas a hesitação estava muito visível no rosto de Abigial. —Pode apenas olhá-lo de longe se quiser. Ou... eu falo com ele. Você nem precisa aparecer.

Abigail ficou em silêncio, parecendo tão perdida naquele momento, que tudo que eu queria fazer era puxa-la para os meus braços e não a soltar mais. Ela não merecia passar por todas essas coisas que a mãe a fazia passar. Ela deveria se sentir segura e amada, não perdida e confusa.

—Isso tudo parece errado. —Abigail se virou para me encarar, soltando uma respiração pesada com os lábios trêmulos. —Não sei... mas tudo parece tão errado na minha vida, Julian. Depois da ultima noite, só consigo pensar se sou mesmo a pessoa que eu vejo quando me olho no espelho, ou uma farsa.

—Você não é uma farsa. —Retruquei, erguendo a mão para tocar o rosto dela, vendo-a fechar os olhos na mesma hora e inclinar mais o rosto sobre a minha mão.

—Você não sabe disso. Nem eu sei. Tudo que eu acreditava vinha das coisas que a minha mãe falava. Mas não era real, né? —Ela balançou a cabeça negativamente, apertando os lábios em uma linha fina. —Nem sei se conheço minha própria mãe. Não entendo porque ela me deixava trancada dentro de casa. As coisas não são como ela falava.

—Abby... —Parei de falar, olhando por cima do ombro dela quando a porta da casa se abriu e um homem saiu de lá de dentro, olhando na nossa direção com uma expressão confusa. Abigail se virou rapidamente, parecendo assustada ao vê-lo ali.

O homem não parecia ter mais de 45 anos, com cabelos castanho claro e olhos escuros, além das bochechas e do queixo cobertos por uma barba do mesmo tom dos cabelos. Procurei por qualquer mínima semelhança com Abigail, mas ele parecia simplesmente um estranho.

—Posso ajudar? —Indagou, soando um pouco desconfiado, enquanto analisava nós dois. Abigail se encolheu na minha frente, como se esperasse que ele soubesse quem ela era. —Vi que olharam pra minha casa. Precisam de alguma coisa?

—Ah... —Olhei para Abigail, vendo que ela o encarava fixamente, parecendo ter perdido a capacidade de falar. —O senhor é Billy Adams? —Ele assentiu com a cabeça, passando a mão sobre o pijama azul que estava usando, como se estivesse prestes a ir se deitar. —Estamos aqui por causa de Kristie Brooks. O senhor foi casado com ela, não foi?

—O que? —A expressão dele endureceu e ele deu um passo para trás, como se estivéssemos entrando em um assunto perigoso. Sua hesitação fez Abigail dar um passo à frente, chamando sua atenção pra ela. —Não vejo Kristie a muitos anos. Não temos mais nenhum contato. Acho que estão falando com a pessoa errada.

—Eu sou filha dela. —Abigail falou, rápido demais, fazendo a expressão do homem desmoronar e se tornar um tanto assustada. —Meu nome é Abigail. Eu só queria falar com o senhor e...

—Você veio aqui pra saber se eu sou seu pai? —O homem a cortou, soando um pouco incrédulo e até mesmo preocupado, se virando para olhar para dentro da casa, como se tivesse com medo que alguém ouvisse a conversa. Então voltou a encarar Abigail, que estava com uma expressão tão esperançosa que partiu meu coração. —Olha, Abigail, não sei o que Kristie disse pra você. Mas não sou seu pai, ok? Não tenho qualquer parentesco com você, posso te garantir isso.

Agora foi a vez da expressão de Abigail desmoronar, como se Billy estivesse arrancando dela a única coisa pela qual ela ainda estava se agarrando. Dei um passo para frente e peguei sua mão, entrelaçando nossos dedos, enquanto ela abaixava o rosto para encarar o chão.

—Mas... eu nasci no mesmo ano que vocês se separaram. Ela disse que... —Abigail parou de falar, comprimindo os lábios, enquanto seus olhos ficavam subitamente vermelhos, como se ela estivesse se segurando para não chorar. —Você tem certeza? Você sabe quem é meu pai? Ela traiu você?

—Você não deveria ter vindo aqui. Ela sabe que veio? —Billy indagou, erguendo as mãos para esfregar os cabelos quando Abigail balançou a cabeça negativamente. —Falar com você pode me trazer muitos problemas, ok? Mas se veio até aqui e ela não sabe, então é porque as coisas estão dando errado para Kristie. Ela jamais deixaria você perambulando por aí sozinha. Se quer mesmo saber, ela não me traiu e nós íamos mesmo ter um filho. Mas ele era um menino.

—Do que está falando? —Abigail indagou, soltando uma respiração incrédula, enquanto dava um passo para trás até suas costas baterem no meu peito. —Quando isso aconteceu?

—Quando? —Ele soltou uma risada nervosa, olhando pela rua, como se conversar com a gente o deixasse tenso. Queria saber que tipo de problemas ele poderia ter só por falar com Abigail. —No mesmo ano que você nasceu. No mesmo dia.

—Isso não pode estar certo. —Abigail sussurrou, enquanto o homem dava alguns passos para perto de nós, a encarando com certa pena.

—Eu gostaria que você não contasse a Kristie que veio até aqui falar comigo. Eu me casei de novo e eu tenho filhos. Só quero paz. Não quero ter mais nada ligado a ela. —Billy afirmou, enquanto olhava fixamente para Abigail, umedecendo os lábios com a língua como se pensasse no que dizer. —Como eu disse, não faço ideia do que ela contou a você. Mas posso te dar uma única certeza, Abigail, eu não sou seu pai e Kristie não é sua mãe. O filho que íamos ter morreu.



Continua...

Como conquistar Abigail Brooks / Vol. 4Onde histórias criam vida. Descubra agora